CNV quer ajuda dos EUA para investigar ex-diplomata
O ex-diplomata Claris Halliwell teria visitado regularmente o Departamento de Ordem Política e Social, órgão da ditadura
Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2013 às 18h42.
Brasília - O envolvimento do ex-diplomata americano Claris Halliwell com a ditadura militar brasileira está causando embaraço diplomático entre os dois países e a Comissão Nacional da Verdade (CNV) vai interceder para tentar obter a colaboração do governo dos Estados Unidos com as investigações.
O Itamaraty será acionado pelo novo coordenador da comissão, Paulo Sérgio Pinheiro, para encaminhar um pedido de informações ao governo americano, segundo ficou acertado nesta segunda-feira em reunião com o representante da Comissão Estadual da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo, Ivan Seixas.
Se a via diplomática não for suficiente, a comissão estadual vai se articular com a federal para discutir meios legais de cobrar explicações ao governo americano. Um dos caminhos é acionar, via Ministério da Justiça, o acordo de cooperação jurídica internacional entre os dois países. Pinheiro informou que vai definir o melhor encaminhamento, inclusive a necessidade de convocação de pessoas, com os dirigentes paulistas. "Eles estão desenvolvendo essa investigação com responsabilidade e o nosso inteiro respaldo", explicou..
Documentos revelados domingo (24) pelo jornal O Estado de S. Paulo mostram que o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), de São Paulo, registrou visitas regulares de Halliwell, identificado como "cônsul", à sua sede entre 1971 e 1974.
Na época, o local funcionava como um centro de torturas. Novos documentos localizados pela Comissão Estadual mostram que o ex-diplomata tinha protagonismo político no Brasil desde antes do golpe militar. Em 1958, por exemplo, ele intermediou um encontro de missão do Departamento de Estado americano com o presidente Juscelino Kubitschek.
Seixas informou a Pinheiro que muitos fatos relacionados às visitas de Halliwell ao Dops precisam ser esclarecidos, pois algumas ocasiões coincidiram a morte ou desaparecimento de presos políticos, como foi o caso de Devanir José de Carvalho. "Ele não era um qualquer, ocupou cargo relevante na hierarquia diplomática e tinha atuação política destacada no Brasil e no continente", observou Seixas. Questionado no primeiro momento, o consulado americano em São Paulo recusou-se a colaborar, alegando não ter registro da passagem de Halliwell pelo cargo. "Como assim, não tem registro?", questionou o dirigente.
Balanço
No primeiro balanço do ano, realizado em reunião com representantes de comissões estaduais e municipais, a CNV informou que dezenas de agentes da repressão já estão identificados e serão convocados para depor, entre militares, policiais e civis. Entre estes estariam também empresários que financiavam a repressão, cediam imóveis para torturas ou até participavam de ações. Até agora, a comissão tomou 40 depoimentos, entre vítimas e acusados de autoria de crimes. Cerca de 50 mil pessoas, segundo a comissão, teriam sofrido algum tipo de abuso durante a ditadura.
Entre os próximos convocados a depor estão os supostos autores do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido em janeiro de 1971 - três militares do Exército, segundo relatório do ex-coordenador da comissão, Cláudio Fonteles. Pinheiro não quis confirmar que os três sejam de fato suspeitos do crime e, em tom duro, criticou o "exibicionismo" e "busca de notoriedade" de membros da comissão. "Fique bem claro que não estamos participando de nenhum campeonato de protagonismo, nem queremos ter o monopólio da luta pela verdade", avisou o coordenador.
Brasília - O envolvimento do ex-diplomata americano Claris Halliwell com a ditadura militar brasileira está causando embaraço diplomático entre os dois países e a Comissão Nacional da Verdade (CNV) vai interceder para tentar obter a colaboração do governo dos Estados Unidos com as investigações.
O Itamaraty será acionado pelo novo coordenador da comissão, Paulo Sérgio Pinheiro, para encaminhar um pedido de informações ao governo americano, segundo ficou acertado nesta segunda-feira em reunião com o representante da Comissão Estadual da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo, Ivan Seixas.
Se a via diplomática não for suficiente, a comissão estadual vai se articular com a federal para discutir meios legais de cobrar explicações ao governo americano. Um dos caminhos é acionar, via Ministério da Justiça, o acordo de cooperação jurídica internacional entre os dois países. Pinheiro informou que vai definir o melhor encaminhamento, inclusive a necessidade de convocação de pessoas, com os dirigentes paulistas. "Eles estão desenvolvendo essa investigação com responsabilidade e o nosso inteiro respaldo", explicou..
Documentos revelados domingo (24) pelo jornal O Estado de S. Paulo mostram que o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), de São Paulo, registrou visitas regulares de Halliwell, identificado como "cônsul", à sua sede entre 1971 e 1974.
Na época, o local funcionava como um centro de torturas. Novos documentos localizados pela Comissão Estadual mostram que o ex-diplomata tinha protagonismo político no Brasil desde antes do golpe militar. Em 1958, por exemplo, ele intermediou um encontro de missão do Departamento de Estado americano com o presidente Juscelino Kubitschek.
Seixas informou a Pinheiro que muitos fatos relacionados às visitas de Halliwell ao Dops precisam ser esclarecidos, pois algumas ocasiões coincidiram a morte ou desaparecimento de presos políticos, como foi o caso de Devanir José de Carvalho. "Ele não era um qualquer, ocupou cargo relevante na hierarquia diplomática e tinha atuação política destacada no Brasil e no continente", observou Seixas. Questionado no primeiro momento, o consulado americano em São Paulo recusou-se a colaborar, alegando não ter registro da passagem de Halliwell pelo cargo. "Como assim, não tem registro?", questionou o dirigente.
Balanço
No primeiro balanço do ano, realizado em reunião com representantes de comissões estaduais e municipais, a CNV informou que dezenas de agentes da repressão já estão identificados e serão convocados para depor, entre militares, policiais e civis. Entre estes estariam também empresários que financiavam a repressão, cediam imóveis para torturas ou até participavam de ações. Até agora, a comissão tomou 40 depoimentos, entre vítimas e acusados de autoria de crimes. Cerca de 50 mil pessoas, segundo a comissão, teriam sofrido algum tipo de abuso durante a ditadura.
Entre os próximos convocados a depor estão os supostos autores do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido em janeiro de 1971 - três militares do Exército, segundo relatório do ex-coordenador da comissão, Cláudio Fonteles. Pinheiro não quis confirmar que os três sejam de fato suspeitos do crime e, em tom duro, criticou o "exibicionismo" e "busca de notoriedade" de membros da comissão. "Fique bem claro que não estamos participando de nenhum campeonato de protagonismo, nem queremos ter o monopólio da luta pela verdade", avisou o coordenador.