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Cartão Top amplia base de cartões de crédito enquanto empresa busca reverter prejuízo

Um de cada dois portadores do bilhete de transporte virou cliente de serviços financeiros, diz CEO da Autopass, empresa que fechou no vermelho em 2022

Rodney Freitas, CEO da Autopass, que opera o cartão Top (Autopass/Divulgação)

Rodney Freitas, CEO da Autopass, que opera o cartão Top (Autopass/Divulgação)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 17 de agosto de 2023 às 06h03.

Última atualização em 18 de agosto de 2023 às 14h31.

Em 2021, o cartão Bom, usado para pagar ônibus, trens e metrô na Grande São Paulo, foi abandonado. No lugar, foi adotado o cartão Top. A Autopass, operadora dos dois serviços, tinha um plano: aproveitar a base de milhões de clientes que já tinham o bilhete e oferecer a eles outros serviços, como cartão de crédito e conta corrente.

O plano vem avançando: atualmente, 51% dos usuários do Top ativaram as funções de crédito ou conta corrente. São cerca de 1,2 milhão de pessoas que aderiram aos serviços, segundo dados da empresa. Até agora, foram emitidos cerca de 2,4 milhões de unidades do Top.

"Não tem anuidade no cartão nem tarifa na conta para conseguir de fato impulsionar a entrada, para que as pessoas tenham acesso", diz Rodney Freitas, CEO da Autopass. Como boa parte dos usuários do Top são de baixa renda, a empresa vê o modelo como oportunidade para dar crédito a pessoas com menos acesso a serviços financeiros. 

Além de opções financeiras, a Autopass planeja vender outros serviços, como atendimentos de saúde, cursos e um streaming de vídeos. Como os moradores de cidades mais afastadas muitas vezes ficam mais de uma hora no transporte, a empresa avalia que pode oferecer conteúdos para serem consumidos a bordo.

"A gente fala muito do modelo 'freemium', que sempre tenha uma degustação, para que o cliente inicie de forma gratuita e depois possa comprar outros módulos e avançar na medida que crie interesse", comenta Freitas. 

O Top atende 43 cidades no estado de São Paulo, a maioria na região metropolitana. O cartão pode ser usado em ônibus municipais, intermunicipais, trens e metrô. Além dos cartões, o Top tem a opção de pagamento por QR Code, que pode ser comprado em totens, por aplicativo ou por WhatsApp. Em dois anos, mais de 370 milhões de códigos foram emitidos. 

Apesar do avanço nos planos, a Autopass fechou 2022 com prejuízo de R$ 18,3 milhões. No primeiro semestre deste ano, a empresa teve resultado melhor, e somou lucro de R$ 22 milhões. Em seu relatório anual, a empresa disse que teve problemas de caixa por causa da demora no reajuste da tarifa paga pelo governo. As operadoras dos cartões recebem uma remuneração diferente do valor pago pelo usuário. No caso do contrato com o governo do Estado de São Paulo, o valor pago à Autopass é de R$ 0,26 por viagem, desde julho de 2022.

Briga na bilhetagem

O setor de bilhetagem nos ônibus e trens urbanos vive um momento de disputa entre várias empresas fornecedoras dos serviços de emissão de cartões e cobrança de passagens. Além de operadoras que atuam no setor há anos, como a Autopass, startups e operadoras de cartões bancários, como Visa e Mastercard, querem entrar no negócio.

No Seminário Nacional da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), realizado em Brasília na semana passada, várias delas possuíam estandes para mostrar novas tecnologias, como a possibilidade de criar cartões virtuais para serem usados no celular, e pagamento por pulseiras e biometria.

Visa e Mastercard também trabalham no desenvolvimento de tecnologias para que os passageiros possam pagar a tarifa diretamente com cartões bancários, por crédito ou débito, sem precisar adquirir um novo plástico. Em cidades como Londres e Nova York, o pagamento com cartões bancários já é realidade há anos. No Brasil, o modelo é usado no metrô do Rio de Janeiro e está em testes em São Paulo.

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