Como o impasse sobre MPs no Congresso prejudica o governo?
Comissão da MP da reestruturação ministerial foi adiada novamente após pedido de vistas de parlamentar
Publicado em 12 de abril de 2023 às 19h23.
Última atualização em 12 de abril de 2023 às 19h45.
O impasse em torno da tramitação de medidas provisórias (MP) segue travando a pauta do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional. Nesta quarta-feira, 12, por exemplo, a comissão mista que analisará a medida provisória da reestruturação da Esplanada dos Ministérios, tida pela liderança do governo como uma das mais sensíveis por causa do prazo de validade da MPs – caduca em 50 dias –, teve o início dos trabalhos adiado novamente.
As MPs são um dos instrumentos mais comuns utilizados pelo poder Executivo. Quando editadas, já têm força de lei – situação que dura 60 dias com possibilidade de mais 60 dias de extensão. As normas precisam tramitar na Câmara e no Senado para se transformarem em lei. Caso contrário, caducam; isto é, perdem valor jurídico.
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No pior dos cenários, caso o impasse persista sem solução, o governo pode ver caducar medidas que basicamente organizam a sua estrutura e que estruturam programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. Um cenário extremamente improvável, é verdade, mas que deixa em alerta o Planalto. Se medidas provisórias simples não vão adiante, como ficarão medidas mais complexas como o arcabouço fiscal e a reforma tributária?
O motivo oficial do adiamento desta quarta, 12, foi um pedido de vista do deputado Danilo Forte (União-CE) quanto ao cronograma de trabalho apresentado pelo relator da proposta, o deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL). Segundo Forte, não seria possível aceitar a apresentação do plano de trabalho por causa da ausência de senadores na comissão. Em poucas palavras, escancarou o impasse sobre o rito das MPs:
“Nós precisamos defender o processo que estávamos defendendo na Câmara, que era mais ágil”, disse. “O presidente [ Arthur ] Lira tinha razão. Se discutiu tanto pela instalação das comissões mistas, mas elas estão parecendo sanduíche de merenda de escola. É lamentável que só tenha deputados e não tenha presença de senadores.”
Vai e volta
Na terça-feira, 11, quando as três comissões (MP da reestruturação da Esplanada, do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida) deviam ter sido instaladas – apenas a última teve todo o processo concluído –, senadores reclamaram da ausência dos deputados. A ausência foi classificada como “boicote” à instalação dos colegiados para a análise das medidas, como defende o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Nesta quarta, o vice-presidente do colegiado, o deputado Marco Bertaiolli (PSD-SP), até tentou manter a sessão e votar o plano de trabalho ainda hoje. “Se nós não aprovarmos o plano de trabalho fica comprometida a própria sessão que está marcada para amanhã [ quinta, 13 ] as 10h”, defendeu, sem êxito.
A 50 dias de caducar
Para pacificar a situação, o líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), interveio, pedindo que fosse acatado o pedido de vista do deputado Danilo Forte, uma vez que se trata de um mecanismo regimental.
Randolfe, no entanto, relembrou que a MP já completou 70 dias, faltando apenas mais 50 para que ela perca sua validade.
“De todas as MPs que precisam ser analisadas, essa é a mais sensível porque pelo instrumento constitucional não é possível reeditar uma medida provisória”, pontuou Randolfe.
Uma medida provisória tem validade de 60 dias – e possíveis 60 dias de extensão, totalizando 120 dias – antes de caducar. “Nós temos 50 dias para que essa medida seja votada na comissão, votada no plenário da Câmara e depois no plenário do Senado”, ressaltou.
MP da Esplanada: parecer no dia 25/4
Após o impasse, e a intervenção do líder governista, ficou determinado que a comissão será retomada na quinta-feira, 13, para a aprovação do plano de trabalho. Às 10h30 o colegiado pretende dar início a uma audiência pública com representantes da Casa Civil e do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, que consta no plano de trabalho. Os nomes dos representantes das pastas, no entanto, não foram divulgados.
O colegiado realizará duas audiências públicas. A de amanhã, com a Casa Civil e o Ministério da Gestão. E a próxima marcada para o dia 18 de abril, que deverá ouvir representantes da sociedade civil, que segundo o relator da MP, Isnaldo Bulhões, serão escolhidos a partir da indicação dos membros do colegiado.
Já o parecer deve ser apresentado e votado no dia 25 desse mês. Após a votação no colegiado a medida será analisada pelo plenário da Câmara e depois pelo o do Senado.
MP do Bolsa Família
A comissão que tratará do Bolsa Família também foi instalada nesta terça-feira, 11, mas foi suspensa pelo senador Fabiano Contarato (PT-ES), presidente do colegiado, devido à ausência de parlamentares.
Deveria ter acontecido nova reunião nesta quarta-feira, 12, que foi novamente postergada. A nova sessão está marcada para quinta, 13, às 11h, quando deve ser apresentado o nome do relator para a medida, e o plano de trabalho.
Editada pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no início de seu mandato, a MP trouxe de volta o nome Bolsa Família, que havia sido substituído por “Auxilio Brasil” no último ano da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Entre as mudanças na reformulação, o governo estabelece novos valores a serem acrescentados ao programa. Além dos R$ 600 de benefício, o programa passou a contar com um acréscimo de R$ 150 para cada criança de zero a 6 anos de idade. A partir de junho, haverá um adicional de R$ 50 para cada integrante da família com idade entre sete e 18 anos incompletos e para gestantes
Entenda o impasse no Congresso por trás da tramitação das MPs
A instalação desses colegiados tem criado polêmica nas últimas semanas. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, inicialmente queria o fim das comissões mistas, com votação das MPs diretamente no plenário de cada Casa – primeiro na Câmara, depois no Senado –, como ocorreu na pandemia, o que na avaliação dele daria mais celeridade ao processo.
Já o presidente do Senador, Rodrigo Pacheco, determinou em decisão unilateral o retorno dos colegiados, com a justificativa de que a emergência sanitária havia acabado e, por isso, era necessário retomar o rito previsto na Constituição.
Houve uma tentativa de Lira de reverter o quadro. Ele enviou um ofício ao chefe do Senado o para pedir que a decisão fosse tomada em uma sessão conjunta do Congresso Nacional. Num outro momento, Lira recuou e propôs manter as comissões mistas, mas com uma mudança na composição, hoje paritária entre as duas Casas, que passaria a ser de um senador para cada três deputados.
As lideranças partidárias no Senado também não foram receptivas à proposta. Na semana passada Pacheco anunciou que os senadores aceitariam apenas estabelecer prazos para a análise das MPs nas comissões mistas, mas não a mudança na composição, que, na visão dele, causaria desequilíbrio no processo legislativo.
Por fim Arthur Lira, argumentou que não haveria falta de equilíbrio porque deputados e senadores, nesse caso, votariam de forma separada nos colegiados, com a necessidade de aprovação das MPs nas duas Casas, tanto nas comissões, quanto no plenário.
Lira afirma também que o modelo defendido por ele é mais democrático, porque a discussão não fica restrita a uma pequena parcela de parlamentares. Isso porque as comissões mistas (compostas de 13 deputados e 13 senadores), não têm prazo para concluir a análise das MP, podendo praticamente esgotar os 120 dias e deixando o conjunto de deputados e senadores sem tempo para analisar as propostas.