Com 8 mortes por covid-19 em um dia, São José do Rio Preto adota lei seca
O serviço de drive-thru também foi proibido, podendo funcionar apenas delivery, mas não para bebidas
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de julho de 2020 às 16h40.
Última atualização em 16 de julho de 2020 às 17h01.
Depois de registrar oito mortes em um dia e ver o número de casos do novo coronavírus ultrapassar a marca dos 5.000, a prefeitura de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, publicou decreto nesta quinta-feira, 16, proibindo a venda de bebidas alcoólicas em todos os estabelecimentos comerciais do município.
A chamada "lei seca" vigora entre 20h e 6h da manhã de segunda a sexta-feira e durante as 24 horas aos sábados e domingos. O decreto restringiu também o funcionamento de hipermercados e supermercados aos sábados e domingos nesta e na próxima semana. O drive-thru também foi proibido, podendo funcionar o serviço de delivery, mas não para bebidas.
A cidade de 461.000 habitantes está na fase laranja do Plano São Paulo, que permite o funcionamento até do comércio não essencial com restrições. O município entendeu que essas medidas emergenciais são necessárias para combater as aglomerações que continuam a acontecer em vários pontos da cidade, inclusive na área externa de lojas de conveniência e locais de lazer.
"Estamos registrando um aumento de novos contaminados e pessoas internadas. A situação hospitalar é preocupante, mas ainda vemos pessoas sem máscaras e muitas festas clandestinas em família", disse o secretário de Saúde, Aldenis Borim.
Levantamento do Sindicato dos Hospitais do Estado de São Paulo (Sindhosp) mostrou que a UTI para covid-19 da Santa Casa de Rio Preto estava com 91% de ocupação e a do Hospital de Base, com 87% dos leitos ocupados. Hospitais da região, como a Santa Casa de Votuporanga (97%) e o Hospital de Jaci (71%) também têm taxas de ocupação elevadas.
O prefeito Edinho Araújo (MDB) disse que espera a colaboração dos moradores para a volta rápida à normalidade. "As medidas que tomamos são temporárias e esperamos que inibam as aglomerações, pois elas claramente estão contribuindo para que a doença se espalhe", disse.
Com 216 novos casos nas últimas 24 horas, Rio Preto chegou a 5.258 pessoas contaminadas pelo coronavírus. Com oito óbitos registrados no mesmo período, a cidade já totaliza 154 mortes desde o início da pandemia.
Na manhã desta quinta, 286 pessoas estavam internadas com síndrome respiratória, sendo 123 em UTI. Dos pacientes em tratamento intensivo, 82 tiveram confirmação para a covid-19. Devido à alta demanda, duas unidades que são referência para atendimento de síndrome respiratória passaram a funcionar até 22 horas, 3 horas a mais que o normal.
Revisão
A Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp) considerou o decreto da prefeitura "uma decisão técnica equivocada." Segundo a entidade, todas as medidas que restringem ou limitam o acesso da população a produtos ou serviços acabam gerando mais aglomerações.
"Isso se confirmou em várias medidas tomadas não só em Rio Preto. O prefeito de São Paulo teve de voltar atrás em medidas que restringiam a circulação da população e que geraram ainda mais aglomerações no transporte público e nas lojas", disse, em comunicado.
Segundo a associação de comerciantes e empresários, não faz sentido restringir o delivery e o drive-thru nos finais de semana. "Acreditamos que a prefeitura precisa rever a decisão rapidamente. Vamos ver aglomerações ampliadas nos dias que antecedem ao fechamento. Entendemos que a situação é grave e que a intenção do comitê da prefeitura é evitar mais mortes, porém, está com uma visão limitada. Temos de reduzir as aglomerações facilitando o acesso aos serviços e produtos, fiscalizando o cumprimento das medidas." A prefeitura informou que a decisão foi técnica e que mantém diálogo com todos os segmentos da sociedade.