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Calor extremo no Atlântico Sul supera El Niño e agrava caos no clima no Brasil

Anomalia de temperatura é quatro vezes maior que variação natural e traz risco de desastres

Calor: O grande aquecimento dos oceanos observado desde o ano passado é resultado de mudanças climáticas (	NurPhoto/Getty Images)

Calor: O grande aquecimento dos oceanos observado desde o ano passado é resultado de mudanças climáticas ( NurPhoto/Getty Images)

Agência o Globo
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Publicado em 10 de janeiro de 2024 às 09h48.

Última atualização em 11 de janeiro de 2024 às 14h41.

O verão costuma ser sinônimo de praia, mas em 2024 será de caldeirão. O Atlântico Sul, que influencia diretamente o clima do Brasil, ferve. Sua anomalia de elevação de temperatura é quatro vezes maior que a variação natural e apequena à que caracteriza um El Niño, no Oceano Pacífico, considerado uma das maiores forças da Terra. E a tendência é de que o calor vá piorar até março.

O aquecimento do Atlântico está entre os fenômenos atribuídos esta semana às mudanças climáticas pelo XAIDA (‘eXtreme events: Artificial Intelligence for Detection and Attribution), um consórcio integrado por 16 centros de pesquisa climática europeus.

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— O grande aquecimento dos oceanos observado desde o ano passado é resultado de mudanças climáticas. O El Niño sozinho não explica o que vivemos. E 2024 já começou fervendo. Infelizmente, com esse cenário, o Hemisfério Sul vai arder neste verão, que mal começou — afirma Regina Rodrigues, coordenadora do grupo que estuda o Atlântico e suas ondas de calor na Organização Meteorológica Mundial (OMM).

A ciência considera que um El Niño está configurado quando a temperatura na região equatorial do Pacífico está um desvio padrão acima da média. Cerca de 0,5 grau Celsius por três meses consecutivos. Parece pouco, mas trata-se de aquecer uma área maior do que a Amazônia Legal a até 100 metros de profundidade.

Mas o atual aquecimento do Atlântico Sul está quatro desvios padrões acima da média, explica Rodrigues, professora de Oceanografia e de Clima da Universidade Federal de Santa Catarina.

Em dezembro, o Atlântico Sul esteve entre 2 graus Celsius e 3 graus Celsius acima da média. Continua quente em janeiro. Isso é muito grave, combustível para desequilíbrios no mar e na terra, frisa Rodrigues.

 

Em 2023, por ora o ano mais quente da História, foi o Atlântico Norte que chamou a atenção, com água de até 38 graus Celsius produzindo tempestades. Estava tão poderoso que mudou o típico padrão do El Niño, que costuma diminuir a frequência de furacões no Atlântico.

Em setembro passado, por exemplo, o Atlântico Norte gerou o dobro do número de ciclones que o Pacífico, mesmo estando este sob o El Niño. O Pacífico somou 37 ciclones contra 74 do Atlântico Norte.

Mas, agora, verão no Hemisfério Sul é por aqui que as coisas vão, literalmente, pegar fogo. Pois, somada ao aquecimento do planeta, no verão se intensifica a radiação solar recebida pelo mar. Como a temperatura da água tem uma inércia maior — demora mais para esquentar e para esfriar — o pico de temperatura do Atlântico Sul deve ocorrer em março, diz Rodrigues.

A cientista diz que janeiro ainda deve ter algum refresco, trazido pelas monções, isto é, os canais de umidade das zonas de convergência intertropical (ZCIT) e do Atlântico Sul (ZCAS).

— Já em fevereiro pode ficar mais seco e quente, com piores condições de calor. As chuvas, quando vierem, podem ser devastadoras porque não apenas vem concentradas, quanto encontram solo seco e rachado, onde a água não infiltra e favorece as enxurradas — salienta Rodrigues.

Ela não descarta novos desastres, como o ocorrido no litoral Norte de São Paulo, durante o Carnaval passado, quando foi medida a maior chuva do Brasil.

A mais recente previsão da Agência de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA) diz que o Atlântico Tropical deverá continuar com condições para ondas de calor marinhas até junho de 2024, especialmente na região ao norte da linha do equador, influenciando o clima da Amazônia.

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