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Coronel revela farsa para simular fuga de Rubens Paiva

Raymundo Ronaldo Campos é um dos cinco acusados de envolvimento na morte e ocultação de cadáver do ex-deputado

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Presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, recebe do coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, relatório preliminar sobre o desaparecimento de Rubens Paiva (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, recebe do coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, relatório preliminar sobre o desaparecimento de Rubens Paiva (Antonio Cruz/Agência Brasil)

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Luciana Nunes Leal

Publicado em 26 de maio de 2014 às, 22h03.

Rio - O coronel reformado Raymundo Ronaldo Campos, um dos cinco acusados de envolvimento na morte e ocultação de cadáver de Rubens Paiva, revelou, em depoimento de pouco mais de uma hora ao Ministério Público Federal, detalhes da "farsa" montada por militares do Destacamento de Operações de Informações (DOI) para simular a fuga do deputado, no dia seguinte de sua prisão, em janeiro de 1971.

O militar disse que seria punido se não participasse da encenação, ordenada, segundo ele, pelo então subcomandante do DOI, major Francisco Demiurgo Santos Cardoso, já falecido.

Na denúncia, os procuradores pediram pena mais branda para Campos, por ter colaborado com as investigações.

Na época, ele era capitão e trabalhava seção de busca e apreensão da unidade do DOI que funcionava no batalhão do Exército na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca (zona norte), onde Rubens Paiva foi morto.

"Demiurgo era chefe das equipes de busca (...) Eu não tinha acesso à seção de interrogatório (...) O Demiurgo, com ordem de alguém, resolveu montar operação para dizer que o Rubens Paiva fugiu. Eu fui fazer essa operação cinematográfica", disse o coronel reformado aos procuradores.

Campos disse nunca ter visto Rubens Paiva. "Nem sei como ele era". Campos também falou à Comissão Estadual da Verdade.

No depoimento, o coronel reproduziu a ordem que recebeu.

"Ele (Demiurgo) disse 'pega uma equipe, leva para o Alto da Boa Vista, diga que o prisioneiro fugiu, metralhe o carro para parecer que ele fugiu'. Nós atiramos no carro. Eu e dois sargentos paraquedistas, era a equipe que estava (de plantão) naquele dia. Nunca mais eu os vi. Fomos em um fusca. Saltamos, metralhamos o carro, pusemos fogo no carro e chamamos os bombeiros e a polícia. Quando chegara, o fogo tinha apagado", contou Campos.

O coronel disse que os militares usaram pistolas 45 milímetros e dispararam, cada um, "cinco ou seis tiros".

"Voltamos para o quartel, contamos o ocorrido (...) Alguém escreveu (o relatório da fuga), e eu assinei. Nunca vi Rubens Paiva. Tive que fazer o registro e perguntei 'quem é o cara?'".

"Se eu não fizesse tudo isso, eu seria punido. Eu era capitão, o resto era major, coronel, general, o diabo", afirmou Campos.

Agora denunciado, o coronel disse que, quando o caso Rubens Paiva foi investigado em inquérito aberto em 1986, foi orientado a manter a mesma versão da época da prisão e morte do deputado. Não disse, no entanto, quem deu a ordem.

"Me mandaram recadinhos: 'mantém a história'", revelou. O inquérito foi arquivado em 1987.

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