Censo 2022: Rocinha volta a ser considerada a maior favela do Brasil
Censo 2022 revela que a Rocinha se mantém como a maior favela do Brasil, com crescimento vertical e mais de 30 mil domicílios
Agência de notícias
Publicado em 8 de novembro de 2024 às 12h01.
Dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam que a Rocinha, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, permanece como a maior favela do Brasil. A comunidade, que agora conta com 72.021 moradores, cresceu 4% em relação ao último Censo, em 2010, e possui mais de 30 mil domicílios. O crescimento da Rocinha, no entanto, contrasta com o cenário geral da cidade do Rio, que perdeu 43,3 mil moradores de comunidades e viu São Paulo assumir o posto de cidade com o maior número de pessoas vivendo em favelas.
Ranking das favelas mais populosas do Brasil
Favela | População |
---|---|
Rocinha, Rio de Janeiro | 72.021 |
Sol Nascente, Brasília | 70.908 |
Paraisópolis, São Paulo | 58.527 |
Cidade de Deus, Manaus | 55.821 |
Rio das Pedras, Rio de Janeiro | 55.653 |
Heliópolis, São Paulo | 55.583 |
São Lucas, Manaus | 53.674 |
Coradinho, São Luís | 51.050 |
Baixadas da Estrada Nova Jurunas, Belém | 43.105 |
Beiru / Tancredo Neves, Salvador | 38.871 |
Fonte: Censo 2022
Rocinha: crescimento vertical e características únicas
Um dos critérios para o IBGE considerar uma área como favela é a precarização da posse do terreno. Em um dado preliminar de 2023, Sol Nascente, em Brasília, chegou a ser apontada como a maior favela do país. No entanto, após o refinamento dos dados, o IBGE concluiu que a Rocinha nunca perdeu o título. Se fosse considerada um município independente, a Rocinha superaria em população 5.112 cidades brasileiras, equivalente a 91,7% do total de municípios do país.
“O processo de atualização dos dados e mapeamento entre dezembro do ano passado e agosto deste ano permitiu consolidar o título da Rocinha como a maior favela”, explica o geógrafo Jaison Cervi, gerente de Pesquisas e Classificações Territoriais do IBGE.
De 2010 a 2019, a Rocinha manteve seu crescimento, mas sem expandir horizontalmente, pois está cercada pela Mata Atlântica. O Censo de 2022 quantificou, pela primeira vez, o estilo de moradia na Rocinha, revelando que ela possui 9.443 apartamentos, o que indica que o crescimento da comunidade se deu principalmente na vertical, com a construção de pequenos prédios.
Favelas do Rio: perfil e distribuição populacional
Além da Rocinha, outras favelas do Rio figuram entre as mais populosas, como Rio das Pedras (55.653 moradores) e Jacarezinho (29.766 moradores). Apesar de o município do Rio ter perdido 110 mil habitantes desde 2010 — sendo 40% desses de favelas cariocas — algumas comunidades continuam em crescimento.
Favelas mais populosas do Rio
Favela | População |
---|---|
Rocinha | 72.021 |
Rio das Pedras | 55.653 |
Jacarezinho | 29.766 |
Fazenda Coqueiro | 18.499 |
Nova Cidade | 16.580 |
Vila Vintém | 14.140 |
Muzema | 12.982 |
Nova Holanda | 12.224 |
Vila Rica de Irajá | 12.089 |
Fonte: Censo 2022
O IBGE historicamente não agrupa algumas favelas maiores. Rio das Pedras, por exemplo, é dividida em duas áreas pela Avenida Engenheiro Souza Filho. Se fosse considerada uma única comunidade, Rio das Pedras teria 64.988 moradores, aproximando-se mais da Rocinha. O mesmo ocorre com grandes complexos como a Maré e o Alemão, onde as favelas são contabilizadas separadamente.
Empreendedorismo e integração comunitária
Há três anos, a nutricionista Ester Paula Lopes, de 37 anos, mudou-se de Rio Claro, no interior de São Paulo, para abrir o próprio negócio na Rocinha. Sua loja, O Rei do Picolé, é conhecida pela decoração colorida e pela presença de clientes, especialmente crianças. “O meu público-alvo são pessoas de comunidades. Como a Rocinha é a maior de todas, decidi vir para cá. Foi a melhor escolha que fiz. Fui muito acolhida, e os vizinhos me ajudaram a montar a loja e a fazer a fiação elétrica”, conta Ester.
Formada pela Unicamp e pela Escola Sorvete, de Francisco Sant’Ana, Ester iniciou o negócio sozinha e hoje destina parte do lucro para ajudar moradores em situação de necessidade. “É um dinheiro que volta para a comunidade. Eu que faço tudo, das receitas até a embalagem. Deixei uma vida confortável em São Paulo e não me arrependo”, relata a empresária.