Bolsonaro cresceu mais do que Lula em todos os estados no 2º turno
Avanço de Bolsonaro desde o primeiro turno explica o resultado nacional apertado, com vantagem de Lula caindo de 6 milhões para pouco mais de 2 milhões de votos
Carolina Riveira
Publicado em 31 de outubro de 2022 às 20h19.
Última atualização em 31 de outubro de 2022 às 20h52.
Na passagem do primeiro para o segundo turno da eleição presidencial, Jair Bolsonaro (PL) conseguiu maior quantidade de "novos votos" do que o ex-presidente Lula (PT) , embora o petista tenha levado a melhor na contagem total.
Na comparação com suas votações no primeiro turno, Lula ganhou quase 3,1 milhões de novos votos e Bolsonaro ganhou 7,1 milhões. Em número absoluto de votos, Bolsonaro também cresceu mais do que Lula em todos os estados.
Esse crescimento não foi suficiente para impedir a vitória do petista, que somou 60,35 milhões de eleitores ( 50,9% dos votos válidos ) e se tornou o presidente eleito do Brasil.
Ainda assim, o avanço de Bolsonaro explica o resultado nacional apertado, com pouco mais de 2 milhões de votos de vantagem para Lula (abaixo dos mais de 6 milhões de votos de vantagem que Lula tinha ao final do primeiro turno).
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O avanço maior de Bolsonaro desde o primeiro turno ocorreu, inclusive, em todos os estados da região Nordeste, reduto eleitoral de Lula. (Veja no gráfico abaixo)
Esse crescimento no Nordeste não alterou o resultado na região, e Lula seguiu ganhando em quase todos os estados nordestinos com mais de 60% ou até 70% dos votos ( exceção de Alagoas, em que Lula ganhou com 58,7% ). Ainda assim, um dos objetivos da campanha de Lula era ampliar ainda mais a vantagem contra Bolsonaro no Nordeste, o que não ocorreu na dimensão prevista.
Além disso, em estados da região Norte, como Acre, Amazonas e Amapá, Lula chegou a encolher, perdendo votos. O Amapá foi, também, o único estado que mudou de lado, com Lula perdendo no segundo turno após vencer no primeiro.
A "redução de danos" no Sudeste
Assim, no agregado, Lula só ganhou a eleição porque também levou votos valiosos em estados populosos onde Bolsonaro venceu.
O maior destaque foi a região Sudeste, que tem os três maiores colégios eleitorais do Brasil: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Em 2018, Bolsonaro venceu no Sudeste com folga. Em 2022, se manteve na dianteira e ganhou em três dos quatro estados da região (com exceção de Minas Gerais, onde Lula ganhou ).
O resultado em detalhes, no entanto, mostra que o desempenho do atual presidente piorou nos estados sudestinos na comparação com 2018, quando Bolsonaro foi eleito presidente contra o então candidato do PT, Fernando Haddad.
Um dos mantras entre cientistas políticos que explicam essa diferença é a análise de que "votos de Lula não são votos do PT", dada a popularidade pessoal do presidente eleito, o que teria ficado claro na eleição de 2018, em que Lula não disputou.
Seja como for, esse melhor desempenho do PT (e pior desempenho de Bolsonaro) na comparação com a última eleição não é exclusivo do Sudeste, e pode ser visto em todos os estados. Mas o movimento gera maior impacto no resultado nacional exatamente quando vindo dos maiores colégios eleitorais.
Outro destaque na "redução de danos" da campanha petista foi o Rio Grande do Sul, que é o quinto maior colégio eleitoral do país e onde a vantagem de Bolsonaro também caiu, puxado por boa votação de Lula na região metropolitana.
Em São Paulo (2018 x 2022):
- Em 2018, Bolsonaro teve 8,1 milhões a mais de votos do que Haddad em SP;
- Em 2022, Bolsonaro teve 2,7 milhões de votos a mais do que Lula;
Rio de Janeiro (2018 x 2022)
- No Rio, em 2018, Bolsonaro teve quase 3 milhões de votos a mais do que Haddad;
- Em 2022, Bolsonaro teve 1,2 milhão de votos a mais do que Lula;
Minas Gerais (2018 x 2022)
- Em Minas, em 2018, Bolsonaro teve quase 1,7 milhão de votos a mais do que Haddad;
- Em 2022, Bolsonaro perdeu em Minas por uma margem apertada, com quase 50 mil votos a menos do que Lula.
Rio Grande do Sul (2018 x 2022)
- No RS, em 2018, Bolsonaro teve mais de 1,6 milhão de votos a mais do que Haddad;
- Em 2022, Bolsonaro teve pouco menos de 900 mil votos a mais do que Lula.
O resultado melhor de Lula na comparação com Haddad em 2018 é puxado por algumas cidades grandes decisivas, como São Paulo e Porto Alegre, além de suas respectivas regiões metropolitanas, onde Haddad havia perdido, mas Lula venceu.
Só na cidade de São Paulo, que tem mais de 9 milhões de eleitores (quase um terço de todos os eleitores do estado), Lula teve 53,5% dos votos, contra 46,5% de Bolsonaro. A vitória na capital paulista rendeu ao petista um saldo de quase 500 mil votos, valiosos em uma eleição nacional tão apertada.
Mesmo com a vitória de Bolsonaro no estado, puxado por votos do interior, só a cidade de São Paulo deu maior saldo a Lula, em números absolutos, do que muitos estados inteiros deram a Bolsonaro, como Rondônia, Roraima ou Mato Grosso do Sul. A capital paulista também ficou perto de gerar maior saldo de votos para Lula do que todo o estado do Mato Grosso gerou para Bolsonaro (por lá, o presidente teve 563 mil votos a mais do que Lula).
Os limites da frente ampla
Ao mesmo tempo, a diferença entre o primeiro e o segundo turno significa que a maior parte dos eleitores de outros candidatos escolheram Bolsonaro em vez de Lula, mesmo com apoio de nomes como Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) em uma frente ampla na campanha do petista.
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O rol de candidatos no primeiro turno incluía, ainda, nomes que não apoiaram Lula, como Soraya Thronicke (União Brasil) e Luiz Felipe D'Ávila (Novo). Mas os dois, juntos, somaram pouco menos de 1,2 milhão de votos, enquanto Ciro e Tebet somaram mais de 8,5 milhões.
Ou seja, para que Bolsonaro tivesse uma variação de mais de 7 milhões, fatia importante de vários eleitorados, sobretudo de Ciro e Tebet, teve de migrar para o atual presidente.
É algo que já havia ocorrido na reta final do primeiro turno, em uma movimentação calcada no antipetismo, como aEXAMEmostrou. Mas o resultado do segundo turno mostra que houve espaço, ainda, para uma nova leva de apoio a Bolsonaro — ainda que não suficiente para garantir a reeleição do atual presidente.