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Com polarização, eleitores brasileiros se frustram com implosão do centro

O resultado disso é que uma das candidaturas favoritas do mercado, a de Geraldo Alckmin (PSDB), está se desidratando

Candidatos: polarização faz com que eleitores não se identificam com nenhum dos pólos (Patricia Monteiro/Bloomberg/Bloomberg)

Candidatos: polarização faz com que eleitores não se identificam com nenhum dos pólos (Patricia Monteiro/Bloomberg/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2018 às 14h50.

A disputa presidencial brasileira caminha para um embate entre a esquerda e a direita, e os candidatos de centro estão perdendo aliados, deixando frustrados e perplexos milhões de eleitores que não se identificam com nenhum dos pólos.

O apoio ao ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) mais que dobrou nas últimas duas semanas. Ele está se aproximando do líder nas pesquisas, o capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL), candidato de extrema direita que foi esfaqueado num comício no início do mês passado. Em um provável segundo turno entre os dois, Haddad teria leve vantagem, segundo as pesquisas.

De acordo com a última pesquisa MDA/CNT, publicada no domingo, Bolsonaro lidera com leve vantagem o primeiro turno, com 28,2 por cento de apoio, à frente de Haddad, com 25,2 por cento, um empate estatístico, dada a margem de erro da pesquisa, de 2,2 pontos percentuais.

No segundo turno, Haddad venceria Bolsonaro, com 42,7 por cento contra 37,3 por cento. A pesquisa foi realizada entre 27 e 28 de setembro com 2002 entrevistas em 137 cidades.

O resultado disso é que uma das candidaturas favoritas do mercado, a de Geraldo Alckmin (PSDB), está se desidratando em meio a debandada de aliados que migram silenciosamente para candidatos mais competitivos, segundo três parlamentares ligados à coligação do tucano que falaram sob condição de anonimato.

O senador Lasier Martins, do PSD, um dos partidos dessa coligação, disse que, se as tendências atuais se mantiverem, ele apoiará Bolsonaro no segundo turno para derrotar Haddad.

"Um candidato é sofrível e o outro é terrível", disse Martins em entrevista por telefone. "Lamentavelmente, a radicalização atual não confere nenhuma esperança boa para o país, mas é o que temos."

Essa resignação está ocorrendo em todo o País, dos corredores do Congresso aos botecos de esquina. Apelos para que os brasileiros apoiem um candidato do centro não surtiram efeito, e a esperança dos moderados de que cabeças mais calmas prevaleçam está minguando.

A campanha de Bolsonaro enfrentou alguns ventos contrários nos últimos dias, quando ele contradisse dois de seus principais assessores e viu crescerem movimentos de protesto encabeçados por mulheres e torcidas de futebol nas redes sociais.

Sua taxa de rejeição é a mais alta dentre os candidatos na disputa, 46 por cento, de acordo com uma pesquisa do Datafolha publicada em 28 de setembro. No entanto, espera-se que a influente bancada ruralista endosse Bolsonaro nesta segunda-feira.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se absteve de apontar seu candidato preferido em uma carta aberta, na qual pediu união e escreveu: "ainda há tempo para deter a marcha da insensatez". Elena Landau, uma economista liberal, disse em uma entrevista que seu maior medo é que o Brasil escolha entre dois governos populistas típicos da regressão latino-americana.

Parte do problema é que as revelações da corrupção desenfreada deixaram políticos do establishment sem autoridade moral, de acordo com Monica de Bolle, diretora de estudos latino-americanos da escola de estudos internacionais da Universidade Johns Hopkins.

"Vamos escolher alguém, apoiar essa pessoa e tentar evitar este segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, que é realmente o pior cenário possível para o Brasil, qualquer que seja o resultado", disse De Bolle por telefone. "Você acha que haveria gente suficiente para apoiar essa estratégia, mas isso não está acontecendo."

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