Bolsonaro sobre voto do Brasil: Cuba é ditadura e deve ser tratada assim
Com uma mudança do posicionamento adotado desde 1992, o país votou contra uma condenação da ONU a um embargo feito à Cuba
Reuters
Publicado em 7 de novembro de 2019 às 20h43.
Última atualização em 7 de novembro de 2019 às 21h06.
Brasília — O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira que Cuba é uma ditadura e que precisa ser tratada desta forma, ao comentar a mudança na tradição diplomática brasileira com o voto contrário na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) contra uma resolução que condena e pede o fim do embargo dos Estados Unidos à ilha.
"Saiu notícia agora há pouco, conversei com o embaixador Ernesto Araújo ontem. Pela primeira vez o Brasil acompanhou os Estados Unidos na questão do embargo para Cuba", disse Bolsonaro em sua transmissão semanal em uma rede social.
"Então nós somos a favor do embargo para Cuba, afinal de contas, aquilo é uma democracia? Não é. É uma ditadura e tem que ser tratada como tal. O Brasil vai mudando a sua posição, mais à centro-direita", acrescentou o presidente.
Mais cedo, em sua conta no Twitter, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, defendeu a mudança na posição histórica da diplomacia brasileira como uma defesa da "verdade" e disse que é hora de parar de "bajular Cuba".
"Nada nos solidariza com Cuba", escreveu o ministro em uma série de oito posts em sua conta no Twitter. "Os países em desenvolvimento votam sempre a favor de Cuba. Desta vez o Brasil votou a favor da verdade."
A resolução contra o embargo é apresentada todos os anos na Assembleia-Geral da ONU desde 1992 e, na verdade, argumenta que o embargo é contrário ao livre comércio e à livre navegação internacional.
Este ano, como nos anteriores, a resolução foi aprovada com votos favoráveis de países em desenvolvimento e países desenvolvidos --187 votos favoráveis no órgão que tem 193 membros. Apenas Estados Unidos, Israel e Brasil votaram contra, com Colômbia e Ucrânia se abstendo. Moldávia deixou de votar.
A resolução, que foi aprovada por esmagadora maioria pelo 28º ano seguido, tem peso político, mas somente o Congresso dos EUA pode colocar fim ao embargo, que dura mais de 50 anos.
Segundo o ministro, Cuba nos últimos 60 anos se tornou "um centro regional de promoção e assistência a ditaduras comunistas" e tentou impor esse modelo na América Latina através do Foro de São Paulo.
"Cuba é hoje o principal esteio do regime Maduro na Venezuela, o pior sistema ditatorial da história do continente", defendeu. "Então chega de bajular Cuba. A influência que Cuba possui entre os países em desenvolvimento no sistema ONU é uma vergonha e precisa ser rompida."
A Reuters consultou o Itamaraty sobre uma posição oficial a respeito do voto e foi informada de que a manifestação seria feita pelo chanceler através da sua rede social.
O voto brasileiro foi mais um sinal forte do alinhamento do governo brasileiro com o presidente norte-americano Donald Trump, de quem o presidente Jair Bolsonaro já se declarou fã. A decisão, no entanto, rompeu não apenas com a tradição diplomática brasileira na ONU, mas com a defesa do livre comércio que até hoje caracterizou a ação internacional do país.
O embaixador brasileiro na ONU, Mauro Vieira, tentou nas últimas semanas reverter a decisão do Itamaraty para que o Brasil pelo menos optasse por uma abstenção, mas sem sucesso.
Municípios
Bolsonaro defendeu a proposta do ministro Paulo Guedes, entregue esta semana, de extinguir municípios com menos de 5 mil habitantes e arrecadação própria inferior a 10% da receita.
"Se depois de cinco anos o município não tiver uma renda superior a 10%. Noventa por cento da receita do município vir do FPM (Fundo da Participação dos Municípios)? Pelo amor de Deus. Não dá nem pra pagar os vereadores que o município faz", disse Bolsonaro. "A ideia não é perseguir ninguém, mas esse município tem que voltar a ser distrito."
Bolsonaro também afirmou que "o Congresso irá aperfeiçoar a proposta". "Eu não sou o Thanos, que faz assim com o dedo e resolve o problema", disse o presidente em referência aos filmes Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato, em que o vilão cinematográfico elimina metade da população universal com um estalar de dedos.
Sobre a revisão do acordo de redistribuição de recursos entre a União, Estados e municípios, o presidente afirmou que não é dele a proposta. "Essas PECs são patrocinadas por senadores, não pelo governo federal. Participamos com a equipe do (ministro da Economia) Paulo Guedes para melhor fazer esse pacto". "Não é minha a proposta. São (sic) dos senadores, mas eu assino embaixo."
Bolsonaro também afirmou estar à frente de um governo "extremamente democrático". "Conversei com o embaixador Ernesto Araújo e pela primeira vez o Brasil acompanhou os Estados Unidos da América em um embargo a Cuba." Segundo o presidente, o país caribenho "democracia não é; é uma ditadura e precisa ser tratada como tal".
Bolsonaro citou ainda que a China habilitou sete novas plantas em Santa Catarina para exportação de suínos. Ele referia-se ao anúncio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de que autoridades sanitárias chinesas tornaram aptas mais sete plantas frigoríficas catarinenses a exportar subprodutos de carne suína para aquele país.
Enem
Bolsonaro elogiou o ministro da Educação Abraham Weintraub pela aplicação da primeira prova, de duas, do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ocorreu no último domingo, 3. "Parabéns ao MEC e ao ministro Abraham Weintraub." "Não houve desinformação nas questões de múltipla escolha", afirmou Bolsonaro.
O presidente também elogiou a escolha do tema da redação, sobre a democratização do acesso ao cinema. "O tema já não foi aquele tema polêmico, lembra? A linguagem 'não-sei-de-quem'", disse o presidente em referência à prova do ano passado, que cobrava uma questão de interpretação de texto sobre, segundo o enunciado, o "'dialeto secreto' de gays e travestis". Segundo o presidente a questão "estimula a criançada a se interessar por 'aquele assunto' que não leva a lugar nenhum".
"Eu espero, Weintraub, que na próxima redação caia temas mais científicos, técnicos, ou até culturais, mas que interesse a todos nós". Bolsonaro também afirmou que a escolha do tema não "teve participação" dele. "Zero. Não tive conhecimento nenhum".