Bolsonaro e Guedes: entre a ameaça de greve dos caminhoneiros e o liberalismo (Adriano Machado/Reuters)
Da Redação
Publicado em 16 de abril de 2019 às 06h24.
Última atualização em 16 de abril de 2019 às 06h50.
Depois de uma queda de quase 8% no valor das ações ordinárias da Petrobras e de uma perda de 32,4 bilhões de reais em valor de mercado, o presidente Jair Bolsonaro convocou para esta terça-feira, 16, uma reunião com ministros do governo e executivos da companhia. O plano do presidente é usar o encontro de hoje para entender os cálculos que levaram ao aumento de 5,7% no preço do diesel, contrariando, assim, a política de não-intervenção de seu próprio governo.
Além de Bolsonaro e do chefe da pasta de economia, Paulo Guedes, a reunião desta terça-feira também contará com a presença de membros da equipe técnica da Petrobras, do presidente da petroleira, e dos ministros da infraestrutura, Tarcísio Freitas, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Assim que o veto começou reverberar no mercado na última sexta-feira, Bolsonaro reiterou que “não é economista” e que a companhia terá que o convencer sobre da necessidade do reajuste.
Ontem, num exercício de retórica pouco convincente, Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, afirmou que a empresa é “livre” para definir seus preços, mas que o governo alertou, na semana passada, para os riscos do reajuste do diesel. Aconselhado pelo ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni, Bolsonaro justificou seu veto como uma tentativa de evitar uma novas mobilizações por parte dos caminhoneiros. Em 2018, uma alta semelhante levou a uma greve que paralisou o país por vários dias e trouxe um imenso prejuízo aos cofres públicos.
Segundo o jornal O Globo, o governo deve anunciar nesta terça-feira um pacote de medidas para contentar os caminhoneiros. Entre elas estão uma linha de crédito especial do BNDES, obras de infraestrutura em estradas e maior fiscalização para o cumprimento da tabela do frete, uma invenção brasileira que tira a competitividade de toda a cadeia produtiva nacional.
Segundo anunciou o porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros, foi o próprio Bolsonaro quem pediu pela reunião, preocupado com o alvoroço que seu veto causou para a petrolífera. Barros ressaltou, também, que não é do feitio do governo se intrometer na política de preços da empresa, por isso mesmo o reajuste será conversado hoje. “Por princípio, o presidente entende que a Petrobras, uma empresa de capital aberto, sujeita às regras de mercado, não deve sofrer interferência política em sua gestão. Aliás, uma das razões para a crise que vínhamos incorrendo em governos passados”, disse.
Ontem, as ações da Petrobras subiram apenas 0,4%, à espera da reunião de hoje. Já se sabe que não haverá anúncio de aumento nesta terça-feira. Uma visão de longo prazo sobre os preços dos combustíveis, porém, deve ser anunciada. Para investidores, uma coisa é certa: quanto menos a diretoria da Petrobras pisar em Brasília, melhor.