Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos (PSB) se reuniu com prefeitos da região metropolitana do Recife e anunciou a redução da tarifa em 10 centavos (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 18 de junho de 2013 às 17h57.
São Paulo - Governos de capitais de todo o país reavaliavam nesta terça-feira as tarifas do transporte público e algumas prefeituras anunciaram a redução deste valor após a onda de manifestações da véspera que levou mais de 200 mil pessoas às ruas de todo o Brasil, num protesto que teve como estopim a elevação do preço da passagem.
Em São Paulo, epicentro das manifestações há cerca de duas semanas, o prefeito Fernando Haddad (PT), que chegou a descartar a redução da tarifa, reuniu-se com integrantes do Movimento Passe Livre (MPL), que tem organizado as manifestações, e disse que uma eventual redução do valor da passagem passa por um diálogo entre o poder público e empresários do setor.
"Eu gostaria de dizer que esse debate nos interessa. E nós queremos esgotar as possibilidades de entendimento, de compreensão desse fenômeno do transporte público, da mobilidade urbana na cidade de São Paulo", disse.
"Nós temos aí um trabalho a fazer da parte do poder público e um trabalho a fazer do ponto de vista do empresariado, porque nós não temos receita para subsidiar a tarifa para além do esforço que está sendo feito", disse, lembrando que em outros países a parcela da tarifa paga pelos governos e pelos empresários é maior do que na capital paulista.
Em Pernambuco, o governador Eduardo Campos (PSB), apontado como provável candidato à Presidência no ano que vem, se reuniu com prefeitos da região metropolitana do Recife e anunciou a redução da tarifa em 10 centavos.
"Essa decisão não é para acalmar os ânimos. O objetivo é fazer um diálogo correto. Sabemos que a pauta está em construção no debate na rua, existe um incômodo no Brasil inteiro", disse Campos em entrevista coletiva nesta terça.
Na véspera, mais de 200 mil pessoas tomaram as ruas de diversas capitais do Brasil, na maior manifestação popular no país em mais de 20 anos, para reivindicar melhores serviços públicos, combate à corrupção e protestar contra os gastos com a Copa do Mundo de 2014.
Embora a gama de insatisfações e reivindicações tenha se ampliado, principalmente nos protestos de segunda-feira, a onda de manifestações foi deflagrada pela elevação nas tarifas de transporte público em todo o país.
A grande quantidade de pessoas que foram às ruas levou a presidente Dilma Rousseff a comentar os protestos durante cerimônia sobre mineração em Brasília. Ela elogiou as manifestações, e disse que "as vozes das ruas" têm de ser ouvidas pelos governantes.
Além de Pernambuco, as Prefeituras de Porto Alegre e João Pessoa também anunciaram a redução na tarifa nesta terça.
Na capital gaúcha, o prefeito José Fortunati (PDT), disse que enviou à Câmara Municipal nesta terça um projeto de lei que desonera o Imposto Sobre Serviços (ISS) que incide sobre o transporte de ônibus, o que possibilitaria reduzir a tarifa dos 2,85 reais atuais para 2,80 reais.
Em Porto Alegre a manifestação de segunda-feira reuniu milhares de pessoas, que saíram a partir da prefeitura em passeata pelo centro da cidade. Houve registros de confrontos com a polícia, e a capital gaúcha contabilizou agências bancárias com vidraças quebradas, pelo menos um ônibus queimado e dezenas de conteinêres de lixo incendiados.
Fortunati disse também que vai formalizar pedido ao governador Tarso Genro (PT) para que encaminhe projeto de lei ao Legislativo estadual que reduza o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o óleo diesel consumido pelo setor de transporte coletivo.
Em João Pessoa, o prefeito Luciano Cartaxo (PT), anunciou redução de 10 centavos no preço da tarifa, para 2,20 reais a partir de julho. Segundo ele, a queda será possível graças à desoneração de impostos sobre o transporte público, promovida pelo governo federal no início deste mês.
Jovens nas ruas
No início do ano, o governo federal convenceu alguns Estados e municípios a segurarem o reajuste da tarifa, inicialmente previsto para janeiro, até o meio do ano por conta dos temores com a alta da inflação.
No início de junho, o governo anunciou a desoneração de PIS/Cofins sobre o setor para que o aumento fosse minimizado.
Antes das enormes manifestações de segunda-feira, outras capitais já haviam reduzido suas tarifas, casos de Curitiba e de Manaus.
"Quando a Dilma anunciou que reduzia a zero o PIS/Cofins, eu mandei fazer os cálculos. O cálculo apontava menos 10 centavos, eu tirei os 10 centavos", disse o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), que no início do mês anunciou a queda na tarifa para 2,90 reais.
Virgílio, que já foi senador, elogiou as manifestações de segunda-feira. "Exageros à parte, é muito melhor ter jovens nas ruas do que acomodados em casa", comentou.