Dilma Rousseff e Michel Temer na Convenção Nacional do PT, em Brasília (Cadu Gomes/Divulgação)
Mariana Desidério
Publicado em 27 de fevereiro de 2015 às 14h34.
São Paulo – As últimas movimentações do PMDB têm chamado a atenção no cenário político. Na noite de ontem, o partido veiculou uma propaganda em que aparecem o vice-presidente Michel Temer, ministros e parlamentares. Nos dez minutos de programa, não há nenhuma menção à presidente Dilma ou ao PT.
Para Rodrigo Augusto Prando, professor de sociologia do Mackenzie, a mensagem foi uma resposta direta à presidente (veja o vídeo abaixo). A peça começa com a seguinte frase: Não são as estrelas que vão me guiar. São as escolhas que vão me levar.
O criador do programa foi no mínimo irônico ao falar da estrela, símbolo do PT, diz Prando.
O programa na TV vem num período em que o PMDB tem dado mostras claras de descontentamento com a presidente. Em entrevista à revista Veja, o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, também filiado à sigla, deixou no ar a possibilidade de uma candidatura do partido à presidência em 2018.
Já no Congresso, a eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) como presidente da Câmara foi uma dura derrota para o governo, que vê no parlamentar um aliado pouco confiável.
Mas, afinal, após tanto tempo de aliança com o PT, por que o PMDB está ficando rebelde? Segundo os especialistas não há uma resposta única.
Imagem do partido
Para Rafael Cortez, cientista político da consultoria Tendências, esse movimento do PMDB é natural, considerando o momento de baixa popularidade do governo.
Num sistema como o nosso, quando o governo está com popularidade, há uma tendência dos partidos aliados se aproximarem. Quando o governo está impopular, a tendência é que esses partidos se afastem para não ficarem com uma imagem negativa, explica.
Na avaliação do especialista, porém, o PMDB não deve se descolar totalmente do governo. Ficar fora do governo tem um custo muito alto. Acredito que o partido vai manter uma postura ambígua: fica dentro da máquina, mas ao mesmo tempo mostra uma movimentação de dissidência, afirma.
Rodrigo Prando, do Mackenzie concorda com essa avaliação. Se o PMDB saísse da base no Congresso, prejudicaria os prefeitos e governadores do partido que dependem de verbas federais, lembra.
Mais poder
Mas isso não quer dizer que o partido vai tornar a vida fácil para o Palácio do Planalto. Segundo os especialistas, com um governo mais frágil, o PMDB viu a chance de aumentar sua influência na política brasileira, e não deve abrir mão disso.
O PMDB percebe que há um vácuo de poder e tenta melhorar sua posição fazendo críticas veladas à presidente. É um partido que sabe muito bem jogar o jogo do presidencialismo de coalizão, afirma Prando.
Quanto à possiblidade de uma candidatura própria do PMDB à presidência em 2018, nada está definido, dizem os especialistas. Declarações como a do governador Pezão são um balão de ensaio. Eles falam para ver como isso será recebido pela sociedade, afirma Cortez.
Prando ressalta também que dificilmente o partido arriscará ficar fora do poder no próximo mandato. Desde a redemocratização, o PMDB nunca esteve fora do poder.
Veja o vídeo veiculado pelo PMDB: