EXAME Fórum Sustentabilidade: Carlos Fávaro, vice-governador do Mato Grosso; Justiniano Queiros Neto, do programa de Municípios Verdes; Adalberto Veríssimo, do centro de pesquisa Imazon e Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira.
Vanessa Barbosa
Publicado em 28 de novembro de 2016 às 20h03.
Última atualização em 28 de novembro de 2016 às 21h33.
São Paulo – O agronegócio é um dos motores de crescimento do Brasil, mas historicamente os avanços no campo têm ocorrido às custas do meio ambiente.
Não precisa ser assim. Com compromisso político, incentivos bem alocados e participação social é possível conciliar os progressos do setor com ganhos socioambientais e econômicos efetivos.
Como garantir esse “ganha-ganha” foi uma das questões-chave discutidas no EXAME Fórum Sustentabilidade, realizado nesta segunda-feira (28), em São Paulo.
Bons exemplos não faltam. Outrora vilã na lista negra do desmatamento, a cidade de Paragominas, no Pará, é prova de que fazer a transição de uma economia baseada na destruição de florestas para uma baseada na preservação é possível.
A transformação começou de baixo, a partir de um pacto social para persuadir os agricultores de que preservar também dá dinheiro. Paragominas resolveu ser o primeiro município do Pará a monitorar e fiscalizar o desmatamento, e também a pagar pelos serviços ambientais fornecidos pelas florestas.
A partir da experiência local, surgiu um programa mais amplo no nível regional e com potencial de inspirar ações em outros países.
“Os moradores locais costumam ter uma posição hostil em relação às políticas ambientais, como se elas fossem entrave ao desenvolvimento local. Mas com o tempo percebem que a degradação pelo desmatamento acaba asfixiando a própria economia”, observou Justiniano Queiros Neto, secretário extraordinário do programa de Municípios Verdes do Pará, que busca dialogar com a sociedade e com os órgãos locais para construir essa visão e fortalecer a gestão ambiental local.
Esse é o caminho promissor que também tem sido perseguido pelo Mato Grosso. O estado é o maior produtor de soja, de algodão, de milho e é dono do maior rebanho bovino do país, o que coloca a questão: é possível ser gigante assim na produção e ao mesmo tempo garantir a preservação ambiental?
Carlos Fávaro, vice-governador do Mato Grosso, disse acreditar que, com sincronismo de ações e ideias, é possível sim, produzir e preservar, e destacou os avanços nesse sentido, como a redução do desmatamento em 90% em relação aos níveis de 2004, conseguido graças à intensificação do monitoramento e mais fiscalização.
Não para aí. “A redução em 2016 foi de 19%, e vai ao encontro da meta estadual de reduzir a zero o desmatamento em 2020. Para o ano que vem nossa meta é reduzir de 30 a 35%”, declarou Fávaro.
Para cumprir com a promessa, o estado criou recentemente o “Comitê Estadual da Estratégia PCI: Produzir, Conservar e Incluir”, ou simplesmente “PCI”, que tem como objetivo acompanhar o cumprimento das metas apresentadas na 21ª Conferência Global do Clima (COP 21), realizada em Paris, na França. “Estamos emprenhados em colocar as propostas em prática”, disse Fávaro.
O Comitê PCI terá a participação de instituições privadas e da sociedade civil. “ Vamos fazer um grande esforço para criar a uma grande classe média rural, inserindo pequenos agricultores no processo, com acesso a rede técnica especializada e apoio na regularização fundiária”, afirmou o vice-governador do Mato Grosso.
Oportunidades
De acordo com Adalberto Veríssimo, co-fundador e pesquisador sênior do centro de pesquisa Imazon, são várias as oportunidades para avançar na gestão sustentável do meio ambiente no Brasil.
“Quem se posicionar, seja estado, municípios ou empresas vai ter vantagens comparativas”, afirmou, destacando que o Brasil perdeu a capacidade de ousar.
“A meta do brasil para acabar com o desmatamento só em 2030 é risível. Na minha opinião, o Brasil se acomodou, e isso se reflete na retomada do desmatamento na Amazônia”, criticou o pesquisador do Imazon.
Ele defendeu que a Amazônia pode perseguir meta mais ousada. “Não podemos nos dar o luxo de pensar que a crise não é momento de ousar e inovar, o Brasil tem parte expressiva do dever de casa feita, mas muita ainda por fazer”.
É verdade que o Brasil fez um esforço sem precedentes na redução do desmatamento, mas, hoje, o patamar ainda está alto, da ordem de 6 mil quilômetros quadrados por ano, de acordo com o especialista.
“Há uma pressão forte do mercado para redução do desmatamento da cadeia produtiva. Existe pressão por transparência e um grande potencial para avançar no reflorestamento e restauração”, disse.
Para Gustavo Junqueira, presidente da Sociedade Rural Brasileira, nos próximos anos, os avanços em sustentabilidade no campo estarão cada vez mais atrelados à tecnologia. “Hoje, implantar 12 milhões de hectares de reflorestamento custa, em média, de 8 mil a 12 mil reais por hectare”, observou. “Isso é muitas vezes mais caro do que valor da terra comercializada hoje. A tecnologia vai ter que entrar pesado para reduzir esses custos”, afirmou.