João Paulo Cunha: o deputado foi considerado culpado pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e peculato no caso do Mensalão (Wilson Dias/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2012 às 13h07.
Brasília - O julgamento do mensalão teve o primeiro impacto político nesta sexta-feira com a renúncia do deputado João Paulo Cunha, que concorreria à prefeitura da cidade de Osasco, em São Paulo, nas próximas eleições de outubro.
A decisão sobre a renúncia foi anunciada depois que a Corte Suprema declarou o deputado culpado pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e peculato.
Cunha é um dos 37 acusados por financiamento ilegal de campanhas políticas e subornos a deputados, crimes denunciados em 2005 durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
João Paulo Cunha, inclusive, chegou a substituir Lula no comando do Brasil por sua condição de presidente titular da Câmara dos Deputados, quando o então presidente estava no exterior, e o vice, José Alencar, passava por um tratamento contra o câncer.
O político, de 54 anos, aspirava o cargo de prefeito da cidade paulista de Osasco pelo PT, o mesmo da atual presidente Dilma Rousseff.
No entanto, o sonho do político de se tornar prefeito de Osasco terminou na quinta-feira, quando, por nove votos a dois, foi considerado culpado.
Segundo a acusação, Cunha, atual deputado e presidente da Câmara na época dos escândalos, recebeu R$ 50 mil não declarados.
Embora o voto de cada um dos membros da corte possa ser modificado até o final do processo, o PT, o próprio Cunha e seus advogados entenderam a decisão judicial como definitiva e consideraram que o melhor era suspender sua atividade política.
Nesta sexta, a direção do PT de Osasco emitiu um comunicado no qual "lamenta" a decisão de Cunha, que atribui a "uma longa reflexão pessoal", e diz que foi tomada "em coerência com os princípios que sobressaem em sua vida pública".
No entanto, fontes do partido admitiram que a decisão foi discutida em inúmeras consultas políticas, nas quais, inclusive, participaram o próprio Lula e o presidente do PT, Rui Falcão.
"Embora o partido acredite em sua inocência, quem foi declarado culpado foi o Cunha e não o PT", disse à agência Efe um membro do partido.
Até agora, Cunha aparecia em terceiro lugar nas pesquisas, com 15% de intenção de votos. O favorito para assumir a prefeitura de Osasco é Celso Giglio, do PSDB, que aparece com 35 %, seguido por Osvaldo Vergínio, do PSD, que tem 19%.
Apesar de estar em terceiro nas pesquisas, Cunha era o candidato que mais havia arrecadado dinheiro para campanha.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o candidato do PT contava com R$ 948 mil, um valor muito superior aos R$ 71,8 mil declarados por Giglio.
Na propaganda da campanha, que terminou nesta sexta depois da decisão do Supremo, Cunha destacava sua origem pobre, "filho de um metalúrgico e uma empregada doméstica", e a trajetória de vida que o levou de "engraxate a presidente da República", fazendo referência aos dois dias em que foi presidente interino do Brasil.
No entanto, o que sublinhava como mérito em sua propaganda eleitoral serviu para o juiz César Peluso, um dos 11 membros do Supremo, como um agravante.
"Merece uma censura maior aquele que chegou a tão alto grau, a ser o segundo na linha sucessória da Presidência da República", afirmou Peluso ao ler seu voto e condená-lo a seis anos de prisão.
Sua origem pobre também não compadeceu os jurados e, inclusive, levou o presidente do Supremo, Carlos Ayres Britto, a fazer uma analogia entre os políticos de hoje e os chamados "governadores gerais", que a coroa portuguesa enviava ao Brasil nos tempos em que o país ainda era colônia.
"Diziam que os governadores gerais chegavam pobres às colônias ricas, e voltavam ricos das colônias pobres", declarou o magistrado ao justificar seu voto a favor da condenação de Cunha.