Braga Netto é acusado de ameaçar eleições; ministro nega
Presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, disse ter conversado com o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, sobre ter condicionado as eleições do ano que vem ao voto impresso
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de julho de 2021 às 10h53.
Última atualização em 22 de julho de 2021 às 13h10.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso , disse ter conversado com o presidente da Câmara dos Deputados , Arthur Lira (PP-AL), e com o ministro da Defesa, general Walter Braga Netto , sobre o chefe da Defesa ter condicionado as eleições do ano que vem ao voto impresso, conforme defende o presidente Jair Bolsonaro . “Ambos desmentiram enfaticamente, qualquer episódio de ameaça às eleições”, declarou Barroso, no Twitter.
- O mundo está mais complexo, mas dá para começar com o básico. Veja como, no Manual do Investidor
Ainda em sua conta no Twitter, o presidente do TSE destacou : “Temos uma Constituição em vigor, instituições funcionando, imprensa livre e sociedade consciente e mobilizada em favor da democracia.”
Matéria do Estadão diz que no dia 8 deste mês, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), recebeu um duro recado do ministro da Defesa WalterBragaNetto, por meio de um importante interlocutor político. "O general pediu para comunicar, a quem interessasse, que não haveria eleições em 2022, se não houvesse voto impresso e auditável". Ao dar o aviso, o ministro estaria acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
No mesmo dia em que o fato teria ocorrido, o próprio presidente Jair Bolsonaro repetiu publicamente a ameaça. "Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições", afirmou Bolsonaro a apoiadores, naquela data, na entrada do Palácio da Alvorada. Nas últimas semanas, o chefe do Executivo tem subido o tom das ameaças ao processo eleitoral e das alegações sobre fraude nas eleições.
Renan pede exoneração
O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), pediu a exoneração do ministro da Defesa, generalBragaNetto, após o Estadão revelar ameaças contra a realização das eleições feitas pelo ministro e que foram levadas até ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O senador classificou as declarações como "irresponsáveis e inconsequentes" e disse que o Congresso "não pode admitir" ameaças.
Em uma série de publicações no Twitter, Renan disse que a democracia brasileira é alvo de "gravíssima ameaça, agora relevada", sob tentativa de "amedrontar pelo terror". "BragaNetto se revela: foi colocado onde está exatamente para isso, para ameaçar as instituições democráticas", afirmou o relator da CPI.
Renan classifica que o ministro é um "elemento perigoso" para a democracia. "O Brasil não pode se sujeitar ao capricho de mantê-lo onde está", finalizou.
Sermões populistas
Durante discurso de abertura no II Encontro Internacional Democracia na Pós-Pandemia, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin não citou nominalmente o ministro da Defesa, mas disse que bastava ler os jornais de hoje para notar que populistas "buscam naturalizar um eventual descarte da consulta popular o que na prática significa restaurar um regime de exceção."
A fala do ministro foi centrada na defesa do processo eleitoral e no "encalço populista diante de uma desordem informativa e de ameaças, por ora, verbais à democracia". Segundo ele, neste sentido, é "fundamental a defesa da engenharia eletiva contra a franca nocividade de sermões populistas que embalam ameaças verbas à democracia", afirmou.
Como mostrou o Estadão, um ministro do Supremo a par do episódio avaliou que o comando militar procurou repetir agora o episódio protagonizado pelo então comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, que, em post com 239 caracteres publicado no Twitter no dia 3 de abril de 2018, tentou constranger a Corte para que não fosse concedido um habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
- Entenda como as decisões da Câmara e do Senado afetam seus investimentos.Assine a EXAME.
O podcast EXAME Política vai ao ar todas as sextas-feiras. Clique aqui para seguir no Spotify , ou ouça em sua plataforma de áudio preferida, e não deixe de acompanhar os próximos programas.