Economia brasileira (FG Trade/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de agosto de 2022 às 12h45.
Última atualização em 19 de agosto de 2022 às 15h08.
Este artigo faz parte do "Especial 55 anos da EXAME", presente na edição deste mês da revista. Acesse aqui a reportagem completa com as visões de 55 lideranças sobre o futuro do Brasil e veja as demais reportagens da edição.
A EXAME pediu um artigo sobre os desafios econômicos de longo prazo da economia brasileira para celebrar o aniversário de 55 anos da revista.
Nesse longo período, o poder de compra do brasileiro como proporção do norte-americano praticamente não mudou. Em 1967 a fatia era 20%. Em 2021 passou para 23%. O fato de termos acompanhado o líder por mais de meio século não chega a ser uma tragédia, mas também não foi uma façanha. Por duas razões.
Em primeiro lugar, a manutenção de um nível comparativamente baixo de renda por tanto tempo deveria incomodar porque, supostamente, o progresso é uma tarefa simples às nações que podem se dar ao luxo de copiar o que dá certo no mundo desenvolvido.
Em segundo lugar, além das cinco décadas de pobreza relativa, o filme tem sido macabro há mais de 40 anos. O Brasil chegou a diminuir a distância até 1980, quando a nossa renda atingiu 36% da de um estadunidense – o que hoje é o Chile. Depois foi ladeira abaixo.
Por que a economia brasileira é tão improdutiva e tão pouco dinâmica?
As evidências mostram que o setor privado investe quando tem os incentivos corretos, fontes de financiamento confiáveis e segurança de que não será expropriado. Ao setor público cabe elaborar e fazer valer regras que alinhem bem os incentivos, protejam os mais fracos e garantam ajuda aos que, por quaisquer razões, não sejam bem-sucedidos. Uma coisa não exclui a outra.
O Brasil faz tudo do avesso. No ranking de facilidade de fazer negócios do Banco Mundial ocupamos a 124ª posição em uma lista com 190 países. O estado paquidérmico suga a poupança para servir a si e a parceiros, encarecendo o capital. Somos o país dos privilégios e do improviso. A corrupção é institucionalizada. Não há espaço para conversa inteligente no debate político.
O diagnóstico sobre o que fazer para sair do atoleiro é conhecido de cor e salteado por quem tiver folheado algum jornal nas últimas décadas. Vira e mexe sai um livro com título do tipo “uma agenda para o progresso” repisando temas batidíssimos. A dúvida então é saber até que ponto os brasileiros compram a lista de “reformas estruturais” necessárias. Se esse desejo fosse fervoroso, certamente estaríamos melhor do que estamos, pois a democracia tem quase 40 anos.
O fato é que optamos coletivamente pelo atraso. Dizem que o importante é ser feliz e, segundo o último ranking de felicidade global, o Brasil figura no 38º lugar em um painel com 146 nações. Se ordenarmos pela parcela da felicidade “explicada” pela renda per capita, caímos de 38º para 105º. Isso indica que o bem-estar material é um fator menos importante para nós – somos, por exemplo, mais felizes que países ricos como Portugal, Japão e Coréia do Sul.
Seja qual for a lógica das (más) escolhas da sociedade, o problema é que rifar o futuro para aumentar o prazer instantâneo não é sustentável. O setor público está em rota de falência e nem uma emenda constitucional é capaz de trazer disciplina.
Ao mesmo tempo que se define um fundo eleitoral bilionário aplica-se um calote em precatórios. Fingir que não há restrições orçamentárias é suicídio, não importando se o ato é cometido por “conservadores” ou “progressistas”. Há 10 anos, a Venezuela ocupava a 19ª posição no ranking de felicidade, à frente da França, quando era sabido que a lambança daria errado. Hoje está na 108ª.
A receita para elevar a produtividade, alavancar o crescimento e melhorar de forma sustentável o padrão de vida da população é conhecida. O desafio é encontrar políticos capazes e dispostos a convencer o eleitor mediano a apoiar reformas cujos benefícios são tão distantes e difusos e que confrontam interesses de cupins organizados. Como fazer isso em um ambiente polarizado, marcado por desconfiança, oportunismo e ignorância? Quem sabe nos próximos 55 anos.
*Celso Toledo é diretor da LCA Consultores e doutor em Economia pela USP.