Com greve e crise de refugiados, interventor de Roraima encontra Temer
Antonio Denarium (PSL), aliado de Jair Bolsonaro, foi desautorizado ontem por Temer depois de dizer que fecharia as fronteiras aos venezuelanos
Da Redação
Publicado em 11 de dezembro de 2018 às 06h42.
Última atualização em 11 de dezembro de 2018 às 06h51.
O presidente Michel Temer recebe nesta terça-feira em Brasília o governador eleito de Roraima, Antonio Denariu (PSL), para uma conversa que ganhou subiu de tom nas últimas horas. O encontro, agendado na semana passada, é para tratar não da posse do novo governador, mas de seu papel como interventor do estado, iniciado ontem.
Denarium foi nomeado interventor pelo presidente junto com o general Eduarod Pazuello, novo secretário da Fazenda, e Paulo Costa, secretário da Segurança Pública. Eles assumem no lugar da governadora Suely Campos (PP), afastada em meio a uma crise fiscal e de segurança que levou o governo a avaliar necessária sua substituição mesmo no apagar das luzes do mandato.
O interventor vai a Brasília apresentar seu plano emergencial a Temer, que consiste em pagar os salários atrasados dos servidores, alguns há quatro meses, e pedir antecipações de repasses financeiros da União para o estado. Denarium afirmou que está elaborando um Plano de Recuperação Fiscal, com o levantamento do total de dívidas com servidores e fornecedores. Pretende também fundir secretarias estaduais e extinguir cargos. O governo federal deve transferir 200 milhões de reais ao governo interino.
Os motivos que levaram à intervenção, porém, vêm levando a desencontros entre Brasília e Boa Vista. Segundo o presidente, Suely Campos compreendeu e concordou com a medida, em reunião no último sábado, em Brasília. O estopim foi uma paralisação de agentes penitenciários e o bloqueio de batalhõespelas esposas dos policiais, como protesto pelos atrasos nos salários.
O pano de fundo é a crise migratória em Roraima, um tema central na campanha deste ano. Denarium nunca exerceu cargo público e é agricultor e pecuarista. Foi eleito com a promessa de mais rigor no fluxo migratório de venezuelanos. No domingo, reafirmou a necessidade de fechar a fronteira para solucionar o que chamou de "caos". Temer desautorizou o interventor, ontem, ao afirmar que não há restrição à entrada de venezuelanos, e que o Brasil segue uma política de apoio aos refugiados.
Denarium replicou: disse que a restrição começa em janeiro. E prometeu pagar hoje os salários atrasados. As próximas três semanas serão um teste de fogo para o novo governador, e para seu partido, o PSL, que alcançou relevantes vitórias nas eleições de outubro, mas agora precisa encarar o mundo real de um país com problemas que não têm soluções fáceis.