Brasil

Casos de covid aumentam 70% no país e Fiocruz prevê colapso na saúde

Brasil registra 70 mil novas contaminações nesta quarta, dia 16, quase o dobro de duas semanas atrás; no Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, UTIs já estão lotadas

A visitor leaves a field hospital which takes care of COVID-19 patients in Belem, Para state, Brazil on December 3, 2020. - The Para Health Department increased measures to prevent the spread of COVID-19 ahead of a possible second wave of the infection. Authorities confirmed Wednesday a total of 273,753 cases of the new coronavirus and 6,939 deaths from the disease in the state. (Photo by TARSO SARRAF / AFP) (Photo by TARSO SARRAF/AFP via Getty Images) (TARSO SARRAF/Getty Images)

A visitor leaves a field hospital which takes care of COVID-19 patients in Belem, Para state, Brazil on December 3, 2020. - The Para Health Department increased measures to prevent the spread of COVID-19 ahead of a possible second wave of the infection. Authorities confirmed Wednesday a total of 273,753 cases of the new coronavirus and 6,939 deaths from the disease in the state. (Photo by TARSO SARRAF / AFP) (Photo by TARSO SARRAF/AFP via Getty Images) (TARSO SARRAF/Getty Images)

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Carla Aranha

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 13h23.

Última atualização em 17 de dezembro de 2020 às 17h32.

Com mais de 70 mil novos casos da covid-19 registrados nesta quarta-feira, dia 16, 70% a mais do que nas duas últimas semanas, o país caminha perigosamente para um colapso no sistema de saúde público e privado, alerta Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid-19 Fiocruz, em entrevista à EXAME. A taxa de ocupação de leitos de UTI nas capitais, que supera a marca de 80% em cidades como Rio de Janeiro (92%), Curitiba (92%) e Campo Grande (100%), tem sido uma fonte de apreensão – a falta de um posicionamento mais claro das autoridades e medidas de precaução, também. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista.

O quão preocupante é o atual cenário da covid no Brasil?

Muito preocupante. O número de casos está evoluindo muito rapidamente, tanto no interior dos Estados como nas cidades principais. Isso é bastante preocupante porque as cidades menores não têm condição de atender um grande número de pessoas, então devem mandar os pacientes para os centros maiores, que já estão ficando lotados. Na primeira onda, as contaminações cresceram mais nas capitais. Agora, estão se espalhado também pelo interior do país. As taxas de ocupação de UTI em muitos Estados já superam os 80%, o que é muito alto. No Rio, o sistema de saúde já está praticamente colapsado.

Vários países europeus, como a Alemanha e a Dinamarca, decretaram novos lockdowns essa semana por causa do novo pico da covid. No Brasil, esse cenário pode se repetir?

Aqui deve ser pior ainda. A Europa fez a lição de casa, nós não fizemos. Fecharam fronteiras, proibiram voos e suspenderam o comércio e as aulas, por exemplo. Também fizeram um sistema de testagem e quarentenas. Mesmo assim, as aglomerações no verão e o relaxamento de algumas medidas provocaram um aumento expressivo do número de casos e de mortes. Nos Estados Unidos, a situação também é muito grave. Aqui, não fizemos lockdown e os governantes sequer estão alertando para a gravidade da segunda onda. O brasileiro está vivendo em uma realidade paralela.

Há uma sensação de que o início da vacinação vai acabar com pandemia?

Acredito que sim. Mas precisamos ter em mente que a vacinação vai ser obviamente faseada. Só vamos conseguir vacinar toda a população em 2022. Se tem gente pensando que nossos problemas estarão resolvidos no início de 2021, esse é um equívoco muito grande.

Em São Paulo, a previsão é que a vacinação comece no final de janeiro. Até lá, o sistema de saúde do Estado corre o risco de entrar em colapso?

Sim. Temos cinco semanas até lá. Isso é muito tempo, dada a rápida evolução do número de casos e mortes que estamos observando. Tivemos mais de 70.000 novos casos nesta quarta, dia 16. Isso é uma enormidade. Se continuar assim, os hospitais e centros de saúde vão ficar lotados até o fim de janeiro. O pior é que nem as cidades, nem os Estados ou o governo federal estão tomando medidas para combater o novo surto da covid ou passando as mensagens adequadas.

Os governantes estão passando a mensagem errada?

Sim. Prefeitos como o Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, estão afirmando que não vai haver lockdown, mesmo diante da situação alarmante que estamos observando. A população pode entender isso como uma mensagem de está tudo sob controle, quando não está. Além disso, não é possível afirmar que não vai ter lockdown.

Não só os prefeitos, mas os governadores também estão adotando essa postura. O que senhor acha disso?

No início da pandemia, não havia uma coordenação nacional. Agora, não há nenhuma coordenação. Quando governadores e prefeitos assistem aglomerações em ruas de comércio popular e não fazem nada, precisamos refletir sobre a importância da responsabilidade coletiva e individual durante essa pandemia. Permitir aglomerações é a medida mais adequada? No Estado do Rio de Janeiro e em outros locais, as praias estão lotadas. É isso que queremos?

As mensagens que vêm de Brasília também contribuem para esse cenário ilusório de que estamos vivendo um período de mais normalidade?

Sim. Negar a segunda onda ou dizer que a pandemia está acabando é algo muito fora da realidade. Pior ainda, pode levar à população a realmente acreditar que está tudo bem. Muita gente está circulando sem máscara e indo a festas.

Alguns hotéis no litoral e cidades turísticas já estão lotados, assim como os voos. O período de festas de final do ano pode piorar o quadro de covid no país?

Certamente. O principal temor é que a covid tenha uma rápida evolução já em dezembro, como parece estar acontecendo, e aumentar ainda mais em janeiro. A Fiocruz preparou um relatório com uma série de recomendações aos prefeitos, entre elas a importância de manter o distanciamento social de dois metros entre as pessoas, inclusive dentro das residências, para quem for fazer reuniões no final do ano, não fazer fila para se servir dos alimentos e lavar as mãos sempre que tocar em algum objeto. E, claro, usar máscara e não fazer aglomeração. Temos que lembrar que o maior presente neste final de ano é preservar vidas.

Caso essas recomendações não sejam levadas a sério, corremos o risco de viver uma situação parecida com a da Califórnia, nos Estados Unidos, em que os médicos estão dizendo que vão ter que escolher quem vai para a UTI?

É difícil não pensar nisso. Esse é um momento que exige muita responsabilidade, tanto do poder público como de cada um de nós. Não neguem a pandemia.

 

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