Aécio disse que o governo está parado e que nenhuma reforma estruturante chegou ao Congresso (José Cruz/ABr)
Da Redação
Publicado em 17 de julho de 2012 às 19h38.
Brasília - O período de carência da presidente Dilma Rousseff terminou nesta quarta para o pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG). Ele subiu à tribuna do Senado e fez, 15 meses após a posse da presidente Dilma, seu mais duro discurso contra o atual governo e as primeiras cobranças diretas à chefe do Executivo. Aécio disse que o governo está parado, que nenhuma reforma estruturante chegou ao Congresso e que a verdadeira herança maldita do atual governo é o retorno à década de 1950, quando o Brasil era exportador de commodities.
Ao comentar o escândalo do "recorde de ministros caídos sob grave suspeição", Aécio falou da "mão pesada do poder da Presidência, que baixou sobre cada um dos suspeitos, como se não fosse a mesma mão que antes os nomeara e os conduzira para o governo". Para Aécio, foi uma solução cômoda, para uma presidente que se comportou como se não fosse "autoridade central nos oito anos da administração anterior".
Ao mencionar o cenário econômico atual, o tucano qualificou como "desolador" e disse que o Brasil está na contramão dos países vizinhos, puxando o desempenho do continente para baixo, quando sempre liderou o processo de crescimento da América Latina. "Até o ano 2000, 60% de nossas exportações eram de manufaturados e hoje isso se inverteu e 60% do que exportamos são commodities.
Isso é o resultado de um governo de improviso, de paliativos e de falta de compromisso com as promessas de campanha", disse o senador, para quem o Brasil está parado e a única coisa que avança é a propaganda oficial. Em sua fala aos senadores, Aécio destacou que a indústria de transformação, que chegou a responder por 26% do PIB, caiu para 16%, em 2010, e para 14,6%, em 2011. "Essa, sim, é uma das mais perversas heranças que o governo do PT deixará para o futuro", declarou.
O pré-candidato tucano falou durante 15 minutos e não concedeu aparte para conseguir concluir um discurso de cinco páginas e meia. No início da sessão plenária, antes da ordem do dia, os oradores inscritos têm apenas dez minutos para discursar. Na presidência da Casa, a senadora Marta Suplicy tocou insistentemente a campainha, por cinco vezes, para lembrar Aécio que seu tempo estava esgotado. Encerrado o discurso, ela teve de ouvir os protestos do senador tucano Mário Couto (PA), que lhe cobrou o tratamento diferenciado concedido ao presidente do Senado, José Sarney. Há 20 dias, quando Sarney subiu à tribuna para fazer um discurso segurança, a presidente em exercício Marta Suplicy foi bem mais flexível, concedendo 45 minutos.
"Aqui não tem regimento. Para o Sarney ela desligou o cronômetro. O Aécio ela não deixa falar", reclamou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PB). Diante dos protestos, Marta assumiu a diferença de tratamento: "Fiz uma liberalidade com o senador Aécio, agora; e uma liberalidade com o presidente Sarney por decisão própria". Mário Couto reagiu aos gritos. "A senhora manda e desmanda, faz o que quer?", indagou Couto, ao que Jarbas completou: "É o PT que faz o que quer. Querem fazer o Senado de idiota".