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ACM Neto mantém neutralidade entre Lula e Bolsonaro e vive encruzilhada na Bahia

Na disputa pelo governo do Estado, ACM Neto, que figurava como favorito nas pesquisas, obteve 40,88% dos votos válidos e Jerônimo, apoiado por Lula

O ex-prefeito de Salvador pode até perder votos se declarar apoio a Bolsonaro (Facebook/Divulgação)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de outubro de 2022 às 11h47.

O candidato do União Brasil ao governo da Bahia, ACM Neto, que disputará o segundo turno das eleições na Bahia contra o ex-secretário da Educação Jerônimo Rodrigues (PT), decidiu se manter distante da polarização nacional entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) e não vai declarar apoio para a disputa ao Palácio do Planalto. Para analistas ouvidos pelo Estadão, o ex-prefeito de Salvador pode até perder votos se declarar apoio a Bolsonaro.

Na disputa pelo governo do Estado, ACM Neto, que figurava como favorito nas pesquisas, obteve 40,88% dos votos válidos e Jerônimo, apoiado por Lula, seu principal cabo eleitoral, surpreendeu e ficou com 49,45%, faltando pouco para a vitória em primeiro turno. O resultado foi bem diferente das pesquisas divulgadas na véspera por institutos como Ipec e Datafolha, que mostravam ACM Neto com 51% dos votos válidos.

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O ex-ministro da Cidadania de Jair Bolsonaro, João Roma declarou apoio ao ex-prefeito. Roma, que foi aliado de ACM Neto, mas hoje é seu desafeto, ficou em terceiro lugar nas urnas, com pouco mais de 738 mil votos ou 9,08% do eleitorado.

Em uma live feita pelo Instagram na terça-feira, 4, o ex-ministro justificou que o “principal adversário na Bahia e no Brasil é o PT”. Porém, “para ganhar os eleitores bolsonaristas”, na visão de analistas, o ex-prefeito de Salvador precisaria apoiar Bolsonaro.

Esse apoio, porém, pode trazer mais prejuízos do que benefícios nas urnas, uma vez que o associaria ao presidente e poderia. No primeiro turno da eleição presidencial, a diferença entre as votações de Lula e Bolsonaro na Bahia foi maior que a média nacional. O petista foi votado por 69,6% dos eleitores do Estado enquanto o candidato à reeleição teve 24,3% dos votos. Em todo o País, o placar ficou 48,43% para Lula, ante 43,2% para Bolsonaro.

“Ele não podia apoiar Bolsonaro (no primeiro turno), se não, teria menos votos. Seria um suicídio”, afirmou o cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Jorge Almeida. A mesma desvantagem ocorreria em uma associação a Roma. Para Almeida, seria “o beijo na serpente”. “Vai ficar clara a identificação com Bolsonaro”, disse.

“ACM Neto não vai procurar Bolsonaro, porque Lula teve quase 70% dos votos na Bahia. Ninguém pede voto contra Lula na Bahia. Não apoiar Bolsonaro foi pura estratégia política”, afirmou o ex-deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB), condenado por lavagem de dinheiro pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-prefeito de Salvador, portanto, continua “neutro” e não quer se associar à polarização da eleição presidencial, mesmo após Bolsonaro demonstrar interesse em uma aproximação entre os dois. O presidente afirmou se colocar “à disposição” de ACM Neto em coletiva realizada nesta semana.

Para o cientista político e professor da UFBA Cloves Oliveira, membro do conselho consultivo da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais (Abrapel), colocar-se “em cima do muro” pode ser sua única saída para ACM Neto.

“O partido dele não tem (candidato a) presidente para validar e mobilizar votos em favor, numa escala regional. Então, ele tem que se articular numa função independente, porque Lula goza de enorme prestígio na Bahia, capaz de conseguir 70% dos votos”, disse. A candidata do União Brasil à Presidência foi a senadora Soraya Thronicke, que recebeu 600.955 votos.

João Roma vê essa neutralidade como “o grande erro” de ACM Neto nessas eleições. “Não definir uma visão para o Brasil faz ele perder força, porque as pessoas buscam um líder que aponte caminhos. A eleição geral está muito mais forte e ele tentou negar e fugir disso desde o princípio, amedrontado com o cenário as pesquisas”, afirmou ao Estadão.

“Passei pelos governos de Dilma (Rousseff), (Michel) Temer e Bolsonaro e Salvador nunca teve prejuízo. Se eu tiver oportunidade de ser governador da Bahia, estarei pronto para governar com quem o Brasil escolher. O baiano quer ver o governador da Bahia construindo pontes, dialogando com o governo federal. Essa linha que vamos apresentar aos baianos, pois é a linha mais coerente”, disse ACM Neto em entrevista a uma rádio do município de Vitória da Conquista, na quarta-feira, 5.

A força PT na Bahia

Na visão do cientista político Cloves Oliveira, não acreditar nessa força de mobilização do PT no Estado também foi um dos desacertos da campanha de ACM Neto. “A reeleição dá uma vantagem muito grande ao mandatário. Desde que Jaques Wagner se elegeu, em 2006, ele tem puxado para sua base todos os políticos e lideranças influentes da região, articulando junto aos prefeitos do Estado, e o governo estadual tem sido uma força centrípeta”, afirmou.

No primeiro turno, Jerônimo teve 703.119 votos a mais que ACM Neto. Essa preferência pelo petismo também foi confirmada no Legislativo. ACM Neto não só não conseguiu eleger seu candidato ao Senado, Caca Leão (PP), como não terá maioria na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) se for eleito.

A coligação de Jerônimo conseguiu eleger 35 deputados de um total de 63 cadeiras da AL-BA, enquanto a base de ACM elegeu 24. Apesar disso, o União Brasil ganhou duas cadeiras, enquanto o PT perdeu duas. Na Câmara dos Deputados, a bancada baiana de seu partido tem um deputado federal a menos, mas os dois estão empatados se considerada toda a coligação.

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