Brasil é o sétimo país no ranking de visitação aos EUA (Timothy A. Clary/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de setembro de 2011 às 07h45.
São Paulo - Para dar conta de atender à impressionante demanda de solicitações de vistos, o número de agentes nos consulados americanos no Brasil deve dobrar até o próximo verão, conforme adiantou ao site de VEJA o cônsul geral da Embaixada americana no país, Donald Jacobson. Nos últimos dez anos, o volume de autorizações concedidas aumentou mais de 144%, passando de 223.729 em 2001 para 546.866 em 2010. Os dados do ano passado ainda são preliminares, portanto, o salto deve ser ainda maior, mesmo levando-se em consideração a queda sofrida por todos os países a partir de 2002, logo após o 11 de Setembro. Mas são principalmente as estimativas para este ano que fizeram com que os consulados repensassem suas equipes para atender os brasileiros: 800.000 vistos devem ser emitidos, um recorde histórico. Somente em São Paulo, onde a espera pelo agendamento da entrevista passa de três meses, são liberados 2.300 documentos por dia, mais do que em qualquer outro lugar do mundo.
“Nossos critérios continuam os mesmos, são os brasileiros que estão fazendo um bom trabalho para terem os vistos concedidos”, destaca Donald Jacobson. Neste quesito, o Brasil perde somente para o México, que no ano passado conseguiu mais de 1 milhão de autorizações. A diferença é que no mesmo período de comparação, de 2001 a 2010, o volume de vistos que os americanos cederam a seus vizinhos teve uma queda considerável de mais de 120%, em uma trajetória bastante oscilante - e em sentido bem oposto à visível evolução brasileira (veja o gráfico abaixo). Os dois países figuram no ranking das dez nações que mais enviam turistas aos Estados Unidos, segundo o departamento de Estado. México ocupa a 2ª colocação, atrás apenas do Canadá, Brasil é o 7º, na frente de grandes potências como a Itália.
Turistas - Mas a vantagem não é apenas do Brasil. Em 2010, o país enviou 1,2 milhão de turistas aos Estados Unidos (confira o ranking ao lado) - maior volume em 14 anos - que injetaram 5,9 bilhões de dólares na economia americana. “O crescimento da economia brasileira e a facilidade para os brasileiros conseguirem vistos andam de mãos dadas”, admite o cônsul. “À medida que a economia fica mais forte e as oportunidades para os brasileiros crescem e mais pessoas conseguem empregos melhores, fica mais claro que eles vão voltar para o Brasil, o que afeta diretamente as taxas de aprovação de vistos”, completa, referindo-se às documentações exigidas para que o visitante comprove vínculos e, assim, garanta seu retorno para casa. Esse é o principal ponto analisado pelos entrevistadores a quem cabe conceder (ou não) o visto, depois, é claro, de se certificar de que não se trata de um criminoso. “Uma das nossas maiores prioridades é ter certeza de que eles são quem eles dizem que são e, depois, se eles vão voltar ao seu país de origem”, detalha Jacobson.
Visa Waiver - Agora, se todo esse processo parece bom para ambas as partes - atendendo aos desejos dos brasileiros e ajudando a alimentar o turismo americano -, por que, então, não se libera a obrigatoriedade do visto? A US Travel Association, empresa que reúne a indústria do turismo dos Estados Unidos, calcula que, se o Brasil entrasse no programa Visa Waiver (que dispensa a autorização para viagens de até 90 dias), o número de visitantes iria dobrar, a exemplo do que aconteceu com a Coreia do Sul, beneficiada em 2008. “Se o Brasil entrasse no programa, acreditamos que 2 milhões de turistas entrariam nos Estados Unidos todo ano, gastando muito dinheiro e fazendo muitos negócios, o que seria um benefício para os dois países”, estima a vice-presidente de assuntos de governo da US Travel, Patricia Rojas.
“Os visitantes que vêm para turismo ou negócios têm um impacto enorme na economia americana”, enfatiza Patricia, acrescentando que cada um desses brasileiros gasta, em média, 5.000 dólares a cada visita, o que resulta por exemplo na criação de 42.000 empregos diretos nos Estados Unidos. “O Brasil é um dos nossos mercados top em crescimento. Há outros países, como a Grã-Bretanha e a França cujo número de visitantes é maior, mas eles gastam menos do que os brasileiros”, completa ela. Ainda assim, para o cônsul geral da Embaixada americana, ainda está distante o dia em que os brasileiros terão entrada livre.
No ano passado, o embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon disse a VEJA que o governo "estuda seriamente" a suspensão da exigência de visto. Contudo, pouco desse processo avançou desde então. Para ser beneficiado, o Brasil precisa primeiro aumentar a taxa total de aprovação de vistos, que hoje é de 95%. O mínimo exigido é 97%. Donald Jacobson explica que essa diferença de 2% parece pequena, mas pode levar anos para ser atingida. E, apesar de ser um grande salto se comparado há dez anos - quando apenas 45% dos brasileiros voltavam da entrevista com o visto concedido - há muitas outras lacunas a serem preenchidas, como produzir passaportes mais seguros e criar políticas antiterroristas. Então, enquanto o país não é contemplado, a melhor maneira é aproveitar a fase de "boas vindas" e o alto índice de aprovação atual para ir atrás da autorização que permite cruzar a fronteira da América.