Com críticas a Bolsonaro, indígenas se reúnem em Brasília
Acampamento Terra Livre ocorre em Brasília para reivindicar demandas dos povos indígenas brasileiros e criticar saída da Funai do Ministério da Justiça
Da Redação
Publicado em 24 de abril de 2019 às 06h25.
Última atualização em 24 de abril de 2019 às 11h18.
Em clima de tensão com o governo de Jair Bolsonaro , começa nesta quarta-feira, 24, o 15º Acampamento Terra Livre (ATL). O evento acontece desde 2004 em Brasília para dar visibilidade à situação legal e reivindicar o atendimento das demandas dos povos indígenas brasileiros. Uma semana antes da mobilização, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro , autorizou que a Força Nacional de Segurança Pública atue na Esplanada dos Ministérios e na região da Praça dos Três Poderes por um período de 33 dias.
Após a publicação de Moro no Diário Oficial da União, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), que organiza o acampamento, divulgou uma nota em defesa do encontro. “Parem de incitar o povo contra nós! Não somos violentos, violento é atacar o direito sagrado a livre manifestação com tropas armadas, o direito de ir e vir de tantas brasileiras e brasileiros que andaram e andam por essas terras desde muito antes de 1500”.
Em uma transmissão feita no Facebook no dia 11, Bolsonaro chamou o ATL de “encontrão de índios” e disse que o contribuinte é quem pagaria pela viagem dos quase “10 mil indígenas” que vão a Brasília. “Queremos o melhor para o índio brasileiro, que é tão ser humano quanto qualquer um de nós que está na sua frente aqui. Mas essa farra vai deixar de existir no nosso governo”, afirmou o presidente.
A APIB nega a tese de Bolsonaro de que o contribuinte paga pelas viagens. De acordo com a entidade, o ATL 2019 foi financiado por meio de doações de pessoas físicas, da sociedade civil brasileira e do exterior. Alguns estados da federação, de forma individual, apoiaram delegações que queriam se unir ao encontro. Até a sexta-feira, 26, último dia do encontro, são esperados de 4 a 5 mil indígenas na Esplanada dos Ministérios.
As caravanas de todo o Brasil começaram a chegar na capital federal na noite de terça-feira, 23. Ao longo desta quarta-feira, as delegações terminam de se instalar e abrem o ATL com uma coletiva de imprensa. Este ano, o foco do encontro é mostrar oposição à Medida Provisória 870, editada por Bolsonaro em janeiro.
As principais críticas das lideranças indígenas à MP são quanto a transferência da Funai (Fundação Nacional do Índio), antes vinculada ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública, para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Outro ponto de atrito é a mudança na demarcação de terras indígenas, até então realizada pela Funai, para o Ministério da Agricultura.
As atividades programadas para os três dias de acampamento ficam condicionadas à forma com a qual a Força Nacional irá se comportar diante das manifestações indígenas.