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Cel. Mello, vice-prefeito eleito de SP: prioridade será guarda atuar pesado na proteção às escolas

Em Nova York para participar de curso na Universidade Columbia sobre estratégias para o combate ao crime organizado, o vice-prefeito eleito comenta o que pretende fazer à frente da maior cidade do país a partir do ano que vem

 (Dayane Reis/Comunitas/Divulgação)

(Dayane Reis/Comunitas/Divulgação)

Leo Branco
Leo Branco

Editor de Negócios e Carreira

Publicado em 13 de novembro de 2024 às 14h36.

Última atualização em 13 de novembro de 2024 às 15h00.

Nova York, EUA* — O futuro vice-prefeito de São Paulo, Ricardo de Mello Araújo (PL), mais conhecido como Coronel Mello, quer ter uma atuação diferente dos vices de gestões passadas. Em vez de assumir uma pasta específica, Mello quer uma atuação global, sobretudo nos assuntos onde a atuação da prefeitura tem mais problemas.

Antes de assumir o mandato, Mello está em busca de referências sobre o que fazer nos próximos quatro anos. Nesta semana, o futuro vice-prefeito está em Nova York para uma semana de estudos sobre segurança pública na Universidade Columbia. O curso é organizado pela Comunitas, organização social dedicada a estudos sobre política pública. 

Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para a chapa liderada pelo atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), Coronel Mello faz parte da terceira geração da sua família a atuar na Polícia Militar de São Paulo. 

Como tenente, trabalhou na cidade de Bragança Paulista, no interior do Estado, e depois na capital. Em 2017, já como coronel, assumiu o controle da Rota, onde ficou até 2019, quando entrou para a reserva. Em 2020, Mello foi indicado pelo então presidente Jair Bolsonaro para comandar a Ceagesp, o maior entreposto de hortifrutis do país. Lá, ficou conhecido por uma administração linha-dura para combater crimes. Em 2023, com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Mello deixou o comando.

Na entrevista a seguir, a primeira depois de eleito, Mello comenta os planos para combater a violência na cidade de São Paulo. Para ele, o maior problema é a sensação de insegurança generalizada. A solução, na visão dele, passa por fazer quem comete crimes de fato cumprir o tempo de prisão. E uma área que terá atenção prioritária será no entorno de escolas em regiões periféricas.

"Quer coisa melhor que ter segurança ao deixar o filho na escola? Hoje, na escola, a criança muitas vezes vai ter contato com o tráfico", diz. "Se a guarda estiver no entorno da escola, não vai permitir o tráfico. A ideia é colocar 100% das escolas com câmeras na área periférica. Não dentro da escola, mas na área periférica, para identificar traficantes, roubos e outras atividades criminosas."

Veja os principais trechos da entrevista.

O que o senhor deve levar deste evento em Nova York para a futura administração?

Primeiramente, gostaria de agradecer ao prefeito pela oportunidade de estar neste evento sobre segurança pública. O que transforma as pessoas é o conhecimento. Às vezes, não é nem a palestra, mas essa interação com as outras pessoas que estão aqui. Cada um tem uma experiência. Com certeza vai ajudar a gente nessa nova etapa na minha vida, de estar à frente junto com o Ricardo na gestão da quinta maior metrópole do mundo, com desafios gigantescos. É uma cidade com tamanho de um país. A gente está chegando contente ao novo mandato porque o Ricardo fez a lição de casa. As contas da administração estão em dia e há muitas entregas. Vou poder contribuir com alguma coisa. A experiência daqui com certeza vou poder levar para a gestão.

Quando o senhor fala em problemas, a que exatamente está se referindo, especificamente no tema de segurança pública?

Quando eu falei problema, falo de todos. Mas vamos aos problemas de segurança pública. Na cidade de São Paulo, a gente tem indicadores muito bons. Alguns inclusive melhores que os de Nova York, mas a sensação de segurança é muito ruim. São pessoas armadas, traficantes presos. Para quem assiste a tudo isso na televisão é chocante. Embora a polícia esteja fazendo o trabalho dela, fica a sensação de insegurança. A sensação de segurança está muito relacionada ao que as pessoas veem. Se eu falar que não tem problema lá em São Paulo, é mentira. Temos muitos problemas. Mas os nossos indicadores não são ruins. A questão é a comunicação. Precisamos melhorar a comunicação e mostrar como a cidade está lidando com o tema. 

O tema da segurança pública está em alta. O governo federal quer levar adiante uma PEC para estruturar a questão no plano nacional. É uma boa ideia?

Essa discussão toda da PEC de segurança não ataca o problema. Se a gente quisesse resolver o problema de segurança seria muito mais simples. Se resolve com lei. Hoje o crime criminoso não acredita na lei. Ele é preso, depois solto, preso de novo, solto de novo. Ele não tem medo da lei. Ele tem medo da morte. A gente que atua nas forças de segurança conversa com criminosos. O que a gente precisa ter é lei. Vou dar um exemplo. Se a pessoa comete um crime e a pena mínima é quatro anos, ele tem que saber que só vai sair da cadeia depois de quatro anos. Hoje não acontece isso. Tem as progressões, saídas, benefícios. 

A saída, então, seria um endurecimento das leis?

