Brasil

CPI da Covid marca depoimento de Luciano Hang para próxima quarta-feira

Também foi aprovada a convocação da advogada Bruna Morato, representante dos médicos que denunciaram supostas irregularidades do plano de saúde Prevent Senior

 (Tommaso Rada/Bloomberg/Getty Images)

(Tommaso Rada/Bloomberg/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 23 de setembro de 2021 às 11h17.

A CPI da Covid aprovou nesta quinta-feira a convocação do empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan. Ele prestará depoimento na próxima quarta-feira. Também foi marcado o depoimento da advogada Bruna Morato, representante dos médicos que denunciaram supostas irregularidades contra o plano de saúde Prevent Senior, para a próxima terça-feira.

Documentos enviados à comissão indicam que o fato da mãe de Hang ter morrido por complicações devido ao coronavírus foi omitido de sua certidão de óbito. Apenas o senador Jorginho Mello (PL-SC) foi contra a convocação do empresário.

A comissão aprovou ainda requerimento para que a Casa Civil da Presidência da República preste informações sobre o processo de solicitação de exoneração do ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias em outubro do ano passado. Ele acabou não sendo exonerado na época e deixou o cargo apenas em 2021, após denúncias de irregularidades na compra de vacinas de Covid-19.

Hang é apoiador do presidente Jair Bolsonaro e defensor do tratamento precoce com remédios comprovadamente ineficazes para Covid-19. A convocação dele foi pedida pelo relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL). Na sessão de quarta-feira, Calheiros já tinha defendido a necessidade de ouvi-lo.

Ele atacou várias vezes o comportamento de Hang, em especial quanto à internação de sua mãe. Em vídeo publicado em rede social após a morte da mãe, Hang diz que ela havia chegado ao hospital "assintomática" e com 95% dos pulmões comprometidos. Ele sustenta que ela poderia ter sido salva se tivesse começado a tomar antes o "kit covid" sem comprovação científica. A certidão de óbito, porém, não faz menção à doença.

— Um filho que utiliza dessa forma a sua mãe, trata com covid no hospital, com os medicamentos do tratamento precoce. E nós temos comprovação de que ele recomendou a médicos: olha, escondam que a minha mãe foi tratada com cloroquina para não desmerecer a eficácia do plano. Isso é uma coisa macabra, escabrosa, reprovável, repugnante sob qualquer aspecto — disse Calheiros na quarta-feira.

A advogada Bruna Morato já teve uma reunião com senadores da comissão para repassar mais informações. As denúncias são de que a empresa pressionava os médicos a receitarem remédios sem eficácia e de que usava os pacientes como "cobaias". Em entrevista ao GLOBO na quarta, Morato disse que o grupo está disposto a ir até o fim para provar que as informações do dossiê são verdadeiras, mesmo com as ameaças que vem sofrendo após a divulgação das denúncias.

— Eles (os médicos que denunciaram) sabem que a nossa vida vai virar um inferno, mas nós não vamos parar. Vamos até o fim para mostrar que a história que a gente contou é verdadeira. Essas pessoas morreram e o que fizeram nos hospitais é terrível — disse a advogada.

Na quarta-feira, o diretor da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, negou ter pressionados os médicos ou que a empresa fizesse teste com cloroquina. O que ocorreu, afirmou, é que médicos tinham autonomia para prescrever os remédios. Ele disse que havia inclusive pacientes exigindo a prescrição de cloroquina, e que houve termo de livre consentimento em todos os casos. Disse ainda que a Prevent Senior tomou medidas para evitar o contágio, como testagem do profissionais, afastamento de quem estava doente, e um gasto de mais de R$ 80 milhões em equipamentos de proteção individual. Segundo ele, a regularidade da atuação da Prevent Senior foi constatada pelo Ministério Público do Trabalho.

Batista Júnior também negou que a empresa tenha omitido mortes de pacientes que tomaram cloroquina. Afirmou ainda que profissionais já desligados da empresa adulteraram planilha interna da Prevent Senior para dar a ideia de fraude. Mas reconheceu que a empresa retirava da ficha de seus pacientes a informação de que tinham Covid-19 após duas ou três semanas internados. O objetivo disso, segundo ele, era apenas permitir que eles não ficassem mais isolados, e não omitir a doença como causa da morte no atestado de óbito. Mas alguns senadores que são médicos apontaram que tal prática permitia sim que a morte deixasse de ser registrada como tendo sido provocada por Covid-19.

A CPI da Covid ouve nesta quinta-feira o depoimento de Danilo Trento, diretor institucional da Precisa Medicamentos, empresa que intermediou a compra de doses da Covaxin entre o Ministério de Saúde e a farmacêutica Bharat Biotech. O depoimento de Trento será tomado a pedido do vice-presidente da comissão, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), para esclarecer qual o grau de envolvimento dele com Francisco Maximiano, dono da Precisa. Ontem, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), garantiu o direito ao silêncio para Trento, mas manteve a obrigação do executivo de comparecer à oitiva.

  • Fique por dentro das principais notícias do Brasil e do mundo. Assine a EXAME
yt thumbnail
Acompanhe tudo sobre:CPI da CovidLojas Havan

Mais de Brasil

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdermar

As 10 melhores rodovias do Brasil em 2024, segundo a CNT

Para especialistas, reforma tributária pode onerar empresas optantes pelo Simples Nacional

Advogado de Cid diz que Bolsonaro sabia de plano de matar Lula e Moraes, mas recua