Atletas paralímpicos chegam a um Rio nada acessível
Não há calçadas, ou estão cheias de buracos; os semáforos não têm aviso sonoro; não há rampas, ou são inclinadas demais
Da Redação
Publicado em 7 de setembro de 2016 às 11h23.
Marco Aurélio Giglio luta com sua cadeira de rodas uma batalha no trânsito do Rio de Janeiro . Os buracos, as raízes e a falta de rampas nas calçadas da cidade-sede dos Jogos Paralímpicos dificultam sua mobilidade.
É uma corrida com obstáculos diária: Giglio, de 40, paraplégico há 21 anos após um acidente, não está entre os 4.300 atletas de 161 países que participarão a partir de quarta-feira (6) deste evento esportivo organizado pela primeira vez na América do Sul... mas teria garantido o pódio.
Com sua cadeira motorizada, faz o trajeto de 1 km sem necessidade de pegar um ônibus - o que evita a qualquer custo, porque, apesar de algumas adaptações do sistema de transporte público, ainda há muito o que fazer.
"Não me sinto seguro no ônibus", disse à AFP.
O Rio de Janeiro tem uma "acessibilidade péssima", afirma a superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), Teresa Costa Amaral.
Os desafios são inumeráveis.
Não há calçadas, ou estão cheias de buracos; os semáforos não têm aviso sonoro; não há rampas, ou são tão inclinadas que obrigam a pessoa com deficiência a fazer uma força brutal para subi-las; as rampas dos ônibus não funcionam, ou o motorista não sabe operá-las; e ainda há táxis que evitam transportar pessoas com deficiência...
"Menos da metade da cidade foi 'acessibilizada', e o pouco que há não serve, porque não se pode fazer 'acessibilidade' pela metade", declara Teresa.
Cerca de 6,2% dos mais de 200 milhões de brasileiros têm alguma deficiência, segundo números oficiais divulgados em 2015.
Sem condições
Berço do Paralimpismo, a Grã-Bretanha elevou o padrão nesse tipo de evento, organizando em sua capital Jogos recorde e sem falhas há quatro anos, que serviram de modelo.
"Nenhuma cidade-sede dos Jogos chegou ao evento completamente acessível, nem mesmo Londres. Acredito que o Rio de Janeiro melhorou bastante", disse à AFP o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Andrew Parsons.
As melhorias no Rio, declara a especialista do IBDD, encontram-se apenas na modernização do sistema de Metrô, o qual transporta, porém, apenas 4% da população. Pelo menos 37% viajam de ônibus por essa extensa e caótica cidade tão bela quanto desigual.
E os "cadeirantes" não são os passageiros mais bem tratados no colapsado sistema de transportes.
Com os Jogos Paralímpicos, a dificuldade do transporte vai variar de acordo com a localização da instalação esportiva.
É possível chegar ao Parque Olímpico da Barra da Tijuca, que concentra a maioria das competições, pela nova linha de metrô e pelo BRT (ônibus articulados por vias exclusivas), o mais moderno sistema de transporte.
No caso do Estádio Olímpico Milton Santos (Engenhão), na Zona Norte, ou do Complexo de Deodoro, na Zona Oeste, é mais complicado, com o visitante tendo de recorrer ao antigo sistema de trens suburbanos "sem condições para pessoas com deficiência", segundo Amaral.
A dificuldade persiste, porém, apesar de terem sido feitas várias obras nas estações olímpicas para melhorar precisamente o acesso.
Ao contrário dos Jogos Olímpicos, a prefeitura não decretará feriados, o que fará que os espectadores tenham de batalhar com o caótico trânsito carioca.
E não se espera pouca gente: já foram vendidos 1,5 milhão de ingressos, e a expectativa é que se esgote o milhão restante.
Giglio, que tem apenas movimento parcial nos braços, espera ir a um ou dois eventos paralímpicos. O táxi especial que normalmente pega não poderá chegar próximo das instalações esportivas e, por isso, o transporte público é sua única opção.
