O encontro reuniu centenas de pessoas, entre especialistas em Educação, Saúde Pública e Assistência Social, alunos e pais de estudantes (Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 11 de maio de 2023 às 10h52.
Para discutir o problema da violência nas escolas públicas, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), realizou audiência pública, com o tema Violência na escola e contra a escola. O encontro reuniu centenas de pessoas, entre especialistas em Educação, Saúde Pública e Assistência Social, alunos e pais de estudantes.
Um grupo de mais de 100 pesquisadores de universidades e institutos de vários estados divulgou um documento propondo um conjunto de ações para combater a violência estrutural nas escolas. Entre elas: controle de posse e circulação de armas, enfrentamento ao bullying, ações de mediação de conflitos, atividades continuadas de cultura, lazer e valorização dos jovens e política educacional baseada no respeito à diversidade.
“Há inúmeras iniciativas já realizadas e avaliadas nesse sentido (respeito à diversidade) que realmente fazem a diferença no cotidiano escolar”, avaliou Suely Ferreira Deslandes, cientista social e mestre em Saúde Pública do Instituto Nacional da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), que também assina o documento.
A deputada Carla Machado (PT) voltou a defender mais investimentos do estado no acompanhamento psicossocial dos estudantes e falou do seu projeto de lei para criação do Conselho Estadual de Segurança Escolar, voltado à prevenção de todas as formas de violência no ambiente escolar.
"O problema não está só no campo educacional. Precisamos buscar saídas pacíficas para esse problema tão complexo em sua origem, por meio de políticas públicas que busquem soluções efetivas. É preciso uma união de esforços para proteger a criança e o adolescente", disse.
O deputado Munir Neto (PSD), presidente da Comissão de Assuntos da Criança, do Adolescente e do Idoso da Alerj disse que encaminhará o documento ao governador Cláudio Castro e à secretária de Educação, Roberta Barreto. “Um ataque a uma escola não é um fato isolado. É parte de um ecossistema claramente falho. E cuidar da criança e do adolescente é um dever de toda a sociedade”.
A psicóloga Naura dos Santos Americano, da Sociedade de Mediação de Conflitos (Somec- RJ), contou sua experiência como mediadora de conflitos pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Até 2018, como parte de um convênio com o governo do Estado, ela e outro profissional do TJ capacitaram mais de 300 professores para realizar a mediação de conflitos em escolas estaduais.
A experiência, segundo Naura, poderia ser replicada no atual contexto, como medida preventiva. “Os conflitos eclodem em condutas violentas. Na mediação, diferentes vozes são ouvidas e abrimos espaços de fala e escuta a alunos e professores. Não é algo mágico, requer continuidade e ação permanente para que eles possam se sentir pertencentes àquele espaço”, explicou.
Pai da jovem Larissa Atanázio, de 13 anos, uma das 12 vítimas do massacre na Escola Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio, em 2011, Robson Atanázio cobrou mais professores concursados, psicólogos e inspetores nas escolas, além da instalação de detectores de metais.
“Tem que ter psicólogo na escola para identificar os problemas das crianças e chamar os pais para conversar. Se tiver algum problema familiar mais sério, precisa levar para tratar na clínica da família”.
O diretor do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação, (Sepe-RJ), Diogo Andrade, apresentou um cenário da saúde mental dos profissionais de educação, agravado pela violência imposta em operações policiais em comunidades. Segundo ele, de cada três afastamentos por doença, um está relacionado à Psiquiatria, o que aponta a necessidade urgente de se implementar um conjunto de ações que melhorem as condições de trabalho.
Segundo Andrade, existe um déficit de 2 mil profissionais de educação hoje no estado, inclusive de mediadores para acompanhar estudantes com deficiências e transtornos. “O piso da Educação no Estado do Rio é o pior do país. No Acre é melhor. Aqui tem trabalhador recebendo menos de um salário-mínimo”, denunciou, afirmando que nesta quinta-feira (11) a categoria decide se entra em greve no estado.