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Bolsa para futuros parlamentares atrai de coronel a ativista LGBT

RenovaBR é um projeto empresarial criado para capacitar futuros candidatos ao Legislativo

Congresso: maioria dos selecionados para o RenovaBR ainda não é filiada a partidos (Antonio Scorza/Getty Images)

Congresso: maioria dos selecionados para o RenovaBR ainda não é filiada a partidos (Antonio Scorza/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 08h40.

São Paulo - A primeira turma de bolsistas do RenovaBR, projeto empresarial criado para capacitar futuros candidatos ao Legislativo, é formada por um grupo que vai de coronel do Exército a ativistas do movimento LGBT.

Entre os selecionados está o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, que deixou a pasta em novembro de 2016 - depois de tornar público que estaria sofrendo pressão do então ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, para liberação de um empreendimento imobiliário de seu interesse.

"Nossa primeira turma tentou captar esse vento de mudança na política", disse o idealizador do RenovaBR, o empresário Eduardo Mufarej.

Após um processo de seleção que contou com testes escritos e entrevistas presenciais, os cem escolhidos já frequentam aulas na sede da Sociedade Brasileira de Coaching, na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo. O grupo é formado por 74 homens e 26 mulheres.

Entre os participantes, 62% se declarou branco. Já pretos, pardos e indígenas correspondem a 38%. A idade média dos escolhidos é de 35 anos.

Os Estados com mais representantes, e que também tiveram o maior número de escritos, foram São Paulo (20) e Rio (17). O RenovaBR ainda tem 50 vagas remanescentes - que deve preencher com interessados de Estados com pouca representatividade na primeira seleção.

A maioria dos selecionados ainda não é filiada a partidos. Mas no grupo existem pessoas ligadas a Rede, Novo, PPS, PSDB, PSC, PR, PTdoB e outros. Além disso, o projeto também conta com representantes dos chamados movimentos cívicos, como Agora! e Livres. Por regra do próprio RenovaBR, pré-candidatos que já ocuparam cargos políticos ficaram de fora do processo, mas não houve restrições para quem já se lançou em uma candidatura e não obteve êxito eleitoral. O valor da bolsa mensal tem uma variação de R$ 5 mil a R$ 12 mil.

O projeto é financiado por empresários, como o próprio Mufarej, o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, o publicitário Nizan Guanaes e o empresário Abílio Diniz. Entre os apoiadores está o apresentador e quase presidenciável Luciano Huck (que não participou do processo de seleção).

Oficialmente, o projeto não divulga uma projeção de quantos candidatos gostaria de ver eleito em outubro, mas internamente fala-se em 20%. Além da formação política, os bolsistas têm duas sessões de coaching por semana - cujo objetivo é promover autoconhecimento e potencialização de talentos.

Mistura

No encontro desta terça-feira, 30, o grupo assistiu uma aula de liderança positiva, com os professores Villela da Matta, precursor do coaching no Brasil e Flora Victoria, mestre em Psicologia Positiva Aplicada pela Universidade da Pensilvânia.

Basicamente, os quase candidatos foram instigados a pensar sobre suas motivações ao escolherem o caminho da política. As respostas seguiram por uma linha segura e politicamente correta como "justiça", "amor", "indignação" e "esperança".

O grupo não é homogêneo - e foi deliberadamente montado para representar diversos setores da sociedade. Na aula foi possível, por exemplo, encontrar o ex-comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais, coronel Marco Antônio Badaró Bianchini, de 52 anos.

Assim como a maioria dos candidatos, ele ainda está decidindo se sua candidatura será para deputado federal ou estadual. O militar tem conversado com o PSC e tem como principal bandeira a segurança pública.

Ao lado dele, está Italo Alves, de 25 anos, militante da causa gay, nascido em Fortaleza. Segundo Alves, seu principal objetivo é o de "colocar o coronelismo e a corrupção cearense no museu".

"Decidi entrar para a política por conta da minha história pessoal, por te sofrido preconceito e violência no ensino médio por causa da minha sexualidade", afirmou o pré-candidato a deputado federal da Rede.

Pessoas que nas redes sociais estariam "guerreando virtualmente" dividem mesas de debate.

O carioca Vitor Del Rey, de 33 anos, por exemplo, tem uma história de militância e foi o responsável por criar o primeiro coletivo negro na FGV-RJ.

Ainda sem partido, Rey é próximo das pautas de esquerda e de movimentos sociais. Ele, nos últimos dias, tem almoçado e conversado bastante com a jornalista baiana Priscila Chammas, de 33 anos, que se aproximou da política participando das manifestações pró-impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff.

Priscila estava no PSL, mas assim como os seus pares do Livres, deixou o partido depois do anúncio da entrada do deputado Jair Bolsonaro no partido. "Acredito em uma sociedade livre da presença do Estado."

Para além do embate ideológico, alguns selecionados destacam-se pela trajetória de vida. Esse é o caso de Alisson Julio, de 29 anos, analista de sistema e portador de amiotrofia muscular espinhal genética.

"Quero defender a bandeira da inclusão para pessoas portadoras de deficiência. Mostrar que nós podemos e devemos ter voz na política", disse.

No mesmo grupo, é possível encontrar alguns "famosos", como o ex-ministro e o ator Wellington Nogueira, um dos criadores do grupo Doutores da Alegria (companhia de teatro que visita crianças e adultos em hospitais).

Segundo bolsistas, a presença de Calero causou um certo estranhamento no começo, mas "a barreira já teria sido vencida".

A organização do Renova BR e o próprio Calero negam que a entrada dele tenha sido "combinada" - ele teria passado por todas as fases de seleção como os outros participantes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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