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Casos ainda aumentam e protestos podem disseminar covid-19, diz Opas

A organização ainda alertou para a possibilidade de uma segunda onda de contaminação pelo coronavírus com a reabertura do Brasil

Protestos no Brasil: país tem registrado manifestação contra e a favor do presidente todos os fins de semana (Ueslei Marcelino/Reuters)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de junho de 2020 às 14h50.

Gerente de Vigilância à Saúde e Controle e Prevenção de Enfermidades da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Marcos Espinal afirmou nesta terça, 2, que o número de casos da covid-19 continua a aumentar, advertindo para o fato de que protestos de massa nas ruas podem piorar o quadro.

"Evitemos as reuniões de massa, as aglomerações", defendeu Espinal, durante entrevista coletiva com autoridades da Opas, ao ser questionado sobre protestos contra e a favor do governo do presidente Jair Bolsonaro ocorridos no fim de semana.

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"Está muito demonstrado que as aglomerações contribuem para disseminar o vírus", disse ele. "Se lavamos as mãos, mas vamos a uma manifestação de massa, sem usar máscara nem manter distanciamento social, vamos continuar a disseminar a doença."

A autoridade da Opas disse que se observa no Brasil um "aumento inusitado de casos". Além disso, destacou o fato de que mais municípios têm reportado a doença, ou seja, ela tem se disseminado mais pelo País. Nas duas semanas entre 11 de maio de 25 de maio, houve aumento de 68% no número de municípios reportando casos, de um avanço de 53% nesse indicador nas duas semanas anteriores, citou.

Espinal advertiu para o risco de que, após uma manifestação, alguém possa ter se contaminado e ainda transmitido a doença para familiares. "Vamos pensar em nossos pais, avós, todos os que estão confinados, quando chegamos em casa podemos transmitir doença para eles", disse.

Também presente na entrevista coletiva virtual, o brasileiro Jarbas Barbosa, subdiretor da Opas, defendeu a necessidade de distanciamento social, no momento em que se nota um crescimento no caso da covid-19. Segundo ele, é importante que seja dado apoio social, a fim de ampliar a adesão ao confinamento por parte da população.

Barbosa também disse que, em um quadro de transmissão crescente da doença, não se deve realizar uma reabertura imediata da economia e pediu que a região invista em ampliar a capacidade de testagem para a doença. "É preciso haver testes suficientes para todos os casos suspeitos", argumentou.

Saída dos EUA da OMS

Etienne também afirmou que a saída dos Estados Unidos da entidade representaria uma "grande contração" nas atividades de saúde pública realizadas pela entidade na região. A autoridade foi questionada, durante entrevista coletiva virtual, sobre a decisão do governo do presidente Donald Trump de retirar o país da Organização Mundial de Saúde (OMS).

A Opas é o braço regional da OMS. Em suas declarações, Etienne disse que tem havido uma colaboração importante com os EUA e que espera que isso continue. De acordo com a diretora, os EUA são o maior financiador da Opas, respondendo atualmente por 60% do financiamento da entidade.

Trump reclama de um viés pró-China da OMS e culpa a entidade por supostamente acobertar dados sobre o coronavírus no início do que se tornou a pandemia global da doença.

2ª onda de covid-19

Etienne advertiu para o risco de uma reabertura econômica precipitada após as quarentenas, já que isso pode provocar uma segunda onda de casos da covid-19 que "apagaria a vantagem conseguida nos últimos poucos meses".

Etienne pediu às autoridades que "pensem duas vezes antes de retirar medidas de distanciamento social", mas também que levem em conta particularidades de cada região, nessa estratégia. Ela informou que a região se aproxima dos três milhões de casos de coronavírus.

"A curva epidemiológica continua a subir de modo acentuado em muitas áreas", notou. "Isso significa que mais pessoas estarão doentes amanhã do que hoje", ressaltou, lembrando que o distanciamento social é considerado ainda o melhor meio para conter o ritmo de disseminação do vírus.

A diretora da Opas disse que há atualmente uma crise em três frentes: de saúde, econômica e social, as quais precisam ser tratadas de modo simultâneo. Além disso, lembrou que a região das Américas representa mais da metade dos casos totais da doença no mundo. Ela informou que, apenas na última semana, houve 732 mil novos casos da covid-19 no mundo, sendo mais de 250 mil deles em nações da América Latina. Ainda assim, disse também que o impacto nas Américas é "severo, mas poderia ter sido pior".

A autoridade voltou a enfatizar que é crucial testar, traçar os casos, tratá-los e isolar os doentes. A autoridade disse que "mesmo que a capacidade de testagem não seja perfeita", muitos países na região possuem dados suficientes para monitorar onde o vírus se dissemina. "Isso deve orientar nossa tomada de decisões", argumentou, pedindo que as autoridades "não tomem decisões no escuro".

Etienne admitiu que a população mais vulnerável muitas vezes não conseguem fazer isolamento, já que precisam sair de casa para ganhar a vida. Ainda assim, enfatizou a necessidade de ser cuidadoso na liberação gradual das quarentenas, com um equilíbrio entre a questão da saúde pública e a economia.

"É um equilíbrio difícil, mas não creio que seja impossível", disse, pedindo que os países implementem "um período de transição cauteloso" e também fortaleçam mais sua capacidade de realizar testes para doença e o número de leitos para atender aos doentes.

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