Cunha: a bancada sempre teve auxílio do presidente da Câmara (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 19 de dezembro de 2015 às 15h02.
São Paulo -- O iminente afastamento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deixou os aliados das bancadas do Boi, da Bíblia e da Bala em alerta.
Foi na gestão Cunha que essas frentes mais cresceram, e a possível ausência dele tem feito que os parlamentares se movimentem para aprovar as pautas pendentes.
Oficialmente, os deputados preferem não falar em preocupação, mas assumem que já se articulam para emplacar um presidente aliados com as causas dos grupos no comando da Casa.
Presidente da comissão que aprovou o estatuto que define família apenas como a união entre homem e mulher, o deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), avalia que a eventual saída de Cunha será contornada.
“Mesmo que ele saia, quem vai assumir não será um governista. Isto eu posso tegarantir”, disse ao HuffPost Brasil.
O deputado Laudívio Carvalho (PMDB-MG), relator do Estatuto do Desarmamento, diz que a saída de Eduardo Cunha não preocupa. O parlamentar, porém, admite pressa.
“Está tudo pronto para ser votado. Tenho a esperança de que o projeto vá ao plenárioainda no primeiro semestre de 2016. Não tem motivo para não ir, estamos trabalhando nisso”, afirma.
A bancada ruralista também atua em conjunto com a da bala e a evangélica para colocar em votação suas pautas pendentes.
É ao atual presidente da Casa que a Frente do Agronegócio agradece a comissão da PEC 215, que transfere ao Legislativo da função de demarcar terras indígenas, aretirada do rótulo de alimento transgênico e a aprovação da terceirização para todas as atividades.
Aos colegas, o presidente da frente, Marcos Montes (PSD-MG) tem afirmado que “nenhum outro presidente teve coragem de colocar projetos que precisavam ser discutidos em votação como fez Eduardo Cunha.”
Para a deputada Maria do Rosário (PT-RS), as bancadas se movimentam com medo de perder espaço e de serem atingidas pelo "fora Cunha".
Ela fez uma análise desse novo cenário ao HuffPost Brasil:
“O primeiro projeto polêmico deles já foi até esquecido. Na Câmara, ninguém mais fala do 5069, que dificulta o atendimento às vítimas de estupro. Eles viram que as mulheres foram às ruas contra o Cunha e esse projeto. Eles viram que, com a queda do Cunha, eles já começaram a perder espaço. Isto os preocupa. Tenho certeza de que vamos conseguir enterrar muitas pautas que afrontam os direitos humanos.”
Projeto que restringe a família a união entre homens e mulheres está pronto para ser votado em plenário. A proposta dos autores do texto era de que ele tivesse sido aprovado em outubro, na semana da família.
O projeto que revoga o Estatuto do Desarmamento, facilitando o acesso às armas, foi aprovado em outubro e aguarda apreciação em plenário para seguir para o Senado Federal.
No fim de outubro, a comissão especial aprovou a PEC 215, que transfere para o Legislativo a responsabilidade de demarcar terras indígenas e quilombolas. O texto enfrenta resistência na Casa e deverá ser decidido no voto em plenário.
Pronto para seguir para o plenário, o PL 5069 sumiu do discurso dos parlamentares. Ele dificulta o atendimento às vítimas de estupro, exige que a mulher comprove que foi vítima com o retorno da obrigatoriedade do exame de corpo de delito.