São Paulo: além da sobrecarga com o crescimento de casos do novo coronavírus e de influenza — que provoca o aumento da procura pelos serviços de saúde —, os profissionais de saúde também estão adoecendo (Eduardo Frazão/Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de janeiro de 2022 às 15h05.
Última atualização em 13 de janeiro de 2022 às 16h12.
Diante de equipes desfalcadas pela covid-19 e o não pagamento de horas extras, médicos da Atenção Primária à Saúde (APS), que atendem pacientes nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), da cidade de São Paulo, vão se reunir nesta noite de quinta-feira, 13, para discutir possível paralisação na próxima semana, conforme afirmou Victor Dourado, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), que representa cerca de 100 mil médicos no estado de São Paulo, sendo 60 mil da capital paulista. Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde ainda não se manifestou.
Na quinta-feira, dia 6, a prefeitura somava 1.585 profissionais afastados por covid-19 ou síndrome gripal. Novo balanço semanal deve ser divulgado nesta quinta-feira. A rede municipal conta, atualmente, com 94.526 profissionais, mas desde o início de dezembro houve um aumento no número de afastamentos. Já com relação aos pacientes, em novembro, foram registrados 111.949 atendimentos de síndrome gripal nas unidades municipais. O número saltou para 264.975 em dezembro, alta de 136%.
Além da sobrecarga com o crescimento de casos do novo coronavírus e de influenza — que provoca o aumento da procura pelos serviços de saúde —, os profissionais de saúde também estão adoecendo. E os que estão trabalhando se queixam de exaustão e sobrecarga muito grande, desfalque que não está sendo reposto e ainda a manutenção de atendimento aos paciente crônicos.
"A sobrecarga em cima deles está sendo feita sem o pagamento de horas extras. Essencialmente, o que os médicos pedem não é ampliação da jornada, mas que ela seja diminuída porque já estão no limite há um bom tempo. A categoria reivindica a contratação de profissionais para dar conta da demanda de atendimentos", pontuou Dourado. Por esse motivo, desde o início da pandemia, muitos profissionais da atenção primária pediram demissão. "Ao longo de 2021, já apontávamos para a necessidade de profissionais serem repostos, pensando na demanda represada — pacientes crônicos com outros problemas de saúde que estavam voltando ao sistema de saúde", acrescentou.
Durante a assembleia, os profissionais vão definir se haverá mesmo a paralisação. "Em caso positivo, vamos detalhar como será feita. Antes da reunião, esperamos conversar com Secretaria Municipal de Saúde", disse o presidente do Simesp.
Dourado defende reuniões com a prefeitura para discutir todas as questões envolvendo a categoria. Segundo ele, entender tanto da prefeitura quanto das Organizações Sociais de Saúde (OSSs), que fazem gestão de vários serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). "Compreender de quem é a responsabilidade para solucionar o problema", disse.
Conforme o sindicato, pelo menos 50 UBSs visitadas pela entidade relataram desfalques nas últimas semanas. "A situação pode ser ainda mais grave em outras unidades. E mesmo quando a UBS está quase completa, parte dos funcionários é deslocada para cobrir outras unidades que estão mais desfalcadas", afirmou.
Diante do atual cenário, ele não descarta a possibilidade de colapso do atendimento nas próximas semanas.
"Até o momento, o que está sendo sobrecarregado no sistema público de saúde da capital paulista é a porta de entrada do sistema, onde aqueles pacientes com sintomas leves ou moderados vão se apresentar primeiro. Mas, vamos ver ainda pacientes se revoltarem com o aumento do tempo de espera. Sem estrutura suficiente nem profissionais. Hoje há relatos de mais de 4, 5 horas de espera. Isso tende a aumentar, porque estamos no começo da curva de crescimento de novos casos. Creio que teremos um aumento da demanda nos outros níveis de atendimento também, apesar do avanço da vacinação", alerta Dourado.