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Albert Fishlow: o Brasil avança

Eduardo Salgado O economista americano Albert Fishlow chegou ao Brasil pela primeira vez nos anos 60. Então professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, aceitou o desafio de assumir o comando do Projeto Brasil, nome dado a um grupo de professores americanos e ingleses que assessoravam o governo brasileiro no então recém-criado Instituto de Pesquisa […]

FISHLOW: “é importante parar um pouco e perceber o quanto avançamos antes de dar atenção à pauta do que ainda temos pela frente” / David Hawxhurst
DR

Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2016 às 14h27.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h42.

Eduardo Salgado

O economista americano Albert Fishlow chegou ao Brasil pela primeira vez nos anos 60. Então professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, aceitou o desafio de assumir o comando do Projeto Brasil, nome dado a um grupo de professores americanos e ingleses que assessoravam o governo brasileiro no então recém-criado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Tempos depois voltou aos Estados Unidos, mas continuou fazendo parte de debates sobre a evolução histórica e as políticas econômicas brasileiras. Fishlow escreveu análises que marcaram época, como um texto acadêmico da década de 70 que questionava a desigualdade social no Brasil, e foi professor, nos Estados Unidos, de várias gerações de economistas brasileiros. Leia a seguir a entrevista que concedeu a EXAME HOJE.

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Eduardo Salgado

O economista americano Albert Fishlow chegou ao Brasil pela primeira vez nos anos 60. Então professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, aceitou o desafio de assumir o comando do Projeto Brasil, nome dado a um grupo de professores americanos e ingleses que assessoravam o governo brasileiro no então recém-criado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Tempos depois voltou aos Estados Unidos, mas continuou fazendo parte de debates sobre a evolução histórica e as políticas econômicas brasileiras. Fishlow escreveu análises que marcaram época, como um texto acadêmico da década de 70 que questionava a desigualdade social no Brasil, e foi professor, nos Estados Unidos, de várias gerações de economistas brasileiros. Leia a seguir a entrevista que concedeu a EXAME HOJE.

Qual é a sua avaliação do momento atual no Brasil?
Em momentos como o que estamos vivendo hoje, é importante parar um pouco e perceber o quanto avançamos antes de dar atenção à pauta do que ainda temos pela frente. Acompanho o Brasil há 50 anos. Por isso, posso dizer, com tranquilidade, que o Brasil avançou muito. As mudanças, talvez, não tenham acontecido na velocidade em que queríamos ou na que seria a ideal, mas elas ocorreram.

Quais foram os principais avanços?
Quando pisei pela primeira vez no Rio de Janeiro, os governantes eram militares. Hoje temos uma democracia de massa. Na área econômica, também melhorou muito. Uma das explicações para a recente queda da presidente Dilma Rousseff foi que ela tentou um modelo econômico diferente, com mais intervenção do Estado, deu errado e as pessoas reagiram. A arrumação feita na economia durante os governos de Fernando Henrique Cardoso não pertence a um partido político. Tornou-se um patrimônio dos brasileiros. Não se deve minimizar o fato de que Dilma tenha caído por desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal. Os próximos presidentes terão bem claro que se forem por um caminho semelhante, podem ter o mesmo fim. O precedente foi aberto. Igualmente importante foram os programas sociais criados ou incrementados durante os governos do PT.

Esses programas correm o perigo de serem enfraquecidos ou se tornaram uma política de Estado?
Eles são também um patrimônio do país. Nem o governo presente nem todos os que virão terão a coragem de parar de combater a desigualdade social antes que essa questão deixe de envergonhar os brasileiros. Deve haver mudanças para aperfeiçoá-los. Para alguém, como eu, que escreveu pela primeira vez sobre a questão da desigualdade social no Brasil no começo da década de 70, é uma grande alegria ver em operação um programa como o Bolsa Família. Custa pouco, cerca de 0,6% do PIB, e tem um grande efeito para a camada mais pobre da população. Também penso ser necessário enfatizar o salto que o Brasil deu na área da Justiça.

Os procuradores da Lava-Jato têm sido alvo de críticas por supostos exageros. Qual é a sua opinião?
É muito positiva. Quando a Constituição de 1988 deu poder às procuradorias, poucos anteviram o que aconteceria. A independência do Judiciário e da polícia é base sobre a qual o combate contra a corrupção se dá. Um grupo de procuradores, muitos com cursos nas melhores universidades dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França, tem feito um trabalho magnífico. A Polícia Federal finalmente começou a identificar criminosos poderosos. As descobertas do pré-sal levaram muitos a achar que o Brasil estava pronto para entrar no grupo dos países desenvolvidos. Com o preço do petróleo nas alturas naquele momento, parecia que o futuro estava garantido e um enorme esquema de corrupção foi montado. O bom funcionamento das instituições, porém, garantiu que fossem revelados os roubos realizados por políticos e técnicos aliciados por eles. Esse avanço institucional é de extremo valor e sua manutenção é crucial para que o país siga melhorando.

O balanço que o senhor faz é positivo. E quanto aos desafios futuros?
Hoje o país tem as bases para crescer. Isso, no entanto, não quer dizer que a recuperação vai ser fácil. Os políticos têm uma grande dificuldade de explicar para a população a necessidade de uma reforma profunda na previdência, de diminuir o endividamento público, de reduzir a carga tributária e de rever a maneira de alocação com estados e municípios dos gastos com saúde e educação. Esses são os próximos passos que o Brasil deverá dar. O maior problema do Brasil é político. E, infelizmente, o governo está deixando tudo isso para quem for eleito em 2018.

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