A concessão do Pacaembu sai? Um processo de interesse nacional
Prefeitura de São Paulo tem até esta terça-feira para prestar esclarecimentos sobre o edital de concessão do estádio
Da Redação
Publicado em 12 de fevereiro de 2019 às 06h08.
Última atualização em 12 de fevereiro de 2019 às 07h03.
Após uma série de reviravoltas e impedimentos jurídicos, na última sexta-feira os envelopes com as propostas comerciais para a administração privada do estádio paulistano do Pacaembu foram abertos. Com um lance de 111 milhões de reais, o consórcio Patrimônio SP levou o edital e poderá comandar o espaço por até 35 anos.
Ontem, entretanto, uma decisão judicial suspendeu a licitação e deu até esta terça-feira, 12, para a prefeitura prestar esclarecimentos sobre a proposta vencedora.Embora a decisão não anule o recebimento dos envelopes com propostas comerciais nem o direito de concessão ao consórcio vencedor, formado pela empresa de engenharia Progen e pelo fundo de investimentos Savona, o parecer dajuíza Maria Gabriella Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública, pediu esclarecimentos e determinou “a imediata suspensão da licitação até posterior deliberação”.
A prefeitura de São Paulo tem até hoje para prestar os esclarecimentos requeridos, assim podendo dar continuidade à concessão. Essa decisão atende parcialmente a ação judicial proposta pela associação de moradores do bairro onde fica o estádio, a Viva Pacaembu. A entidade questionava seis pontos do edital e conseguiu uma liminar contestando as regras de uso do solo do terreno.
Antes da abertura dos envelopes na última sexta-feira, o processo de concessão estava suspenso desde agosto do ano passado, pois eram questionados alguns pontos, como a propriedade do estádio, que é municipal porém foi construído em um terreno do governo do estado; a existência de decisões judiciais contestando autorização para shows e detalhes da verticalização na área.
Caso a concessão seja autorizada pela justiça, o Consórcio vencedor deve investir 400 milhões de reais em reformas e modernização do Pacaembu. A patrimônio SP poderá, ainda, administrar o estádio por até 35 anos antes de devolver seu controle à prefeitura de São Paulo.
Como a fachada e as arquibancadas do estádio são tombadas pela prefeitura, elas não poderão ser alteradas, mas a área de lazer do complexo, onde ficam piscinas e um toboágua, poderá ser demolida para a construção de prédios administrativos, restaurantes, hotéis etc. Ainda está de pé uma liminar que proíbe a realização de shows no local.
A concessão do Pacaembu à iniciativa privada é um dos pontos mais importantes do plano municipal de desestatização acordado entre o prefeito Bruno Covas e o Governador João Doria, ambos do PSDB. A meta é que 55 espaços que hoje estão sob a administração pública sejam passados para a administração privada.
Ontem, a prefeitura fez seu segundo movimento: concedeu o mercado de Santo Amaro por 1,3 milhão de reais ao ano a um consórcio que terá como principal missão reformar o espaço, atingido por um incêndio em 2017. A lentidão e as dificuldades para tirar as concessões do papel é um lembrete para prefeitos, governadores e para o governo federal de que, por trás das mágicas promessas de desonerar os cofres públicos com a iniciativa privada, há um Brasil real que se impõe. Neste sentido, a concessão do Pacaembu interessa para além de São Paulo.