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80% do Nordeste sob ameaça de zika teve alerta de Aedes

Municípios estavam em situação de alerta ou risco pela infestação do mosquito Aedes aegypti em janeiro e fevereiro, dois meses antes do pico de incidência das doenças transmitidas pelo inseto.

Mosquitos da dengue (Aedes aegypti) (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Mosquitos da dengue (Aedes aegypti) (Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr)

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Da Redação

Publicado em 20 de dezembro de 2015 às 15h52.

São Paulo - Quase 80% dos municípios do Nordeste com casos notificados de microcefalia associados ao zika vírus já estavam em situação de alerta ou risco pela infestação do mosquito Aedes aegypti em janeiro e fevereiro, dois meses antes do pico de incidência das doenças transmitidas pelo inseto. Com base em dados do Ministério da Saúde e das Secretarias de Saúde dos nove Estados nordestinos, que concentram 90% dos casos da má-formação, o jornal O Estado de S.Paulo analisou quantas dessas cidades já apresentavam, no início do ano, índices preocupantes de presença de larvas nos imóveis.

A taxa é medida por meio do Levantamento Rápido de Índices para Aedes aegypti (LIRAa), feito por agentes municipais e que tem como objetivo alertar as prefeituras para intensificar as ações de prevenção contra epidemia. De acordo com os critérios do ministério, se menos de 1% dos imóveis visitados no município tiver larvas, a situação é satisfatória. Se ultrapassar, a cidade é colocada em estado de alerta. Quando a taxa fica acima dos 4%, a situação é de risco para surto.

O levantamento da reportagem mostra que, das 445 cidades nordestinas com casos de microcefalia, 316 fizeram o LIRAa no início do ano. Dessas, 248, ou 78,4%, estavam em situação de alerta ou de risco. Embora naquela época não houvesse relato da circulação do zika vírus em território brasileiro, o combate aos criadouros do mosquito serviria como prevenção.

Para Edimilson Migowski, professor de infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as prefeituras deveriam ter se baseado nos resultados do LIRAa para planejar ações mais efetivas de combate ao mosquito. "É um instrumento prático e bastante sensível porque mostra a realidade dos imóveis. Se ele fosse melhor usado, minimizaria sofrimento e mortes", diz ele.

Diretor de relações institucionais do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e titular da pasta do Recife, Jailson Correia afirma que a maior dificuldade das cidades é a limitação orçamentária para ações extras de prevenção. "Os municípios já usam, em média, 22% do orçamento em ações de saúde, muito além do previsto na Constituição, que é 15%. É lógico que, numa situação de risco aumentado, precisaríamos de fontes de financiamento para adotarmos medidas além da rotina."

Seca

Os governos estaduais dizem que repassam insumos, recursos e orientações para as prefeituras, mas apontam a seca e o consequente armazenamento de água sem proteção como um dos grandes entraves. "Na Paraíba, 198 dos 223 municípios entraram em situação de emergência por causa da seca neste ano. O abastecimento é feito por carros-pipa e as pessoas têm de guardar a água em algum lugar. Geralmente, o recipiente fica desprotegido, se tornando um potencial criadouro", diz Geraldo Moreira de Menezes, gerente operacional da vigilância ambiental da Secretaria da Saúde da Paraíba.

O armazenamento de água e a falta de saneamento colaboram para agravar a situação do município de Camaragibe, na região metropolitana do Recife. No início do ano, a cidade tinha 9,9% dos imóveis com larvas. Até a última semana, já acumulava 19 registros de microcefalia. "Aqui passamos até dois meses sem água. Com isso, ficamos armazenando", conta o morador João Francisco, de 68 anos.

Ele diz que a prefeitura dificilmente vem visitar os moradores para orientar sobre como armazenar água e limpar galerias. "Nós é que temos de dar um agrado a um ou outro para limpar os reservatórios. A última vez que vieram nem sequer colocaram o pó (larvicida) na água", diz ele. Procurada, a prefeitura não comentou.

As Secretarias da Saúde de Pernambuco, Alagoas, Maranhão, Ceará e Bahia dizem desenvolver ações de monitoramento em parceria com os municípios e enviar agentes para ações nas localidades com maior risco. Afirmam ainda fornecer insumos como larvicida e inseticida e fazer campanhas informativas sobre o mosquito.

Os governos de Piauí, Sergipe e Rio Grande do Norte não comentaram. Já o Ministério da Saúde afirma que mantém um programa permanente de combate ao vetor, dando apoio a Estados e municípios. Segundo o órgão, o valor repassado só às prefeituras para ações de vigilância em saúde aumentou 28,8% nos últimos cinco anos. (colaborou Anderson Bandeira, especial para AE) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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