A um ano das eleições, nem sequer se sabe quem será candidato (José Cruz/Agência Brasil)
AFP
Publicado em 5 de outubro de 2017 às 13h12.
Dizer que ninguém sabe quem irá vencer as eleições presidenciais em 2018 é um eufemismo. A um ano das eleições, nem sequer se sabe quem será candidato ou, até mesmo, se o ex-presidente Lula, favorito nas pesquisas de intenção de voto, será preso.
A disputa é a mais aberta em muitos anos no Brasil, que continua sentindo os efeitos dos escândalos de corrupção, da crise econômica e da forte polarização política.
O presidente Michel Temer sempre disse que não tentará se reeleger e, sendo o presidente mais impopular desde que começaram a realizar esse tipo de pesquisa no país, não deverá ter grande influência sobre o seu sucessor.
Segundo as pesquisas, o mais bem posicionado, com ampla margem em relação a seus concorrentes em potencial, é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Muito querido em seus dois mandatos, entre 2003 e 2010, o ex-presidente viu muitas de suas políticas retrocederam com as reformas conservadoras e, pior ainda, foi condenado por corrupção.
Atualmente, Lula recorre em liberdade da sentença de nove anos e meio de prisão proferida pelo juiz Sérgio Moro por receber um apartamento em troca de beneficiar ilegalmente a construtora OAS com obras na Petrobras. Caso perca, será preso, ou, no mínimo, não poderá concorrer à Presidência.
Se ganhar, ainda existem outros seis processos abertos contra ele.
Apesar de tudo, a última pesquisa do Datafolha mostrava Lula liderando a maioria dos cenários para o primeiro turno das eleições previstas para 7 de outubro de 2018, com porcentagem variando entre 35% e 36%. Ele também venceria qualquer possível segundo turno, três semanas depois.
E, na segunda posição, outra surpresa: o pré-candidato de ultradireita Jair Bolsonaro, deputado federal pelo PP-RJ.
Considerado durante muito tempo como uma figura marginal por sua admiração pela ditadura militar e por seus comentários sexistas, homofóbicos e racistas, Bolsonaro continua a sua escalada. E, segundo o Datafolha, alcançaria entre 16% e 18% dos votos no primeiro turno.
Logo atrás aparece a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, uma das grandes beneficiadas se Lula não puder concorrer.
Mas, por enquanto, a única certeza dos analistas é o mau humor dos eleitores.
O principal candidato de centro é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB.
Alckmin deveria estar em uma boa posição, mas está atrás nas pesquisas. Velho conhecido dos eleitores, derrotado por Lula em 2006, representa para muitos o sistema tradicional.
Enquanto isso, a ascensão de Bolsonaro revela a sede por um "Donald Trump à brasileira", que se apresenta como o único capaz de limpar a corrupção revelada pela Operação Lava Jato e de encaminhar a economia.
"Bolsonaro está aproveitando um profundo descontentamento do eleitorado que é pouco provável que desapareça, ainda que a economia se recupere no ano que vem", afirmam os analistas do Eurasia Group.
Outro "outsider", mas muito menos radical, seria João Dória, que ganhou relevância ao conquistar em 2016 a Prefeitura de São Paulo com surpreendente folga.
Como Bolsonaro, Dória também tem semelhanças com Trump: tem o perfil do empresário milionário de sucesso sem passado político e o gosto pelas câmeras, que foi aprofundado com sua experiência como apresentador da versão brasileira do reality-show "O Aprendiz".
O problema de Dória é que também faz parte do PSDB e, por enquanto, o candidato do partido parece ser Alckmin. Mas poderia mudar de formação e dar uma nova guinada.
Mas, para os analistas, a maior incógnita é Lula.
"Todo mundo está assustado com sua candidatura", avaliou Michael Mohallem, professor de Direito na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
Uma inabilitação de Lula abriria as portas para uma figura muito menos decisiva da esquerda como Ciro Gomes, antigo ministro de seu governo e popular ex-governador do Ceará. Estrategicamente, é um dos poucos possíveis candidatos que não foi atingido pelos escândalos da Lava Jato.
"Era um político convencional, mas não ocupou nenhum cargo durante 10 anos, por isso (a Lava Jato) não lhe atingiu. Automaticamente, como político conhecido que não foi acusado, já é um ponto forte", acrescentou Mohallem.
No entanto, a lista pode ser realmente imprevisível se o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar as candidaturas independentes, acabando com a exigência de filiação a um partido.
Isso poderia trazer "outsiders" de grande popularidade, ou realizar os desejos de muitos brasileiros que, decepcionados com a política, queriam ver o famoso juiz Moro disputando a eleição, ou, inclusive, o técnico da Seleção brasileira Tite.
"Temos muitas perguntas", resumiu Sylvio Costa, editor do site especializado Congresso em Foco. "Mas não temos respostas", concluiu.