Ata sugere manutenção do ritmo de aperto por ora
Documento do BC afirma que medidas tomadas no ano passado ainda serão sentidas na economia
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2011 às 15h19.
São Paulo - Em meio a uma taxa de desemprego em baixa recorde, o Banco Central divulgou nesta quinta-feira a ata de sua última reunião mostrando uma avaliação de piora no cenário prospectivo de inflação.
O documento do encontro do Comitê de Política Monetária na semana passada, que definiu uma alta de 0,5 ponto no juro básico, ressaltou os riscos do descompasso entre oferta e demanda, apontou um alto grau de incerteza à frente e lembrou que ainda serão sentidos impactos das medidas macroprudenciais adotadas no ano passado.
"O Copom entende que o cenário prospectivo para a inflação evoluiu desfavoravelmente desde sua última reunião... O Copom identifica riscos crescentes à concretização de um cenário em que a inflação convirja tempestivamente para o valor central da meta", afirmou o colegiado no documento.
"O comitê avalia como relevantes os riscos derivados da persistência do descompasso entre as taxas de crescimento da oferta e da demanda."
Em uma primeira leitura da ata, o mercado descartou um aceleração do ritmo de aperto, mas não houve consenso sobre o tom do documento.
Os analistas ressaltaram a disposição do BC de combater a inflação, mas, com inúmeras variáveis citadas na ata para a tomada de decisão pelo BC, eles preferiram manter, por ora, o cenário para a Selic no ano, ainda que possam mudá-lo dependendo da inflação e da política fiscal. A maioria vê hoje um ciclo de alta total de 1,5 ponto percentual.
"Embora o BC reconheça o crescente risco de não haver convergência da inflação para a meta... ele se refere a fatores transitórios afetando a inflação no primeiro trimestre", disse Zeina Latif, economista sênior do RBS, para completar: "(e) reafirma a visão de uma moderação do crédito e o aperto fiscal como fatores desinflacionários".
A ata foi divulgada pouco antes de o IBGE informar que a taxa de desemprego de dezembro ficou em 5,3 por cento, a menor da série histórica iniciada em 2002 .
Mais cedo, um novo número de inflação mostrou o fôlego da alta dos preços. O IPC da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) registrou uma alta de 1,03 por cento na sua terceira quadrissemana, ante 0,86 por cento no período imediatamente anterior .
Incerteza fiscal e externa
O BC ressalta na ata que "os desenvolvimentos no âmbito fiscal são parte importante do contexto no qual decisões futuras de política monetária serão tomadas". E o mercado acompanhará atentamente as ações do governo nessa área.
"Apesar de muitos analistas --inclusive nós-- levarem em consideração nas suas expectativas que o governo anuncie até o final de fevereiro um corte significativo nos gastos, há chances de que o governo não tenha forças políticas para fazer um ajuste forte..., o que poderá elevar as estimativas de juros por parte do mercado", disse Inês Filipa, economista da Icap Brasil.
O governo deve anunciar no próximo mês pesados cortes no Orçamento, em um esforço para mostrar o compromisso de responsabilidade fiscal da presidente Dilma Rousseff. Segundo notícias publicadas na mídia, eles poderia chegar perto de 50 bilhões de reais.
A ata destaca ainda as incertezas no âmbito externo. Se de um lado os últimos desdobramentos "apontam menor probabilidade de recersão do precesso de recuperação" das principais economias, por outro a influência sobre o comportamento da inflação doméstica ainda é "ambígua".
O Copom disse ainda que sua previsão para a inflação neste ano aumentou em relação à reunião de dezembro, estando "acima" do centro da meta perseguido pelo governo. O prognóstico para 2012 também encontra-se acima desse patamar. A meta de ambos os anos tem centro em 4,5 por cento e tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.
O BC não fornece os números previstos para inflação na ata do Copom, apenas no Relatório de Inflação. Segundo o relatório Focus, o mercado prevê uma taxa de 5,53 por cento para este ano e de 4,54 por cento para o próximo. Em 2010, a inflação já superou o centro da meta, que também era de 4,5 por cento, ficando em 5,91 por cento.
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