Amanhã vamos descobrir o Brasil, diz Barroso sobre julgamento
Para o ministro, o país tem uma classe politica descolada da sociedade e com dificuldade de entender o recado das ruas
Júlia Lewgoy
Publicado em 5 de junho de 2017 às 12h35.
Última atualização em 5 de junho de 2017 às 12h55.
“Amanhã vamos descobrir o Brasil”. Essa foi a resposta do ministro do Supremo Tribunal Federal ( STF) Luiz Roberto Barroso, quando questionado sobre o que esperar do julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer , marcado para amanhã no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) .
Os ministros do TSE vão decidir se há indícios suficientes para cassar o atual presidente e tornar inelegível a ex-presidente.
Barroso disse que a investigação da Lava Jato corre um sério risco de ser prejudicada por uma “operação abafa”. “Existe um risco real, mas todos nós estamos aqui para evitar isso. Há os que querem salvar a própria pele, os que não querem ficar honestos, esse pacto imenso de compadrio, pacto e parcerias.”
Para o ministro, o país tem uma classe politica descolada da sociedade e com dificuldade de entender o recado das ruas.
“Agora que tudo foi descoberto, quando esperava-se que todas instituições se mobilizariam para atingirmos um novo patamar ético, assistimos ainda assim uma grande mobilização para deixar tudo como sempre foi, para que continuemos aquém do nosso destino histórico, trotando na história, liderados pelos piores”, disse o ministro do STF.
O país não conseguirá cumprir seu destino se prevalecer a operação abafa. Não conseguiremos dizer no futuro que é melhor ser honesto. A corrupção valoriza os piores, os espertos.”
Barroso participa do fórum A Revolução do Novo – A Transformação do Mundo , realizado por VEJA e EXAME em parceria com a Coca-Cola , no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
O evento discute mudanças na economia, política, tecnologia e sociedade. Barroso abordou o tema “o impacto, a evolução e o futuro dos valores éticos no mundo contemporâneo”.
Julgamento da chapa Dilma-Temer
Fruto de quatro ações ajuizadas pelo diretório nacional do PSDB e pela coligação Muda Brasil, entre outubro de 2014 e janeiro de 2015, o processo já passou pelas mãos de três ministros — João Otávio de Noronha, Maria Thereza de Assis Moura e Herman Benjamin, o atual relator, que deu celeridade e volume de provas à ação.
Com autorização do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, relator da Operação Lava Jato, Benjamin percorreu o país para colher pessoalmente o depoimento dos delatores da Odebrecht, entre eles os de Marcelo, ex-presidente, e Emílio Odebrecht, que deram declarações contundentes sobre como o dinheiro sujo abasteceu a campanha de 2014.
O relator foi o grande responsável pelos números superlativos do caso, que, além das quase 8.000 páginas, teve 199 despachos, 58 depoimentos de mais de 75 horas e 380 documentos anexados, entre requerimentos, manifestações, ofícios, mídias, mandados e certidões. Benjamin já tem data para sair da Corte, 27 de outubro — por isso, busca finalizá-lo até lá.