Clima é desfavorável a governo, apesar de Câmara aprovar MP
Liderança diz que governo ainda conseguiu no máximo 70 votos para fazer reforma da Previdência
Reuters
Publicado em 23 de maio de 2019 às 21h14.
Última atualização em 24 de maio de 2019 às 12h04.
Brasília — O governo conseguiu, com sufoco, aprovar na Câmara dos Deputados a medida provisória que modifica estrutura do governo federal e reduz o número de ministérios, mas o clima no Congresso só tende a acirrar e pode comprometer a reforma da Previdência , avaliou uma liderança parlamentar nesta quinta-feira.
Segundo disse essa fonte à Reuters, a postura do governo de tentar colar no Congresso a pecha da velha política, de responsabilizar a classe política pela crise no país e, num episódio mais recente, a atuação parlamentar de governistas pautada pela aprovação em redes sociais, levou deputados, principalmente de partidos de centro, ao limite da paciência.
A irritação ficou evidente na quarta-feira, quando a Câmara votou a MP dos ministérios e decidiu manter o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) no Ministério da Economia, apesar da pressão do governo para transferi-lo para a pasta da Justiça.
A estratégia de fazer uma votação nominal para decidir o tema na tentativa de constranger os parlamentares e a pressão via redes sociais adicionaram ainda mais lenha na fogueira, chegando ao ponto de o líder do DEM na Casa, Elmar Nascimento (BA), fazer um desabafo em plenário, aplaudido por colegas, na noite de quarta-feira, levando a sessão a ser suspensa.
"Não dá para ignorar o que aconteceu ontem", disse a liderança, acrescentando que o PSL deve ficar cada vez mais isolado na Casa.
E no caso da Previdência, um tema polêmico que traz desgaste aos parlamentares em suas bases, a situação é ainda pior. Segundo essa liderança, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altera as regras previdenciárias não conta com mais de 70 votos atualmente.
O presidente da comissão especial que discute a matéria, deputado Marcelo Ramos (PR-AM), adiantou na última semana que será apresentado um texto substitutivo para a proposta, em linha com a postura de protagonismo e descolamento do governo que a Casa vem adotando.
Segundo ele, o texto alternativo não irá interferir nem no cronograma e nem no impacto fiscal pretendido pelo governo, de 1 trilhão de reais em dez anos. A expectativa é que o parecer da proposta seja apresentado até meados de junho, para que ela esteja pronta para ir a plenário em julho.
Já a liderança, que preferiu a condição de anonimato, avalia que a PEC pode não ser aprovada pela Câmara no primeiro semestre e que a tramitação na comissão especial pode sofrer um "esvaziamento". Também não descarta a apresentação de um outro texto alternativo ao do relator da proposta, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP).
"A Previdência hoje tem 50 votos, 70 estourando", afirmou.
A possibilidade de rejeição de um texto de Moreira pode ocorrer como reflexo, explica, da postura do PSDB na discussão sobre a MP dos ministérios e a alocação do Coaf . O partido teria acertado com demais legendas determinada posição, mas teria agido diferente publicamente, durante a votação.
A fonte pondera ainda que apesar de o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ser um forte defensor da reforma, tem atuação limitada e não pode, sozinho, garantir sua aprovação. Lembra, ainda, que o deputado tenta articular a votação da proposta, mas não pode se afastar do grupo político que o sustenta, atualmente resistente à matéria.
Os parlamentares estariam, segundo essa fonte, acuados pelos eleitores em suas bases, críticos à reforma, ao mesmo tempo em que o governo não oferece uma compensação para eles -como obras e ações nos Estados-, o que dificulta seu posicionamento a favor da reforma.
"A Previdência é uma coisa difícil. Ela tem um ônus político sem que o governo tenha ações nos Estados para compensar."
De acordo com essa liderança, o mal-estar não envolve apenas a Câmara e já teria contaminado senadores, inclusive o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP).A conturbada MP dos ministérios, aliás, deve ser votada pelo Senado na próxima semana.