Cardozo diz que Senado irá condenar Dilma a morte política
"Quando se tem uma situação desse tipo é impossível que não se fique emocionado e indignado com coisas que são ditas", disse o advogado da presidente afastada
Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2016 às 17h52.
Brasília - Em um discurso emocionado, o advogado da presidente afastada Dilma Rousseff , José Eduardo Cardozo, afirmou que o Senado, se aprovar o impeachment , decretará a "pena de morte política" da presidente e que espera que a história a inocente.
Ao descer da tribuna Cardozo caiu no choro. "Quando se tem uma situação desse tipo é impossível que não se fique emocionado e indignado com coisas que são ditas. Quando perdem a capacidade de se indignar as pessoas se desumanizam", disse depois o ex-ministro da Justiça e da Advocacia-Geral da União. Cardozo falou por cerca de uma hora, menos do que o tempo que teria para fazer a defesa da presidente afastada. Questionou as acusações, que afirmou terem sido montadas sob medida para encontrar razões para um processo de impedimento.
"Criaram-se pretextos jurídicos, da mesma forma que a ditadura militar condenou Dilma Rousseff quando era jovem. Pretextos, pretextos que talvez ninguém se lembre daqui a algum tempo. Pretextos que hoje a população não sabe dizer quais são – pretextos!", discursou.
Em toda sua fala, Cardozo fez paralelos com a atuação de Dilma na ditadura militar e as acusações que teve de enfrentar. Afirmou que ela mais uma vez estava "no banco dos réus" sob pretextos que desapareceriam com o tempo.
"E do que ela é acusada? Hoje nós sabemos, mas talvez daqui a algum tempo ninguém mais se lembre das acusações que são dirigidas a Dilma Rousseff, como não se lembram hoje das acusações que eram dirigidas contra ela. O que dirão? Ela foi acusada, porque ousou ganhar uma eleição, afrontando interesses daqueles que queriam mudar o rumo do país. Ela foi condenada, porque ousou não impedir que investigações contra a corrupção no Brasil não tivessem continuidade", afirmou.
Mais do que tentar desconstruir as questões técnicas das acusações - rebatidas repetidas vezes pela própria presidente, em depoimento na segunda-feira aos senadores - Cardozo apelou para o senso de justiça dos parlamentares.
"Peço a Deus que, algum dia, se Dilma Rousseff for condenada, um novo ministro da Justiça tenha a dignidade de pedir desculpas a ela. Se ela estiver viva, que se faça de corpo presente. Se estiver morta, à sua filha e aos seus netos", afirmou.
"Que se peça desculpas a Dilma Rousseff, se ela vier a ser condenada. Que a história faça justiça com ela, que a história absolva Dilma Rousseff, se vossas excelências quiserem condená-la."
Cardozo voltou a atacar o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que aceitou a abertura do processo de impeachment contra Dilma.
Afirmou que a oposição só conseguiu levar adiante o impedimento da presidente quando se juntou àqueles que queriam parar as investigações.
"E ele (Cunha), então, tornou-se o vértice de dois grandes agrupamentos: os ressentidos com a derrota de 2014 e os que queriam parar a Lava Jato", disse.
Cardozo reclamou dos discursos que atribuem o processo contra à presidente ao "conjunto da obra", e não necessariamente aos três decretos de crédito suplementar e as pedaladas fiscais.
"Alguém dirá, e eu tenho lido isso nos jornais: 'a gente sabe que não são bem esses dois fatos, é o conjunto da obra'. Como disse a senhora presidente da República, conjunto da obra se aprecia nas eleições; conjunto da obra é o povo que decide, porque a vontade popular é soberana", disse, cobrando que então os senadores aprovem a ideia de um plebiscito sobre uma nova eleição imediatamente.
"E alguém poderá me dizer: 'Não, no fundo, veja, é só a perda do mandato. Eu não estou atingindo a Dilma'. Não? É uma pena de morte política, é uma execração que se faz a uma pessoa digna. Poderão os senhores dormir com as suas consciências tranquilas daqui para a frente, se apertarem o botão 'sim'?", cobrou.
Ao sair da tribuna, Cardozo chorou. E chorou novamente depois de sair do plenário. O ministro se incomodou especialmente com a frase de advogada de acusação Janaína Paschoal, que pediu desculpas à presidente por lhe estar "causando sofrimento", mas disse que estava à frente do pedido de impeachment também pelos netos da presidente afastada.
"As palavras da acusação foram muito injustas. Para quem conhece a presidente Dilma, pedir a condenação para defender os seus netos, foi algo que me atingiu muito fortemente", explicou.
O discurso de Cardozo foi elogiado, inclusive por senadores da oposição. Ao deixar a tribuna, foi abraçado pelos parlamentares aliados da presidente, mas também por membros da base do governo, como o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE). Da mesa do Senado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) aplaudiu Cardozo - o que não havia feito na fala de Janaína Paschoal ou do outro acusador, o jurista Miguel Reali Júnior.
Questionado se sua fala poderia mudar votos a essa altura do processo, Cardozo disse que poderia ser "um crédulo", mas acredita na capacidade do ser humano de fazer justiça.
"Não é possível que as pessoas tenham a consciência tranquila para condenar nesse caso", disse. "Minha ideia não era constranger ninguém, mas tocar o sentimento que cada um tem dentro de si. Os que condenarem uma inocente vão ficar com isso dentro de si o resto da vida", disse, em entrevista.
