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Áudio de Joesley e programação da CBN têm 6 minutos de diferença

Até o momento, transmissão da rádio CBN era usada como evidência de que gravação não tinha sido adulterada

(Ueslei Marcelino/REUTERS/Reuters)

Talita Abrantes

Publicado em 23 de maio de 2017 às 14h30.

Última atualização em 24 de maio de 2017 às 06h36.

São Paulo – Segundo análise da rádio CBN , há uma diferença de seis minutos e 21 segundos entre a gravação feita pelo empresário Joesley Batista de uma conversa com o presidente Michel Temer em 7 de março e a programação da rádio naquele dia.

A transmissão da CBN é ouvida no início e no final do áudio entregue por Batista, do grupo J&F, para a Procuradoria-Geral da República como parte de seu acordo de delação premiada.

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Até o momento, esses trechos eram usados pela defesa do executivo como uma das evidências de que a gravação não teria passado por edições – hipótese rebatida pelos advogados do presidente.

Em um primeiro momento, a rádio CBN chegou a afirmar que os tempos dos áudios da programação e da conversa coincidiam. Mas após uma comparação entre as duas gravações em um programa de edição, o veículo voltou atrás.

Descontando 10 segundos iniciais de ruído, a gravação apresentada por Joesley Batista para a PGR tem exatos 38 minutos e 38 segundos. A transmissão correspondente na CBN, 44 minutos e 59 segundos. Uma diferença de 6 minutos e 21 segundos.

Em entrevista a EXAME.com, Bruno Telles, presidente da Associação Brasileira de Criminalística, afirma que esse tipo de constatação não é suficiente para concluir que a gravação tenha sido realmente editada. “Uma perícia séria nunca analisaria um arquivo passado de mão em mão”, afirma.

É por essa razão que a Polícia Federal pediu nesta segunda-feira o acesso ao gravador usado durante a captação da conversa. A expectativa é que o resultado da perícia sai em cerca de 30 dias.

O que diz a defesa de Temer

Em entrevista coletiva na noite de ontem, o perito Ricardo Molina, contratado pela defesa de Temer, afirmou que o áudio em questão é “imprestável”.

Segundo o perito, há cerca de 70 pontos obscuros nos 38 minutos de gravação. “Cada uma dessas descontinuidades são uma porta aberta para quem quiser fazer uma edição”, disse.

De acordo com ele, só no trecho em que Joesley e Temer supostamente estariam falando sobre eventuais pagamentos para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha , são encontrados seis pontos de alto risco.

“Eles foram encontrados um atrás do outro e, depois, no final, não acontece mais nada. Começamos a desconfiar desse acúmulo de descontinuidades”, disse.

O perito pondera que o mais provável é que tenha havido a extração de trechos. “É muito fácil você corta um pedaço e ninguém vai saber”, disse. “Essa resposta não vai ser dada com gravador ou sem gravador”.

O que dizem os especialistas

Especialistas ouvidos por EXAME.com são unânimes ao dizer que uma perícia tecnicamente aceitável demanda tempo e dinheiro. E que peritos independentes, como os contratados por veículos da imprensa ou por advogados, não teriam condições financeiras para fazer uma análise científica com a mesma qualidade que os técnicos oficiais.

De qualquer forma, se forem detectadas edições no áudio, a defesa do presidente pode questionar o valor da gravação em si como prova, e, no limite, levar à sua inutilização.

A invalidação de uma prova, no entanto, não comprometeria todo o inquérito. Mesmo se o acordo de delação premiada de Batista ficar comprometido, as provas produzidas, no entanto, ainda valeriam contra o acusado – nesse caso, Michel Temer.

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