Grupos armados RJ: aumento foi de 131% entre os triênios 2006-2008 e 2019-2021 (Pilar Olivares/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 13 de setembro de 2022 às 12h33.
Última atualização em 13 de setembro de 2022 às 12h42.
Em 16 anos, as áreas urbanas sob influência de grupos armados, traficantes e milicianos, na região metropolitana do Rio de Janeiro, passaram de 8,7% para 20% do território, aumento de 131% entre os triênios 2006-2008 e 2019-2021.
O domínio da milícia passou de 23,7% para 49,9% dessas áreas no mesmo período, o que corresponde atualmente a 38,8% da população sob influência de grupos armados, ante 22,5% em 2008. Considerando a área total sob influência da milícia, o crescimento no período foi de 387,3%, passando de 52,6 quilômetros quadrados (km²) para 256,28 km², o que corresponde a 10% de toda a área territorial do Grande Rio.
É o que mostra o Mapa dos Grupos Armados, lançado hoje, 13, pelo Instituto Fogo Cruzado e pelo Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF). Na ferramenta, é possível verificar quais áreas são dominadas por cada grupo criminoso, com a evolução histórica separada por triênio.
De acordo com o coordenador do Geni-UFF, Daniel Hirata, o levantamento, o primeiro do tipo, encontrou elementos importantes para a construção de políticas públicas na área de segurança. Ele explica que a principal questão é a expansão da milícia, que ocorreu em áreas que não eram dominadas anteriormente por nenhuma facção.
“As milícias foram o grupo que mais cresceu ao longo desse período, quase 400%. Ao longo desses anos as milícias se tornaram grupos hegemônicos, sobretudo nos sub-bairros, mais do que em favelas e conjuntos habitacionais, onde as facções do tráfico de droga ainda têm maior domínio. Ou seja, isso chega a mais de 80% em cada um dos casos”.
Os grupos armados que controlam os territórios no Rio de Janeiro estão envolvidos em atividades econômicas ilícitas como tráfico de drogas, transporte coletivo irregular e também oferta clandestina de serviços como venda de gás, TV a cabo e segurança.
Historicamente, o tráfico ocupa favelas e outros espaços pobres desde a década de 1970, onde as vielas, becos e ruas estreitas dificultam o acesso dos carros de polícia.
De acordo com diretora-executiva do Instituto Fogo Cruzado, Maria Isabel Couto, 90,3% do crescimento das milícias ocorreu sobre novas áreas, onde não havia controle de nenhuma facção armada.
“Em termos de cobertura territorial, as milícias se expandiram em um ritmo exponencial, chegando a quase que duplicar a área que possuía em 2008. Esse ritmo foi mais acelerado que as facções do tráfico, de tal forma que em 2021, das áreas dominadas por algum grupo armado no Grande Rio, metade estava nas mãos das milícias, 49,9%. Do ponto de vista populacional ainda não apresenta uma hegemonia clara, mas isso parece uma questão de tempo, e de pouco tempo, mantida a velocidade com que as milícias incorporam grandes contingentes de pessoas sob o seu domínio”.
Para ela, hoje esses grupos são a principal ameaça à segurança pública no Grande Rio, com o grande crescimento apresentado nos últimos cinco anos.
“Após a CPI das milícias de 2008, vemos um momento de estabilidade e mesmo de declínio das áreas dominadas pelas milícias. Essa tendência se encerra, no entanto, em 2017. E nos cinco anos finais da série histórica, as milícias apresentam seu maior período de crescimento, somando mais de 138 km², onde habitam mais de 750 mil pessoas”.
Entre os fatores que influenciaram na dinâmica dos territórios dominados por grupos armados, a pesquisa aponta a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das milícias em 2008, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj); as Unidades de Polícia Pacificadora, programa que durou de 2008 a 2016; a crise socioeconômica, política e fiscal no estado de 2014 a 2017; e crise da gestão da segurança pública que levou ao fim da secretaria específica e à autonomia das polícias civil e militar em 2019.
O estudo abrangeu toda a região metropolitana do Rio de Janeiro, incluindo a capital, onde moram quase 7 milhões de pessoas; o leste metropolitano com Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Tanguá e Maricá, com cerca de 2 milhões de habitantes; e a Baixada Fluminense, região que engloba os municípios de Guapimirim, Magé, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo, Mesquita, Queimados, Japeri, Paracambi, Seropédica e Itaguaí, com cerca de 4 milhões de pessoas.
O Mapa dos Grupos Armados aponta que o Comando Vermelho expandiu seu território de influência na Baixada Fluminense e manteve a hegemonia no leste metropolitano, que engloba municípios como Niterói e São Gonçalo.
De acordo com o levantamento, em 2021 a área da Baixada Fluminense dominada por esses grupos estava dividida em 39,7% do Comando Vermelho, 48,6% das milícias e 10,9% do Terceiro Comando Puro. No leste metropolitano, 88,2% das áreas são dominadas pelo Comando Vermelho, 9,1%, pelas milícias e 2,6% pelo Terceiro Comando Puro.
Na Capital, as milícias assumiram a primeira posição e controlam 74,2% das áreas ocupadas por grupos armados, que correspondem a 29,8% da área da cidade. A hegemonia se concentra na zona oeste e avança na zona norte, com pouca influência na zona sul e no centro.
O estudo analisou 690 mil registros do portal do Disque Denúncia que mencionavam milícias ou tráfico de drogas, entre 2006 e 2021. Com isso, foi levantar o histórico do domínio das facções e milícias em 13.308 sub-bairros, favelas e conjuntos habitacionais da região metropolitana do Rio de Janeiro.
O Fogo Cruzado é um Instituto que usa tecnologia para produzir e divulgar dados abertos e colaborativos sobre violência armada nas regiões metropolitanas do Rio, Recife e Salvador, com informações sobre tiroteios checadas em tempo real.
O Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (Geni-UFF) é especializado em diferentes formas de violências e conflitos sociais.
Questionada pela reportagem sobre o levantamento, a Polícia Militar informou que a corporação age no combate ao crime organizado a partir de informações do setor de inteligência e de órgãos oficiais, como o Instituto de Segurança Pública (ISP), “sendo executadas com base em protocolos técnicos e definidos pelas legislações e determinações judiciais vigentes”.
“A Polícia Militar acrescenta que, somente neste ano de 2022, a corporação já prendeu mais de 23,9 mil criminosos, apreendeu mais de 2,5 mil adolescentes infratores e retirou das ruas mais de 4,35 mil armas de fogo, sendo 247 fuzis”, informou a corporação em nota.
A Polícia Civil informou que não vai comentar a pesquisa por não ter conhecimento sobre a metodologia utilizada e que possui departamento próprio de inteligência.
“Vale reforçar que a Secretaria de Estado de Polícia Civil (Sepol) possui a maior Agência Central de Inteligência do ramo da segurança pública estadual do país, onde estão concentrados todos os setores que buscam e produzem conhecimentos para assessorar na tomada de decisões estratégicas e operacionais de combate ao crime”.
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