Barril do petróleo pode chegar a US$ 130: como ficam preços no Brasil?
Novas limitações à compra do petróleo russo e aumento da demanda na China já começam a elevar cotação do combustível; Petrobras é pressionada a não realizar novos reajustes
Carla Aranha
Publicado em 28 de junho de 2022 às 12h15.
Diante de novos aumentos do petróleo no início dessa semana, com o barril cotado a mais de 111 dólares, os temores de uma escalada de preços entraram novamente no radar. O estopim, dessa vez, foi dado pelo encontro do G7, em que se discutem novas limitações à compra do petróleo russo, e expectativas de uma aceleração da demanda na China com o fim dos lockdowns.
Reunidos na Alemanha, os líderes dos países mais ricos do mundo devem fechar um acordo para limitar os preços do petróleo russo. O objetivo é enfraquecer a economia russa e reduzir os avanços de Vladimir Putin sobre a Ucrânia. Analistas e investidores, no entanto, temem que o tiro possa sair pela culatra: o Kremlin já ameaçou reduzir ainda mais o fornecimento de petróleo para Europa caso a iniciativa seja levada adiante. Conforme os países ocidentais aumentam as sanções a Moscou, a Gazprom, gigante de energia russa, tem reduzido as entregas de gás natural e petróleo para os países europeus.
Em um quadro de oferta reduzida, os preços do petróleo vêm subindo. Cerca 66% do petróleo russo tem dificuldade em encontrar compradores atualmente, segundo o JPMorgan, maior banco em valor de mercado do mundo – a maior parte da produção russa tem sido adquirida pela China e a Índia, com desconto. Mesmo assim, em um quadro de retração das compras da Europa, Moscou começou a fechar a torneira da extração de petróleo.
“A produção de petróleo na Rússia já foi bastante reduzida e deve cair ainda mais, em cerca de 1 milhão de barris por dia, até o final do ano”, diz Reid L´Anson, economista sênior da consultoria Kpler, especializada no mercado de energia. A expectativa é que, com isso, haja novos aumentos de preço, com valores ao redor de 125 dólares ou 130 dólares. “O mercado parece estar voltando às condições de oferta insuficiente, já que a demanda chinesa voltou e o consumo nos países da OCDE continua forte”.
Desde o início da guerra na Ucrânia, a cotação do barril aumentou mais de 60%. Sinais de fraqueza na economia europeia e americana, ambas às voltas com as maiores taxas de inflação das últimas décadas e ameaça de recessão, podem reduzir os preços mais para o final do ano, na visão da Kpler. “Uma limitação na demanda deve manter a cotação em 115 ou 120 dólares, mas até lá poderemos ver valores mais altos”, afirma L´Anson.
O problema não é só a Rússia. Em um cenário de tempestade perfeita, países produtores como a Líbia e o Equador têm enfrentado protestos, devido a crises políticas e econômicas, que arriscam limitar as exportações – algumas refinarias na Líbia foram fechadas em razão das manifestações.
Nesse cenário, os países ocidentais têm buscado uma aproximação com o Irã e a Venezuela. Nesta segunda, dia 27, representantes dos governos iraniano e americano embarcaram para o Catar para uma nova rodada de negociações. No início deste mês, os Estados Unidos autorizaram as petroleiras Repsol e Eni a exportar petróleo da Venezuela para a Europa a partir de julho. A Chevron também recebeu sinal verde para retomar as operações na Venezuela.
Brasil
No Brasil, alguns Estados anunciaram redução na cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) sobre a gasolina. Em São Paulo, o litro da gasolina deve ficar R$ 0,50 mais em conta. Goiás também anunciou uma queda nas alíquotas do imposto para conter a alta de preços. Com isso, os consumidores devem pagar R$ 0,85 reais na bomba.
Ao mesmo tempo, lideranças do Congresso e do governo têm pressionado a Petrobras a não realizar novos reajustes. Caso prevaleça o sistema vigente, de paridade com o preço internacional do petróleo, o mercado crê que as oscilações globais na cotação da commodity acabem sendo repassadas para os consumidores brasileiros.
Após assumir a presidência da companhia nesta segunda, dia 27, Caio Paes de Andrade, ex-secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, já estaria ouvindo pedidos para fazer trocas na diretoria, segundo fontes próximas ao governo, e colocar nomes mais alinhados ao Palácio do Planalto. Hoje, o núcleo duro da empresa é formado por especialistas do mercado financeiro e executivos que fizeram carreira na estatal.
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