Brasil

Incêndio atinge a Cinemateca, que guarda acervo audiovisual brasileiro

O Corpo de Bombeiros recebeu chamado para o incêndio na Cinemateca por volta das 18 horas. Acervo é o maior da América Latina

 (reprodução/Reprodução)

(reprodução/Reprodução)

DR

Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2021 às 18h56.

Última atualização em 29 de julho de 2021 às 21h19.

Um galpão que contém parte do acervo da Cinemateca foi atingido por um incêndio em São Paulo nesta quinta-feira, 29.

O local fica na Vila Leopoldina, zona oeste da capital paulista. O incêndio começou após um serviço de manutenção do ar condicionado, segundo o Corpo de Bombeiros.

Os bombeiros receberam o chamado por volta das 18 horas. O fogo foi forte, e o galpão seguiu em chamas quase duas horas após o chamado. O incêndio foi controlado por volta das 20h, de modo que não deve se alastrar para novos locais.

O fogo atingiu uma área que estima-se ser de cerca de 400 metros quadrados, segundo o Corpo de Bombeiros. Não há registro de vítimas ou feridos.

O acervo da Cinemateca representa o maior museu audiovisual do Brasil e da América Latina, e guarda documentos que datam desde o século 19.

Ao todo, há mais de 250.000 rolos de filme no acervo da instituição, muitos originais e sem cópia por serem muito antigos, mas parte do acervo não estava no prédio atingido hoje. O prédio principal da Cinemateca fica em outra região, na Vila Mariana.

Há no acervo da Cinemateca material que vai de filmes e antigos programas de televisão a registros públicos brasileiros, como de ex-presidentes.

Ainda não se sabe quanto do material estava no galpão que pegou fogo e quanto foi perdido no incêndio de hoje. Ao menos três salas devem ter sido completamente atingidas. O acervo já havia sofrido um incêndio em 2016 e uma enchente no ano passado.

Crise na gestão

A Cinemateca é controlada diretamente pela União desde agosto de 2020. A organização, que é responsável por gerir toda a história do audiovisual brasileiro, está hoje sob responsabilidade do Ministério do Turismo, no âmbito da Secretaria Especial de Cultura.

Anteriormente, um contrato da União com a Fundação Roquette Pinto (a mesma da TV Escola) para gestão do acervo terminou em 2019 sem que fosse renovado e sem que um novo responsável fosse escolhido.

O acordo com a Roquette Pinto para a TV Escola foi rescindido pelo Ministério da Educação na gestão de Abraham Weintraub, encerrando automaticamente também a frente de gestão da Cinemateca, que estava sob o mesmo contrato.

No primeiro semestre de 2020, a Cinemateca chegou a ficar meses sem pagar contas de eletricidade e salários.

Em maio do ano passado, ao demitir Regina Duarte da Secretaria Especial de Cultura, o presidente Jair Bolsonaro declarou em vídeo, ao lado da atriz, que ela passaria a "fazer a Cinemateca", mas a ex-secretária nunca chegou a assumir a função.

Já em agosto de 2020, ao assumir a gestão, o governo federal demitiu todos os funcionários que trabalhavam na instituição, alguns com décadas de carreira, e o portal oficial da Cinemetaca foi retirado do ar.

Após o incêndio, Francisco Campera, diretor-geral da Fundação Roquette Pinto, disse nesta segunda-feira à GloboNews que a situação da Cinemateca era uma "tragédia anunciada" e que alertou também os ministérios da Economia e da Cidadania.

Campera disse que a Roquette Pinto tirou 15 milhões de reais do caixa para manter a gestão emergencial da Cinemateca depois que o contrato acabou e até que a instituição fosse entregue de volta ao governo federal.

Quase um ano após assumir a Cinemateca, a Secretaria de Cultura anunciou no fim de junho deste ano que começaria o processo para escolher uma nova entidade para a gestão. O chamamento de uma nova organização estava previsto para o começo de agosto.

Mas o fato de a Cinemateca ficar sem gestão direta e sem cuidados específicos por mais de um ano tem sido criticado pela comunidade artística. O Ministério Público Federal entrou com ação na Justiça contra a União por abandono.

A Prefeitura de São Paulo, ainda na gestão do ex-prefeito Bruno Covas, havia manifestado desejo de assumir a gestão da Cinemateca, e vinha sendo pressionada pela comunidade do cinema a fazê-lo diante dos riscos ao acervo.

Os riscos já vinham sendo apontados há anos. Os filmes antigos contêm material altamente inflamável, podendo sofrer combustão espontânea. Ainda está confirmada se esta foi a causa do incêndio.

O local sofria com gerador de energia com problemas e falta de manutenção, segundo a imprensa e ex-funcionários do local já vinham relatando. Em abril deste ano, ex-funcionários divulgaram uma carta denunciando riscos de incêndio. 

No festival de Cannes, que aconteceu no começo de julho, o diretor Kleber Mendonça Filho, que dirigiu "Bacurau" e foi um dos jurados do festival neste ano, pediu especial atenção ao caso da Cinemateca.

"A Cinemateca Brasileira está fechada há mais de um ano. 90 mil títulos, 230 mil rolos de filmes e fitas televisivas, todos os técnicos e especialistas foram demitidos e essa é uma clara demonstração do desprezo pela cultura e pelo cinema. E eu acho que devo mencionar isso porque estamos no Festival de Cannes e todos amamos o cinema aqui", disse, em discurso que rodou o mundo e tem sido mencionado nas redes sociais nesta quinta-feira após o incêndio.

Acompanhe tudo sobre:CinemaCulturaMinistério do Turismo

Mais de Brasil

Mais de 600 mil imóveis estão sem luz em SP após chuva intensa

Ao lado de Galípolo, Lula diz que não haverá interferência do governo no Banco Central

Prefeito de BH, Fuad Noman vai para a UTI após apresentar sangramento intestinal secundário

Veja os melhores horários para viajar no Natal em SP, segundo estimativas da Artesp