Brasília - Em um discurso emocionado, o advogado da presidente afastada Dilma Rousseff , José Eduardo Cardozo, afirmou que o Senado, se aprovar o impeachment , decretará a "pena de morte política" da presidente e que espera que a história a inocente.
Ao descer da tribuna Cardozo caiu no choro. "Quando se tem uma situação desse tipo é impossível que não se fique emocionado e indignado com coisas que são ditas. Quando perdem a capacidade de se indignar as pessoas se desumanizam", disse depois o ex-ministro da Justiça e da Advocacia-Geral da União. Cardozo falou por cerca de uma hora, menos do que o tempo que teria para fazer a defesa da presidente afastada. Questionou as acusações, que afirmou terem sido montadas sob medida para encontrar razões para um processo de impedimento.
"Criaram-se pretextos jurídicos, da mesma forma que a ditadura militar condenou Dilma Rousseff quando era jovem. Pretextos, pretextos que talvez ninguém se lembre daqui a algum tempo. Pretextos que hoje a população não sabe dizer quais são – pretextos!", discursou.
Em toda sua fala, Cardozo fez paralelos com a atuação de Dilma na ditadura militar e as acusações que teve de enfrentar. Afirmou que ela mais uma vez estava "no banco dos réus" sob pretextos que desapareceriam com o tempo.
"E do que ela é acusada? Hoje nós sabemos, mas talvez daqui a algum tempo ninguém mais se lembre das acusações que são dirigidas a Dilma Rousseff, como não se lembram hoje das acusações que eram dirigidas contra ela. O que dirão? Ela foi acusada, porque ousou ganhar uma eleição, afrontando interesses daqueles que queriam mudar o rumo do país. Ela foi condenada, porque ousou não impedir que investigações contra a corrupção no Brasil não tivessem continuidade", afirmou.
Mais do que tentar desconstruir as questões técnicas das acusações - rebatidas repetidas vezes pela própria presidente, em depoimento na segunda-feira aos senadores - Cardozo apelou para o senso de justiça dos parlamentares.
"Peço a Deus que, algum dia, se Dilma Rousseff for condenada, um novo ministro da Justiça tenha a dignidade de pedir desculpas a ela. Se ela estiver viva, que se faça de corpo presente. Se estiver morta, à sua filha e aos seus netos", afirmou.
"Que se peça desculpas a Dilma Rousseff, se ela vier a ser condenada. Que a história faça justiça com ela, que a história absolva Dilma Rousseff, se vossas excelências quiserem condená-la."
Cardozo voltou a atacar o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que aceitou a abertura do processo de impeachment contra Dilma.
Afirmou que a oposição só conseguiu levar adiante o impedimento da presidente quando se juntou àqueles que queriam parar as investigações.
"E ele (Cunha), então, tornou-se o vértice de dois grandes agrupamentos: os ressentidos com a derrota de 2014 e os que queriam parar a Lava Jato", disse.
Cardozo reclamou dos discursos que atribuem o processo contra à presidente ao "conjunto da obra", e não necessariamente aos três decretos de crédito suplementar e as pedaladas fiscais.
"Alguém dirá, e eu tenho lido isso nos jornais: 'a gente sabe que não são bem esses dois fatos, é o conjunto da obra'. Como disse a senhora presidente da República, conjunto da obra se aprecia nas eleições; conjunto da obra é o povo que decide, porque a vontade popular é soberana", disse, cobrando que então os senadores aprovem a ideia de um plebiscito sobre uma nova eleição imediatamente.
"E alguém poderá me dizer: 'Não, no fundo, veja, é só a perda do mandato. Eu não estou atingindo a Dilma'. Não? É uma pena de morte política, é uma execração que se faz a uma pessoa digna. Poderão os senhores dormir com as suas consciências tranquilas daqui para a frente, se apertarem o botão 'sim'?", cobrou.
Ao sair da tribuna, Cardozo chorou. E chorou novamente depois de sair do plenário. O ministro se incomodou especialmente com a frase de advogada de acusação Janaína Paschoal, que pediu desculpas à presidente por lhe estar "causando sofrimento", mas disse que estava à frente do pedido de impeachment também pelos netos da presidente afastada.
"As palavras da acusação foram muito injustas. Para quem conhece a presidente Dilma, pedir a condenação para defender os seus netos, foi algo que me atingiu muito fortemente", explicou.
O discurso de Cardozo foi elogiado, inclusive por senadores da oposição. Ao deixar a tribuna, foi abraçado pelos parlamentares aliados da presidente, mas também por membros da base do governo, como o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE). Da mesa do Senado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) aplaudiu Cardozo - o que não havia feito na fala de Janaína Paschoal ou do outro acusador, o jurista Miguel Reali Júnior.
Questionado se sua fala poderia mudar votos a essa altura do processo, Cardozo disse que poderia ser "um crédulo", mas acredita na capacidade do ser humano de fazer justiça.
"Não é possível que as pessoas tenham a consciência tranquila para condenar nesse caso", disse. "Minha ideia não era constranger ninguém, mas tocar o sentimento que cada um tem dentro de si. Os que condenarem uma inocente vão ficar com isso dentro de si o resto da vida", disse, em entrevista.