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"A política é considerada um espaço masculino. Eu mesma recebo ameaças."

Para a deputada Tabata Amaral, é preciso enfrentar a baixa representatividade das mulheres na política - e, para isso, ela criou um programa de mentoria

Deputada Tabata Amaral: ela criou neste ano o movimento Vamos Juntas, de apoio às candidaturas femininas (Divulgação/Divulgação)

Deputada Tabata Amaral: ela criou neste ano o movimento Vamos Juntas, de apoio às candidaturas femininas (Divulgação/Divulgação)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 14 de novembro de 2020 às 12h55.

A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), eleita em 2018, representa uma das poucas vozes femininas na Câmara dos Deputados. Hoje, apenas 15% das cadeiras da Casa é ocupada por mulheres. Essa situação se reproduz nas Câmaras de Vereadores e nas prefeituras. Amaral resolveu arregaçar as mangas para ajudar a mudar esse quadro. A deputada criou neste ano um movimento, o Vamos Juntas, de apoio às candidaturas femininas.

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Por meio de uma seleção, 150 candidatas foram escolhidas para integrar o grupo, que proporciona mentoria gratuita com parlamentares, juristas e psicólogos. “O Congresso precisa ser um local de maior representatividade do povo brasileiro, o que inclui a participação das mulheres”, diz Amaral em entrevista à EXAME. Veja a seguir os principais trechos da conversa.

Como surgiu a ideia de apoiar a candidatura de mulheres?
A sociedade ainda é muito machista e senti na pele quanto incomoda o fato de ser mulher e jovem em um ambiente conservador como o Congresso. Se continuarmos elegendo as mesmas pessoas, nada vai mudar. Precisamos de uma renovação na política, o que vai ser conseguido com pessoas de diferentes perfis conquistando espaço no Legislativo e no Executivo.

Mesmo com a lei de cotas para mulheres, a maioria das candidatas consegue ter acesso ao fundo de financiamento partidário?
Principalmente para quem está se candidatando pela primeira vez, não é do meio político nem de família importante, isso pode ser difícil. Por isso é tão relevante elas contarem com uma rede de apoio, como a que montamos. Quando posso, eu mesma vou visitar as candidatas. Contamos também com embaixadores do movimento, pessoas como o ator Fábio Porchat, a senadora Mara Gabrilli [PSDB] e muitos outros que dão espaço para as candidatas nas mídias sociais e promovem a causa.

Que barreiras as mulheres encontram para se candidatar?
Primeiro, há uma pressão de todos os lados, porque a política é considerada um espaço masculino. Eu mesma recebo ameaças até hoje. Sei que as candidatas que apoiamos muitas vezes foram assediadas e foram vítimas de ataques sérios na internet. Algumas deixaram até de sair de casa por algum tempo. Elas só não desistiram porque têm muita garra. Um grupo de psicólogas resolveu se voluntariar e oferecer sessões de terapia para as candidatas justamente porque participar de uma campanha eleitoral, e ainda mais sendo mulher, é algo muito pesado.

Há também muitas candidatas da periferia, não?
É verdade, nunca vi tantas candidatas periféricas. Essa é a eleição da esperança. Temos mais diversidade do que nunca nas urnas neste ano. Está havendo um processo de maturidade política do povo brasileiro. Desde 2013, houve uma mobilização para uma maior participação popular na política. Nos últimos três ou quatros anos surgiram vários movimentos, como o RenovaBR, com o objetivo de possibilitar candidaturas de pessoas com diferentes perfis, que não costumavam concorrer às eleições. Agora estamos vendo os primeiros resultados.

A diversidade nas urnas é uma tendência?
Certamente. As novas regras do TSE, que facilitam o acesso de mais mulheres e negros à plataforma eleitoral, refletem uma demanda da sociedade. E mais pessoas, principalmente jovens, estão acreditando que a política pode ser um espaço honrado, em que pautas importantes são endereçadas. Isso faz toda a diferença.

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