"Vamos ver como vai ser", soltou, com um suspiro de resignação.
Marco Aurélio Giglio luta com sua cadeira de rodas uma batalha no trânsito do Rio de Janeiro . Os buracos, as raízes e a falta de rampas nas calçadas da cidade-sede dos Jogos Paralímpicos dificultam sua mobilidade.
É uma corrida com obstáculos diária: Giglio, de 40, paraplégico há 21 anos após um acidente, não está entre os 4.300 atletas de 161 países que participarão a partir de quarta-feira (6) deste evento esportivo organizado pela primeira vez na América do Sul... mas teria garantido o pódio.
Com sua cadeira motorizada, faz o trajeto de 1 km sem necessidade de pegar um ônibus - o que evita a qualquer custo, porque, apesar de algumas adaptações do sistema de transporte público, ainda há muito o que fazer.
"Não me sinto seguro no ônibus", disse à AFP.
O Rio de Janeiro tem uma "acessibilidade péssima", afirma a superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), Teresa Costa Amaral.
Os desafios são inumeráveis.
Não há calçadas, ou estão cheias de buracos; os semáforos não têm aviso sonoro; não há rampas, ou são tão inclinadas que obrigam a pessoa com deficiência a fazer uma força brutal para subi-las; as rampas dos ônibus não funcionam, ou o motorista não sabe operá-las; e ainda há táxis que evitam transportar pessoas com deficiência...
"Menos da metade da cidade foi 'acessibilizada', e o pouco que há não serve, porque não se pode fazer 'acessibilidade' pela metade", declara Teresa.
Cerca de 6,2% dos mais de 200 milhões de brasileiros têm alguma deficiência, segundo números oficiais divulgados em 2015.
Sem condições
Berço do Paralimpismo, a Grã-Bretanha elevou o padrão nesse tipo de evento, organizando em sua capital Jogos recorde e sem falhas há quatro anos, que serviram de modelo.
"Nenhuma cidade-sede dos Jogos chegou ao evento completamente acessível, nem mesmo Londres. Acredito que o Rio de Janeiro melhorou bastante", disse à AFP o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Andrew Parsons.
As melhorias no Rio, declara a especialista do IBDD, encontram-se apenas na modernização do sistema de Metrô, o qual transporta, porém, apenas 4% da população. Pelo menos 37% viajam de ônibus por essa extensa e caótica cidade tão bela quanto desigual.
E os "cadeirantes" não são os passageiros mais bem tratados no colapsado sistema de transportes.
Com os Jogos Paralímpicos, a dificuldade do transporte vai variar de acordo com a localização da instalação esportiva.
É possível chegar ao Parque Olímpico da Barra da Tijuca, que concentra a maioria das competições, pela nova linha de metrô e pelo BRT (ônibus articulados por vias exclusivas), o mais moderno sistema de transporte.
No caso do Estádio Olímpico Milton Santos (Engenhão), na Zona Norte, ou do Complexo de Deodoro, na Zona Oeste, é mais complicado, com o visitante tendo de recorrer ao antigo sistema de trens suburbanos "sem condições para pessoas com deficiência", segundo Amaral.
A dificuldade persiste, porém, apesar de terem sido feitas várias obras nas estações olímpicas para melhorar precisamente o acesso.
Ao contrário dos Jogos Olímpicos, a prefeitura não decretará feriados, o que fará que os espectadores tenham de batalhar com o caótico trânsito carioca.
E não se espera pouca gente: já foram vendidos 1,5 milhão de ingressos, e a expectativa é que se esgote o milhão restante.
Giglio, que tem apenas movimento parcial nos braços, espera ir a um ou dois eventos paralímpicos. O táxi especial que normalmente pega não poderá chegar próximo das instalações esportivas e, por isso, o transporte público é sua única opção.
"Vamos ver como vai ser", soltou, com um suspiro de resignação.