As cidades onde os ventos sopram mais
Parazinho, no Rio Grande do Norte, é uma cidade com cerca de 5.000 habitantes – não mais do que a soma dos moradores de alguns quarteirões de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Até 2010, figurava entre os municípios mais miseráveis do estado. Em questão de dois anos, seu perfil econômico mudou radicalmente. De […]
Da Redação
Publicado em 2 de maio de 2016 às 15h18.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h24.
Parazinho, no Rio Grande do Norte, é uma cidade com cerca de 5.000 habitantes – não mais do que a soma dos moradores de alguns quarteirões de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Até 2010, figurava entre os municípios mais miseráveis do estado. Em questão de dois anos, seu perfil econômico mudou radicalmente. De lanterna, passou a líder no ranking do PIB per capita potiguar. Os dados mais recentes apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2013, apontam que o indicador ultrapassa 35.000 reais, superior ao de cidades como Belo Horizonte.
A revolução dos números foi causada pelos ventos – Parazinho é, atualmente, a cidade com a maior potência instalada de geração de energia eólica em operação no país. Sua vizinha João Câmara, com 35 000 habitantes, é a cidade com o maior número de parques de geração do Brasil, conforme dados do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne). Lá, o impacto da nova indústria também foi enorme. O município, que antigamente vivia do algodão e do sisal, é hoje a 16ª economia do Rio Grande do Norte – e é a 10ª cidade que mais recolhe impostos.
Os fortes ventos que sopram na área, a menos de 90 quilômetros de Natal, atraíram empresas como Energisa, Desa e Enel Green Power. O estado, e a região em especial, foram algumas das áreas com mais empreendimentos contratados nos leilões de energia eólica de 2009 e 2010 – e a maior parte saiu do papel recentemente. “Essas eram cidades que só tinham igreja, algum comércio e assentamentos rurais. Até muito pouco tempo atrás, viviam de programas sociais”, diz Jean-Paul Prates, diretor-presidente do Cerne.
Já não é mais assim. Pelo menos, não tanto. No período de construção das usinas eólicas, a oferta de emprego costuma ser enorme. Fora isso, também entra dinheiro nas cidades pela via do arrendamento de terras de pequenos proprietários. É nelas que são instaladas torres e turbinas eólicas.
Quem ganhou dinheiro nessa fase pôde investir – e alguns optaram por abrir pequenos negócios. Surgiram padarias, restaurantes, pequenas pousadas e todo tipo de comércio que atendesse aos trabalhadores dos parques. Em João Câmara, há 35% mais empresas hoje do que havia em 2010, conforme dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Não à toa, um escritório do Sebrae foi inaugurado na cidade no fim de março.
As perspectivas para a região, no entanto, não são claras. É difícil saber se as cidades conseguirão transformar a riqueza de hoje em desenvolvimento para o futuro. “O estado ainda não conseguiu atrair uma cadeia de empresas verdadeiramente ligada ao setor eólico. Os municípios do Mato Grande, muito menos”, diz Sandra Lúcia Barbosa Cavalcanti, economista da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte. Ainda há 81 parques em fase de instalação no estado – mas quando as construções terminarem, a tendência é de que a massa de empregos no setor se reduza fortemente.
Será, então, a vez dos trabalhadores qualificados – demandados em bem menor quantidade. O campus João Câmara do Instituto Federal do Rio Grande do Norte foi o primeiro da rede de escolas técnicas federais a ter um curso superior de Tecnologia em Energias Renováveis. A primeira turma está prestes a se formar – e dos cerca de 40 ingressantes, apenas dois ainda não estão empregados na área. “Estamos abastecendo as empresas da região e até de outros estados com nossos alunos”, diz Sonia Cristina Ferreira Maia, diretora da instituição. Parazinhenses e camarenses torcem para que esses bons ventos os mantenham afastados da pobreza de outros tempos.
(Mariana Segala)