Seria acabar com esses benefícios que hoje os presos têm. Não adianta acabar com a saidinha só. Tem que acabar com a progressão, com a saidinha. Ou seja, o cara cometeu um crime que é quatro anos, só daqui a quatro anos que a gente vai ver essa pessoa nas ruas. O dia que fizer isso, muda a segurança do país. Falo como uma pessoa que está há 32 anos lidando com o tema da segurança pública. Todo o resto é conversa fiada. O que leva, às vezes, uma pessoa num evento lá na Paulista a subtrair 50 celulares dos outros? Ela não tem nem medo. O dia que mudarem a legislação em relação a isso a coisa mudará.

O que é prioritário para a segurança na cidade de São Paulo? O que será feito na Cracolândia, por exemplo?

Já tem muita coisa sendo feita lá, isso é importante sinalizar.  O problema da Cracolândia vem do passado. Para poder contribuir com o tema, a gente precisa sentir o tema. Como vice-prefeito vocês vão me ver muito na rua. Vou ser muito operacional. E quero conversar com esses dependentes, quero sentir o que está acontecendo. Ver onde evoluiu e onde a gente pode chegar. Não quero neste momento dizer ‘vou fazer assim, vou fazer isso’. Já andei conversando com especialistas na área de dependência química para entender um pouquinho sobre o tratamento, qual o tratamento que se considera aceitável e adequado para realmente cuidar das pessoas e poder falar com propriedade. Mas uma coisa é certa: a integração do governo de estado e prefeitura é espetacular e a ideia é integrar ainda mais essas forças.

Qual o papel da guarda municipal nos próximos anos? 

O maior patrimônio que uma família tem são os seus filhos. Então, vou dar uma prioridade para a guarda atuar mais pesado nas escolas. Você quer coisa melhor que ter segurança ao deixar o filho na escola? Hoje, na escola, a criança muitas vezes vai ter contato com o tráfico. Se a guarda estiver no entorno da escola, não vai permitir o tráfico. A ideia é colocar 100% das escolas com câmeras na área periférica. Não dentro da escola, mas na área periférica, para identificar traficantes, roubos e outras atividades criminosas. A guarda municipal deve se envolver nisso. Além disso, queremos incentivar a atividade física na prevenção do crime. Ocupar o tempo do jovem de 12 anos, por exemplo, para ele não ter contato com o crime. No período do dia o jovem estuda, no outro vai para algum esporte. Quem tem alto rendimento no esporte a ideia é encaminhar para virar atleta. E os que não têm talento a gente mantém também no esporte. O objetivo principal não é o alto rendimento, mas principalmente para termos bons cidadãos. Falei da guarda nas escolas, mas também nas comunidades, levando projetos da prefeitura para a comunidade. A prefeitura tem vários projetos que às vezes quem está na comunidade nem sabe que está acontecendo. Através da guarda, através das secretarias envolvidas, quero fazer isso tudo chegar às comunidades. Tudo isso vai trazer segurança também nas comunidades, mas também projetos sociais.

Seu papel na futura administração vai ser ligado a alguma área específica? 

Não tem nada definido. Gostaria de estar atuando em todas as áreas, exatamente exercendo a função de vice-prefeito. Quero ser uma espécie de vice-presidente de uma empresa para ajudar de forma global. Se tiver hospital que não está funcionando bem, por exemplo, quero ir lá verificar o que está acontecendo, por que não está funcionando bem e fazer funcionar. Alguma subprefeitura está fraca? Quero ir lá, entender e fazer funcionar. Uma visão mais estratégica e global. Tem gente que pensa que o vice-prefeito tem de assumir uma secretaria. Penso o contrário. Tenho que realmente estar ajudando. Minha função é ajudar o Ricardo para daqui quatro anos a cidade ficar melhor. Quero deixar um legado. Por onde passei, deixei alguma coisa. Foi assim na Rota, na Polícia Militar e no Ceagesp.

Na campanha eleitoral, repercutiu muito a sua declaração de que a abordagem policial na periferia é diferente da feita nos Jardins. O senhor falaria novamente?

Se pudesse voltar atrás, falaria do tema de maneira diferente. Entendo que partes da imprensa, ao não verem nenhum problema na minha trajetória, nenhum crime, roubo, nada, eles pegaram essa declaração e transformaram num escândalo. Foi isso que fizeram. Não sou racista. Nunca tratei as pessoas de maneira diferente. Já fiz trabalho em comunidades, inclusive com prêmios. Entrei em comunidades em que a polícia não entrava. Minha abordagem foi com esporte e livros. Na base comunitária da polícia, tinha leitura para a criançada. Tinha esporte para os mais velhos. Nunca fui racista. O que quis dizer naquela ocasião é que existem abordagens policiais diferentes de acordo com o contexto. Uma abordagem policial com duas pessoas é diferente do que com três, por exemplo. Se a abordagem é na Avenida Paulista, com muitos prédios, o policial tem que ficar preocupado com algum risco vindo do alto. É diferente de um lugar sem prédios. A abordagem na praia é diferente da [feita] no meio do mato. E para cada abordagem existe um procedimento operacional padrão, para padronizar esse tipo de ocorrência. Numa comunidade em que falta luz, em que não tem chão, que é palafita, por exemplo, tem que ter algumas cautelas diferentes para sobreviver e realizar o procedimento. O que quis dizer foi isso. Então, existe uma diferenciação para cada área, mas isso não tem a ver com racismo. E a má imprensa quis jogar para esse lado e deturpou o que eu disse. 

*O jornalista viajou a convite da Comunitas

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