MANAUS: parentes esperam por notícias após massacre em presídio – um trágico retrato do Brasil real / Michael Dantas/ Reuters
Da Redação
Publicado em 2 de janeiro de 2017 às 17h53.
Última atualização em 23 de junho de 2017 às 19h38.
Bastaram poucas horas da primeira segunda-feira do ano para os brasileiros serem relembrados que os problemas do país vão muito além dos corredores do Congresso. Pelo menos 60 detentos foram mortos numa guerra entre facções no maior presídio do Amazonas, que terminou com dezenas de presos decapitados. É a maior matança em unidades prisionais desde que a polícia invadiu o complexo do Carandiru, há 24 anos, em São Paulo, deixando 111 mortos.
Em Manaus, o motim no Complexo Penitenciário Anísio Jobim começou na tarde de domingo e terminou após 17 horas. A rebelião foi motivada por uma briga entre duas facções, a Família do Norte e o PCC. O complexo Anísio Jobim tem 1.224 detentos, o triplo da capacidade de 454 vagas. Em outubro, o Conselho Nacional de Justiça classificou as condições do presídio como péssimas.
“Há uma guerra silenciosa em que o Estado tem que intervir. Que guerra é essa? Narcotráfico”, afirmou em entrevista coletiva o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fortes. Para o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), a chacina é a “ponta de um iceberg” de uma guerra civil por que passa o Brasil.
A matança escancara as péssimas condições de segurança no país. Pelos números oficiais, o Brasil tem 622.000 detentos para 372.000 vagas. O país registrou em 2014 59.627 homicídios, numa média de 29 mortes para cada 100.000 habitantes, a pior do mundo. Com 3% da população global, o Brasil tem 10% dos homicídios do planeta. Vivemos um período de aumento de violência em estados como Rio e Rio Grande do Sul, combalidos pela falta de dinheiro. Enquanto isso, facções criminosas como o paulistano PCC e a Família do Norte se expandem para novos estados e países.
Na tarde desta segunda-feira, o ministro da Justiça, Alexandre de Moares, visitou Manaus. No fim do ano, o ministro chocou especialistas em segurança com um plano para reduzir homicídios que prevê erradicar a maconha na América do Sul. Também quer dificultar a progressão da pena, e investir uma fatia menor do fundo penitenciário nos presídios. Como a chacina desta segunda-feira deixou claro, o Brasil precisa, em segurança, assim como em outros campos, de mais planejamento, e de menos descaso.