"O governo está usando essa questão terrorista, política do Norte da África, para importar, junto com pessoas de bem, a escória do mundo”, disse Jair Bolsonaro (Gabriela Korossy/Câmara dos Deputados/Fotos Públicas)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2015 às 20h30.
São Paulo - Posições e declarações polêmicas não são novidade para o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Mas o parlamentar sempre parece procurar se superar, como é o caso na sua nova manifestação, agora para criticar a política de receber “de braços abertos” – como disse a presidente Dilma Rousseff recentemente – os refugiados de várias partes do mundo.
O alto número de sírios que já estão no Brasil, fugindo da guerra civil que assola a nação no Oriente Médio, serviu de combustível para Bolsonaro exalar um discurso xenófobo e generalista em relação ao que ele chama de “falta de controle” com aqueles que estão desembarcando no país.
Nem que, para sustentar o seu raciocínio, ele tenha colocado Norte da África e Oriente Médio como uma coisa só - o que, geograficamente, não corresponde à realidade:
“O Norte da África vive atualmente uma situação político-terrorista, onde gente de toda origem e credo está saindo daquela região, que transformou-se na antessala do inferno. Junto com essas pessoas, muitas de bem, outras de péssima índole embarcam nessa onda.
Logicamente não podemos admitir isso, junto com algumas pessoas de bem, outras com esse tipo de formação, de cultura totalmente independente da nossa, virão para cá. Estamos vendo que o Estado Islâmico está infiltrando gente sua”.
Sobrou até mesmo para Cuba na hora de defender o seu ponto de vista. E o tom, para desgosto do próprio, chegou a ser ‘quase elogioso’:
“Algum cubano que está nesse Mais Médicos, caso peça asilo, ele terá? Ele não terá. Pessoas de boa índole não são bem vindas no Brasil, e o governo está usando essa questão terrorista, política do Norte da África, para importar, junto com pessoas de bem, a escória do mundo”.
Sim, você não entendeu errado: a linha é tênue entre refugiados, terroristas e a ‘escória do mundo’, pelo menos para o parlamentar do PP, que quer ser candidato à Presidência da República em 2018.
Audiência debate intolerância na Câmara
“Xenofobia é relacionada a outras intolerâncias, como religiosa, de gênero, linchamentos públicos e aumento da violência policial”, disse a pastora Romi Márcia Bencke, representante do Conselho Mundial de Igrejas Cristãs no Brasil, em audiência realizada nesta quarta-feira (23) na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara, em Brasília.
Ao contrário das palavras de Bolsonaro, o encontro debateu os recentes ataques xenófobos registrados pelo país contra imigrantes.
Eliza Odina Conceição Silva Donda, representante do Projeto Missão Paz, criticou as generalizações que reforçam o preconceito existentes em setores da sociedade.
“O imigrante ainda é visto como uma ameaça, um criminoso. Não pode haver essa generalização”.