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Cresce temor de que zika afete cidades como Rio e São Paulo

Claudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, dá entrevista sobre o assunto


	Aedes aegypti: já são 404 casos de microcefalia confirmados desde outubro e mais de 3.600 em análise
 (Luis Robayo/AFP)

Aedes aegypti: já são 404 casos de microcefalia confirmados desde outubro e mais de 3.600 em análise (Luis Robayo/AFP)

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Da Redação

Publicado em 12 de fevereiro de 2016 às 15h55.

A epidemia de zika, associada a um assustador aumento dos casos de bebês com microcefalia, pode chegar nos próximos meses a grandes cidades como Rio e São Paulo, aonde ainda não circulou com intensidade, alertou Claudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.

Com 404 casos de microcefalia confirmados desde outubro e mais de 3.600 em análise, o especialista do ministério da Saúde traçou, em entrevista à AFP, um panorama preocupante, enquanto a ciência estuda, correndo contra o tempo, os vínculos entre o zika e esta má-formação congênita.

A pelo menos três anos do desenvolvimento de uma vacina e a menos de seis meses da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, o combate à microcefalia e ao zika, que levou a OMS a declarar emergência mundial, tem uma única estratégia: atacar o mosquito transmissor, 'Aedes Aegypti'.

A seguir, um resumo da entrevista de Maierovitch com a AFP.

AFP: Qual é o cenário mais inquietante na atualidade?

Claudio Maierovitch: O grande temor em relação ao vírus é que a região central e sudeste do país, que têm verões quentes e grande presença de mosquitos, não tiveram ainda muita circulação do vírus zika.

Esta é a grande preocupação no futuro imediato: que estados muito populosos tenham uma circulação intensa do vírus que não possa ser controlada.

Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais e Goiás, que tiveram grandes epidemias de dengue nos últimos anos, o que nos leva a acreditar que o mosquito está presente de forma muito generalizada e que pode haver transmissão de outros vírus.

AFP: E qual é o plano até que haja uma vacina?

CM: A situação hoje é dramática. O país está muito preocupado. A grande medida adotada pelo governo de imediato foi a união para combater o mosquito (...)

Também é possível que depois de um primeiro ano em que a população brasileira não tinha experiência com o vírus zika, uma parte tenha se imunizado e depois de um tempo, possamos ter uma população mais imune que faça com que o vírus circule menos.

AFP: Está provado o vínculo com a microcefalia?

CM: Estabelecemos de forma conclusiva a relação durante a gravidez (...) a coincidência temporária e espacial, já que nas mesmas localidades onde houve grande circulação do vírus entre seis e oito meses mais tarde nasceram crianças com microcefalia.

Muitas mães que deram à luz crianças com microcefalias lembravam ter tido uma infecção parecida à descrita para o zika: manchas na pele, urticária, febre baixa.

Além disso, identificamos vírus no líquido amniótico de grávidas cujos bebês tinham microcefalia, inclusive constatada dentro do útero e houve casos de crianças microcéfalas que morreram depois de nascer nos que também se identificou.

AFP: O zika pode ser mortal?

CM: Não sabemos se o vírus zika por si só não é capaz de produzir uma doença tão grave que leve uma pessoa à morte ou se a infecção se deu em pessoas que já tinham outras doenças e isto pode ter contribuído para a sua morte. Os casos fatais foram em número muito pequeno quando comparado com as mortes por dengue. No ano passado houve mais de 700 mortos por dengue [863, segundo dados oficiais] durante uma epidemia muito grande, de aproximadamente um milhão e meio de casos de dengue.

O foco da nossa preocupação são as gestantes.

AFP: Que garantias o Brasil oferece para os Jogos Olímpicos?

CM: O estado e a cidade do Rio investiram muito, focando seus esforços em locais onde serão realizados os jogos, nos arredores destas áreas e nas zonas da cidade onde há uma maior infestação de mosquitos. E temos o fator natural que deve ajudar, que em geral julho e agosto [inverno no hemisfério sul] fazem parte de um período em que a infestação de 'Aedes Aegypti' é muito baixa. Praticamente não temos casos de dengue a partir de julho em todo o país.

Os que vêm para as Olimpíadas se alojarão em hotéis com ar condicionado, ficarão em áreas onde a infestação não é muito alta e isto deve tranquilizar os visitantes e os atletas.

AFP: O que os modelos projetam para a epidemia?

CM: O ano passado teve uma curva de transmissão parecida à da dengue, mas durou mais tempo. A da dengue caiu em junho, julho, e a da zika continuou por mais tempo, até julho, agosto. Logo percebemos claramente que diminuiu bastante. No começo do ano, com um clima mais quente, já temos informação de que se está observando um aumento de casos.

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