Carro da Polícia Federal (Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de março de 2018 às 15h18.
Brasília - Seis dias antes de serem presos pela Operação Skala, na quinta-feira, o advogado José Yunes e o coronel João Baptista Lima, ambos amigos pessoais do presidente Michel Temer, foram denunciados pelo Ministério Público Federal por supostamente participarem de uma organização criminosa ligada ao MDB. A informação foi antecipada pelo jornal O Globo e confirmada na sexta-feira pela Agência Estado.
Yunes e Lima foram denunciados pela Procuradoria no dia 21 de março, com base em dados reunidos durante a investigação do caso batizado como "quadrilhão do MDB" - a prisão ocorreu no dia 29. Como os dois não têm foro privilegiado, as denúncias coletadas durante o inquérito citado foram desmembradas e endereçadas para a 12ª Vara Federal de Brasília. Outras três pessoas estão em situação semelhante. Os nomes dos demais integrantes dessa nova leva de denunciados, no entanto, estão sob sigilo.
O 'quadrilhão' apura a atuação do grupo político do presidente Michel Temer, que seria formado por aliados como Eduardo Cunha, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Rodrigo Rocha Loures, Eliseu Padilha e Moreira Franco. Com exceção dos dois últimos, que são ministros e, portanto, têm foro, os demais estão presos.
O caso investiga uma série de irregularidades atribuídas a integrantes de partidos cometidas em diversos escalões da administração pública, como na Caixa Econômica Federal. Há ainda suspeitas de irregularidades cometidas no setor portuário, com provas distintas das que nesse momento estão em avaliação na Operação Skala.
O desmembramento do caso e as investigações que correm em paralelo poderão servir de subsídio para o trabalho da Procuradoria Geral da República e a da Polícia Federal, dentro da operação Skala. A expectativa é de que informações e provas obtidas durante a investigação em curso, envolvendo as cinco pessoas sem foro privilegiado, sejam numa segunda etapa remetidas para a PGR, como eventual subsídio no inquérito que tem como alvo principal o presidente Temer, responsável pela edição do chamado Decreto dos Portos.
Entre as empresas supostamente beneficiadas pela medida do presidente está a Rodrimar, que atua no porto de Santos. Na quinta-feira, além de Yunes e do coronel Lima, foram presos Antônio Celso Greco, dono da Rodrimar; Celina Torrealba, do grupo Libra; o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi, indicado por Temer para o cargo durante o governo da presidente cassada Dilma Rousseff; e seu auxiliar Milton Ortolan.
As prisões foram solicitadas pela procuradora-geral da República, Raquel Dogde, e autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, que é o relator do inquérito que investiga se Temer, por meio do Decreto dos Portos, beneficiou empresas do setor portuário em troca de suposto recebimento de propina.
Se a denúncia for aceita, Yunes e Lima se tornarão réus e poderão responder por crime de organização criminosa. A pena prevista nesses casos é de três a oito anos de prisão. Tanto Yunes quanto o coronel cumprem prisão temporária, dentro da Operação Skala. O prazo vence na próxima terça feira, podendo ser prorrogado por mais cinco dias.
Procurado pela reportagem, o advogado Jose Luis Oliveira Lima, que defende Yunes, afirmou que "mais uma vez a defesa tomou conhecimento dessa acusação pela imprensa, o que e inadimissivel". Segundo ele, "mesmo sem ter conhecimento da denuncia, posso afirmar que José Yunes em mais de 50 anos de atividade profissional sempre pautou sua postura pela ética e correção". Já o advogado Maurício Silva Leite, que representa Lima, disse que só ira se manifestar quanto tiver acesso ao conteúdo da denúncia.