Jair Bolsonaro: "Quarenta dias depois, parece que está começando a ir embora a questão do vírus, mas está chegando e batendo forte o desemprego" (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de abril de 2020 às 06h34.
Última atualização em 13 de abril de 2020 às 06h58.
O presidente Jair Bolsonaro disse neste domingo, 12, durante uma celebração de Páscoa com líderes religiosos, que o novo coronavírus "está começando a ir embora", sem apresentar evidências ou fontes científicas. De acordo com o Ministério da Saúde, porém, a situação mais crítica, ao menos em São Paulo e no Rio de Janeiro, deve ser vivenciada apenas no final de abril e no início de maio.
"Tenho dito desde o começo, há 40 dias. Temos dois problemas pela frente, o vírus e o desemprego. Quarenta dias depois, parece que está começando a ir embora a questão do vírus, mas está chegando e batendo forte o desemprego", afirmou o presidente, ao fim da celebração, realizada por videoconferência.
Até este domingo, 1.223 pessoas perderam a vida no Brasil por causa da covid-19. Ao todo, são 22.169 casos confirmados até o momento. "Devemos lutar contra essas duas coisas (o vírus e o desemprego). Obviamente, sempre lutamos crendo, acreditando em Deus acima de tudo. Vamos vencer esses obstáculos. Não serão fáceis, mas chegaremos lá", completou o presidente.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não comentou as declarações de Bolsonaro.
Ao encerrar a celebração, Bolsonaro lembrou o atentado que sofreu em 2018, durante a campanha eleitoral. Definiu o episódio como um milagre que o permitiu vivenciar um outro, a vitória na eleição presidencial.
O presidente participou da celebração de Páscoa com os religiosos do Palácio da Alvorada. Prestigiaram a videoconferência 21 representantes da Igreja Católica, de igrejas evangélicas e da comunidade judaica, além da empresária e escritora Íris Abravanel, que foi a mediadora da conferência. Ela é casada com o apresentador de TV Silvio Santos.
Nas duas horas e 20 minutos de transmissão, os religiosos fizeram orações contra a pandemia e pela recuperação da economia nacional.
"Quanto a esse coronavírus, que está atacando, oramos agora em nome de Jesus Cristo. E nós amarramos esse principado, essa potestade maligna... que está infectando o povo do mundo todo. E daqui damos a bênção e dizemos: demônio, você está amarrado em nome do senhor Jesus!", disse o missionário RR Soares, da Igreja Internacional da Graça.
O rabino Leib Rojtenberg, da Beit Chabad de Brasília, por sua vez, afirmou que o momento exige que as pessoas abram mão de ir às ruas, uma posição que contraria o tom de discurso adotado por Bolsonaro. A recomendação para que as pessoas fiquem em casa é a principal estratégia da maior parte dos especialistas para que a velocidade de contágio seja reduzida.
"A mão de Deus conseguiu entrar e colocar todos nós na mesma situação, dentro de casa. Claro que toda mudança é para o bem. Devemos receber essa lição com bons olhos, celebrarmos a liberdade. E liberdade não é só sair na rua, coisa que devemos nos abster nesses dias. Mas sim de expressão, harmonia, compaixão, solidariedade. Individualidades devem ser deixadas de lado", disse.
O presidente Bolsonaro tem deixado de lado a orientação de isolamento. Na sexta-feira e no sábado, ele foi ao encontro de apoiadores, que se aglomeraram para cumprimentá-lo.
Também convidado para a celebração, o padre católico Reginaldo Manzotti pediu orações para que a classe política se una no combate à pandemia. "Rezemos pelo nosso presidente, pelos governadores, pelos prefeitos. Rezemos para que a classe política se una com discernimento e sabedoria", disse.
Em meio ao avanço da doença no Brasil, Bolsonaro e governadores têm rivalizado sobre o grau de isolamento social necessário para conter o novo coronavírus e sobre o uso da cloroquina para tratar pessoas infectadas. A divergência resultou até no rompimento do presidente com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), um de seus principais aliados.
Por outro lado, o pastor Silas Malafaia criticou o que chamou de "profetas do caos". "Lógico, toda morte é uma tragédia. Não estamos aqui fazendo jogos de números, de morte. Mas a verdade é que há um espírito de pânico e medo colocado na população por interesses escusos e interesses políticos", declarou.
Ao abrir a celebração, o presidente, sem mencionar a crise, afirmou que o País precisa saber o que está acontecendo, mas sem pânico. "Cada vez mais precisamos da verdade. O país precisa ser informado do que realmente está acontecendo. Não através do pânico, mas através de mensagens de paz, de conforto. Cada um se preparar para a realidade", frisou.
Antes de se reunir com os líderes religiosos, o presidente recebeu uma imagem de Santa Paulina, a primeira religiosa brasileira canonizada pela Igreja Católica. O presente foi dado pelo deputado Rogério Peninha Mendonça (MDB-SC), natural de Nova Trento, cidade catarinense que tem a santa como padroeira.
"Ele está bem preocupado com a situação do desemprego", disse o parlamentar à reportagem após a visita.